Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

China From Inside: Videos da BBC

25 de março de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Livros e Filmes | Tags: , , , ,

A China Vista de Dentro. São cinco documentários incisivos que retratam a China atual, um deles relatando as mudanças do papel da mulher na China moderna.

Ela vive ainda hoje sob a pressão do homem, da família e do trabalho, senão da própria pressão delas mesmas: para estudar, ter uma carreira, casar por amor – processo que tem sido lento e penoso. Como custa muito caro, a educação é privilégio para filho homem: a filha precisa trabalhar ou no campo ou em fábrica, para ajudar na ida do irmão para a universidade, pois o sucesso do filho homem significa ascensão também para a família, já que a filha, ao se casar, vai pertencer à família do marido. No campo, negocia-se a noiva como se negocia a compra de um cavalo.

xinran

Mesmo que venham a se casar por amor, os jovens casais deixam os filhos pequenos (no máximo dois por casal) no campo, com os avôs quando conseguem trabalho nas cidades, e só voltam uma vez por ano no feriado do ano novo chinês. Milhares de chineses se locomovem pelo país nos feriados, atropelando-se nos trens lotados. No resto do ano, muitas vezes cada um mora em seu local de trabalho, longe um do outro, se encontrando uma vez por semana. São os migrant workers, o equivalente ao dekassegui do Japão, que sai do campo para trabalhos temporários nas cidades.

A vida das mulheres no campo é dolorosa. Depois do ano novo, as vilas mudam de cara: é território praticamente feminino, e de meia-idade. Homens e jovens partem para as cidades e pólos industriais que crescem a cada dia. A elas cabe ganhar o sustento da terra para o cuidado de crianças, idosos e doentes.

As mulheres jovens anseiam estudar para sair do campo, mas escolas são raras e tudo opera contra elas. Por causa da insegurança financeira e da desesperança, o índice de suicídio feminino tem aumentado para 150 mil por ano. Aliada à política do filho único (homem), que leva à tentação do infanticídio de meninas, há uma previsão de que no ano 2020 haverá um déficit de 14 milhões de mulheres na China. E elas ainda vivem sob constante ameaça de tráfico de mulheres, prostituição e violência sexual.

São dezenas e dezenas de relatos angustiantes, que agora são ratificados pela escritora Xinran (“As Boas Mulheres da China”), na entrevista de domingo, 14 de março último, no caderno de resenha semanal de O Estado de S.Paulo, a propósito de um novo livro a ser lançado. A política de Mao e do Partido Comunista deu grande impulso para as mulheres se tornarem independentes do homem e de ascenderem socialmente através da educação, mas somente no âmbito urbano e em condições privilegiadas. As mulheres do campo continuaram dolorosamente oprimidas.

Xinran acredita que os problemas enfrentados pela multidão de mulheres do campo na China sejam também a rotina das mulheres de outros países, inclusive do Brasil, país que ela visitou em 2009, por ocasião da Feira Literária Internacional de Paraty.

Ela é a voz que clama pela liberação verdadeira das mulheres, especialmente as da China. Esperamos que não esteja clamando sozinha no deserto.



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