Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Nanjing, Capital do Sul

27 de maio de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , ,

Encruzilhada para aventureiros e descobridores, poetas e artistas, imperadores e revolucionários, Nanjing foi desde sempre o berço da cultura chinesa, aclamada como um das cidades mais bonitas da Terra.

Para o jornalista John Pomfret (Caminhos da China), Nanjing é o lugar “aonde os chineses tradicionalmente iam para lamber suas feridas”, em alusão às muitas vezes em que a cidade acolheu imperadores e súditos fugindo de bárbaros e invasores que saqueavam o Norte do país. Foi assim nos tempos medievais: capital de seis dinastias, quando tribos nômades vindos por trás da Muralha ocuparam o país.

Já no século XIV, Nanjing teve seus tempos áureos quando a Dinastia Ming ali edificou a capital (1368-1421). Hongwu, o primeiro imperador dessa dinastia, ergueu suntuoso palácio protegido por monumentais muralhas. Das muralhas, 70% ainda permanecem. Do palácio, ruínas lembram sua majestade.

Durante o reinado do terceiro imperador Ming, Yong le (1402-1424), a China conheceu a época dourada da navegação exploratória e comercial. Ao mesmo tempo em que realizava expedições militares para o Norte, contra os mongóis, Yong le ordenou ao almirante Zheng He, de origem muçulmana, que organizasse expedições navais pelas rotas de comércio dos Mares do Sul da China. Zheng He estabeleceu o que se chamaria Rota da Seda Marítima: entre 1403 e 1419, suas expedições contornaram a Índia e atingiram a costa oriental da África. Há indícios de que suas expedições, de cunho bastante diplomático, tenham explorado o litoral Atlântico (Gavin Menzies, 1421, conforme citado por Paulo Yokota, post de 16/05/2010).

A Capital do Sul tornou-se ativo e movimentado porto comercial. Seus estaleiros construíram centenas de embarcações de grande envergadura – com capacidade estimada em até três mil toneladas (John King Fairbank / Merle Goldman, China, a New History Harvard University Press).

Visando manter melhor controle sobre os mongóis que insistiam em invadir pelo Norte e porque era um ponto estratégico, Yong le decide mudar a capital para Beijing. Para tanto, ele projetou a cidade imperial em torno da Cidade Proibida, gigantesco complexo palaciano construído conforme modelo do palácio imperial de Nanjing. Inaugurada a nova capital em 1421, Yong le se empenhou então em fortalecer a proteção a Beijing, reformando e ampliando as Grandes Muralhas. Em 1911, Nanjing voltaria mais uma vez a ser capital, quando foi proclamada a República da China, sendo Sun Yatsen seu presidente provisório.

Graves episódios, porém, silenciariam dolorosamente a milenar cidade. Primeiro, o Massacre de Nanquim, perpetrado pelo exército da ocupação japonesa durante a II Guerra (1937), que deixou milhares de mortos. Depois, os excessos da Guarda Vermelha provocaram insana destruição durante os anos da Revolução Cultural de Mao (1960-1970). Para os comunistas, Nanjing era apenas a capital do velho regime nacionalista que havia se retirado para Taiwan após 1949. Assim, durante anos a cidade ficaria relegada em estado de abandono à própria dor.

O desenvolvimento industrial na área do delta do Rio Yangtsé, a partir dos anos 70, modificaria toda a paisagem da região. Em 1968, o governo terminou a construção da colossal ponte de dois andares sobre o Rio, um projeto abandonado pelos soviéticos. Outras pontes viriam mais tarde. Nos anos 90, todo o centro foi remodelado, dando lugar à cintilante e moderna cidade de hoje. Muito de suas construções históricas, recuperadas, estão preservadas. Entre elas, a tumba do navegador Zheng He, em estilo islâmico, com a inscrição “Grandioso Alá”, em árabe, e o Fuzi Miao, Templo de Confúcio, edificado em 1034.

Nanjing, definitivamente, não é mais o lugar aonde os chineses vão se refugiar “para lamber suas feridas”. Hoje é aonde as pessoas vão para evocar o passado, celebrar o presente e buscar inspiração para o futuro.



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