Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Sobre Concubinas e Favoritas

26 de março de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , , , , , , , ,

Observação do responsável pelo site: este depoimento foi elaborado para o Dia das Mulheres e, por falha técnica, não foi publicado na ocasião.

Concubinatos, ou esposas secundárias, ou amantes, foram tradições recorrentes, como fatos institucionalizados, nas cortes e aristocracias de todas as civilizações ao longo da História, do Extremo Oriente, passando pelo Oriente Médio, à Europa Central: nas mil e uma noites da Arábia, na austera Albion dos Tudors, no Sacro Império Romano-Germânico dos Habsburgos, na esplendorosa corte da França dos Valois e dos Bourbons. Séculos XIV – XVIII.

No Japão, há a dramática história de Tokiwa Gozen, de decantada beleza, esposa de Minamoto no Yoshitomo. Após o assassinato deste pelo rival Taira no Kiyomori, para salvar a pele e a dos três filhos (um deles, Yoshitsune), se sujeita à sedução do arquirrival do morto, tornando-se sua concubina. Este episódio daria continuidade a outros eventos interligados que iriam mudar a história do Japão, culminando na lendária batalha de Danno-ura: sob a liderança adversária e carismática de Minamoto no Yoshitsune (na juventude conhecido como Ushiwaka-maru, imbatível nas artes marciais), os Taira (Clã Heike) são dizimados, ascendem os Minamoto (Clã Guenji): começa a era dos bakufu (xogunato), samurais no poder. Século XII.

Num país onde nunca houvera um sistema legal eficiente e onde a justiça era arbitrária, um funcionário era a lei. Fazer do filho um funcionário, um mandarim, era o objetivo de um pai pobre que almejasse subir socialmente nos dias incertos do fim do império manchu, dinastia Qing, China. Ou se a filha fosse uma beldade com atrativos capazes de fascinar um potentado que a tomasse por sua concubina. Muitas meninas eram, então, educadas e preparadas para serem dadas a um poderoso senhor em troca de favores e dádivas generosas, ao redor dos 14, 15 anos. Até lá, aprendiam a ler e escrever (inusitado para uma menina na época), a tocar algum instrumento musical, a jogar jogos de estratégia (go, mah-jong), a se vestir e maquiar com esmero e cuidar para que os pés não crescessem além de 7,5 cm.

Amante institucionalizada, adquirida e descartada à vontade, a concubina era prisioneira do potentado, vivendo em permanente estado de insegurança. A única segurança era o favor do amo. Mesmo sendo a favorita, em caso da morte deste, a esposa-viúva podia fazer o que bem entendesse dela: vendê-la a um rico, ou mesmo a um bordel, o que era mais comum. Se tivesse filhos, ficariam como propriedades da viúva. Poderia ainda ser lhe concedido um supremo privilégio: cometer suicídio e ser enterrada ao lado do amo. Para afugentar o tédio, a solidão e a saudade da família, as jovens concubinas eram incentivadas a fumar ópio e se viciar, e a organizar frequentes festas de mah-jong, uma maneira de mantê-las satisfeitas, ocupadas e alienadas: dopadas e dependentes, quando solicitadas, estariam inteiramente disponíveis para o amo. Fins do século XIX.

Hoje, o mundo corporativo conhece palavras como assédio moral, assédio sexual, harassment, bullying. A democratização global liberou as mulheres da opressão e sujeição. É mesmo? Conta a lenda que um poderoso dignitário seduzia e sujeitava estagiárias dentro do Palácio, episódio que quase abalou as estruturas de um Império. Numa democracia ocidental do Novo Mundo. Fins do século XX.



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