Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Arte, Liberdade e Censura na Nova China

23 de agosto de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: , ,

A Folha de S.Paulo, no seu suplemento Ilustríssima de domingo, dia 22 de agosto, publicou um interessante artigo de Fabiano Maisonnave com o título “Uma nova China? Arte, liberdade e censura”. Em se tratando de arte, sempre haverá controvérsias, como muito bem colocado no artigo, com algumas manifestações de satisfação pelo início da abertura das autoridades chinesas, como das críticas por que ela não é completa, sendo somente um acontecimento limitado.

Na realidade, no chamado distrito 798 de Beijing, alguns artistas que se manifestam rebeldes com os pontos de vista oficiais obtiveram um pequeno espaço onde podem apresentar seus trabalhos. Obras que seriam chocantes para o grande público chinês, que ainda conta com muitos admiradores das orientações impostas na era Mao, e poucos na Revolução Cultural, são expostas sem oposição aberta das autoridades. Pela descrição do artigo, até obras que ridicularizam Mao são apresentadas, o que em qualquer hipótese significa uma abertura.

Evidentemente, os artistas desejam conquistar uma liberdade total, e o artigo refere-se à instalação de um grupo deles em outra localidade, que está sendo destruída para novas edificações. É difícil de avaliar, por enquanto, se trata-se de uma ação deliberada das autoridades contra esta autonomia. Mas que há no ar um crescente clima de uma incontrolável marcha por liberdades adicionais até os mais céticos podem admitir. Que existem intolerâncias, não há dúvidas, sendo que alguns aspectos continuam sendo considerados intocáveis na China, que continua tendo um só partido político.

Mas é fácil constatar que sobreviveram correntes de pensamento que não se ajustavam aos cânones dos que dominavam o poder em cada momento histórico chinês. Não fosse isto, a abertura que hoje se observa, começando pela economia e estendendo-se pelos mais variados setores de pensamento, não se processaria. Na medida em que numa gigantesca sociedade complexa, com tradições milenares, etnias e culturas diferenciadas, línguas diferentes, vai se desenvolvendo, abrindo-se para o exterior, não há como evitar formas diferentes de pensar.

A arte sempre foi precursora destes movimentos ao longo da história da humanidade, e isto é universal. Está se processando na China, ainda que algumas autoridades tentem controlá-la. Como os meios de comunicação com o exterior são infinitos, não há como coibir formas de manifestação que não se enquadrem na orientação oficial, que acabará sendo flexibilizada.

Quem imaginar que todas as autoridades são obtusas, pode se enganar. Há que se admitir que elas sejam suficientemente pragmáticas e que dentro da sociedade chinesa existem muitos que pensam diferentes do que se imagina no ocidente. Pessoalmente, penso que Mao foi um horror, mas existem muitas mulheres cultas na China que continuam o admirando, pois elas conquistaram avanços durante o seu comando, que não tinham antes do seu aparecimento.



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