Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Mudanças na China

3 de fevereiro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: , , ,

Se existe um arguto observador na China, localizado numa posição estratégica para observar as mudanças que estão ocorrendo naquele país, é o jornalista Raul Juste Lores, da Folha de S. Paulo, correspondente sediado em Beijing. Os artigos que ele tem enviado são preciosos. Trocando idéias com ele, Lores informa que há mudanças substanciais quando comparado com a época de Mao e até do Jiang.

Era possível notar que o atual governo “endureceu” em muitos aspectos, como um movimento pendular quando comparado com o que foi inspirado por Deng, apesar de contar com muitos avanços em determinadas áreas.

Houve uma sucessão de dirigentes que, reagindo aos acontecimentos durante a Revolução Cultural que fez estragos profundos na China, procuraram ampliar cuidadosamente algumas liberdades, principalmente a econômica e a comercial, com a generalização dos mecanismos de mercado, que já existiam limitadamente na época de Mao, como para os produtores agrícolas. Paradoxalmente, mesmo no final do longo período dele, as mulheres chegaram a ocupar importantes posições político-administrativas, o que hoje não mais acontece.

Quem pensou que a intervenção governamental na área empresarial tinha cessado com a abertura para o exterior, pode teve uma decepção. O fato concreto é que, mesmo neste período, tudo ocorria pela ação das estatais, que eram grandes aglomerados de atividades, fortemente envolvidas com a administração pública. Ninguém conseguia nada se não tivesse ligações com setores do governo, o que induzia à corrupção.

Mesmo os investidores estrangeiros sabiam que as regras governamentais não eram claras, e a segurança jurídica como imaginada no Ocidente não existia. Quando o desenvolvimento da região litorânea se acelerou, muitos estrangeiros foram induzidos a se instalar no interior, dada as diferenças regionais que se acentuaram, como as entre as rendas entre chineses.

O que os dirigentes chineses mais se preocupam é com a fragmentação, como a que ocorreu na antiga URSS. Isto aumenta a restrição à liberdade de expressão, mas ela é um anseio incontrolável que acompanha a melhoria do padrão econômico. Já relatei neste site que na longa história chinesa o “povo” tende a ser anarquista, no sentido de ser contra o governo, sendo que o comunismo só vigorou cerca de 50 anos. Diziam que os governantes saqueavam o povo promovendo guerras, ou cobrando impostos. Mesmo com restrições como com relação a Google, são milhares de meios os utilizados pelos dissidentes para expressarem suas contrariedades políticas para o exterior.

O que me surpreende é a redução do poder feminino. Ou será que elas estão “manipulando” os homens, como sempre fez a maioria das asiáticas, deixando somente a aparência de que estes “machões” é que comandam as coisas fundamentais desta sociedade? De qualquer forma, o conhecimento que elas estão acumulando com dedicados estudos, tanto na própria China quanto no exterior, acredito, vai acabar prevalecendo, num novo movimento pendular.



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