Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Comentários sobre o livro “O homem que amava a China”

8 de janeiro de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , , , , , ,

Não poderia deixar de me apaixonar por este livro e que ele se tornasse uma inspiração. É a história do bioquímico inglês Joseph Needham, e sobre o seu quest pela verdade e pelo conhecimento.

Excêntrico e curioso, aberto a todas as novidades, Needham era um pesquisador fanático; eclético, tinha uma ampla gama de interesses e era um workaholic inveterado; teve o amparo da religião desde jovem, era sensível às críticas; não fugia das chances que o destino oferecia, fazendo as coisas acontecerem, com ousadia e arrojo. Era “inteligente, culto, intrépido”, “pensava grande”; “as pessoas ficavam ansiosas para ajudar, apoiar e cercar de cuidados a Needham”: seu carisma atraía a simpatia de quem quer que o conhecesse.

Galante e sedutor, Needham atraía também as mulheres. Casado com a brilhante bioquímica Dorothy Moyle, manteve um relacionamento extra-marital durante longos cinqüenta anos com a chinesa Lu Gwei-djen, também bioquímica reconhecidamente brilhante; foi ela quem apresentou a China a Needham, por cuja cultura, civilização, história e povo, ele se apaixonaria para sempre.

Como pesquisador, ativista ou enviado especial do governo inglês, Needham viajou por todos os continentes, mas foi através da China, pelo seu vasto interior, que ele realizou a grande pesquisa da sua vida que o tornaria um grande conhecedor daquele país. Não sem razão, preconizava um futuro grandioso para a China.

O livro nos dá substância para avaliar e entender a atração que muitos sentem pela China, como Needham. Além disso, nos faz compreender porque a China caminha hoje para ser a segunda potência mundial.

Encantei-me também com Lu Gwei-djen, mulher forte e determinada: saindo de uma China ainda mergulhada no ostracismo, onde os valores deviam ser tão mais rígidos para uma mulher, ela se propôs encarar uma cultura e sociedade tão divergente da sua, e foi parar no meio da elite científico-intelectual de nada menos do que de… Cambridge, conquistando com bravura o seu lugar ao sol.

Comoveu-me sua coragem de assumir um romance “proibido” na Inglaterra de entre-guerras, ainda muito moralista, preconceituosa, hermética, mesmo em Cambridge, onde se reuniam figuras fora dos padrões normais. Ainda que tenha sido talvez um amor platônico-intelectual, ainda que os dois estivessem inseridos num contexto acadêmico liberal de esquerda, e ainda que a moral taoista-confucionista, na qual ela crescera, não possa ser entendida no mesmo nível que a moral cristã – ainda assim, não teria ela sofrido muito, sob forte desaprovação, preconceito, discriminação?

Mulher à frente do seu tempo, Gwei-djen também não fugia das chances que o destino lhe reservava, e fazia as coisas acontecerem. Gostaria tanto de tê-la conhecido, poder compreender, quem sabe, “essa estranha força magnética” que atrai irremediavelmente um ser para o outro – como ela anotou nos seus apontamentos – e que perduraria imorredoura por mais de 50 anos…



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