Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Indústria Naval Brasileira

16 de agosto de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Tecnologia | Tags: , ,

O jornal Valor Econômico acaba de divulgar o seu Valor Setorial cobrindo o panorama atual da Indústria Naval no Brasil, que passa por um momento de grandes investimentos. Ainda que este estudo seja tardio, ele é útil, mas poderia cobrir em sua análise um período mais longo, pois se trata de um setor onde os investimentos são de longa maturação. A evolução dos últimos 10 anos mostra a expansão do número de empregados, mas se for tomado um período mais longo, pode-se lamentar que este nível já tinha sido atingido há décadas, e se trata somente de uma tardia recuperação.

O Brasil já contou com a maior indústria de construção naval do mundo, no início da década dos anos 80 do século passado, lançando mais navios que o Japão e a Coreia, cerca de um milhão de DWT anuais, tendo uma capacidade nominal para o seu dobro. Estamos hoje defasados tecnologicamente e para a exploração do pré-sal necessitamos aumentar o percentual de importação, pois esta atual indústria naval não tem condições ainda de sequer montar as nossas necessidades atuais, importando tudo que é relevante nestas embarcações. Um pouco mais de espírito crítico ajudaria a proporcionar um quadro mais realístico da nossa situação.

Os erros que foram cometidos no passado devem ser apontados, como a insuficiência do Fundo de Marinha Mercante, bem como os critérios de correção monetária numa época de inflação galopante. Com a falta de uma visão de longo prazo, passamos a importar navios de grande porte dos nossos concorrentes, como a Coreia com a sua produção em Cingapura, por exemplo.

Os volumes das necessidades brasileiras, com a exploração no pré-sal, voltam a atrair investimentos substanciais neste setor, que lamentavelmente ainda não conta com capacidade tecnológica, ainda que muitos investimentos tenham sido efetuados nas plataformas implantadas em águas não tão profundas. Com o aumento da produção nacional de petróleo, deixamos de necessitar de grandes petroleiros, que também eram utilizados para a exportação de minérios, os famosos “ore-oil” que chegaram à dimensão de 400.000 DWT cada, produzidos no Brasil. Os que desejarem um relato mais completo desta história podem consultar “Fragmentos sobre as relações Nipo-Brasileiras no pós-guerra”, publicado pela Topbooks em 1997, sob a nossa coordenação. O capítulo IV, baseado no depoimento de Katsunori Yamamoto, que foi da Usiminas e da Ishibrás, trata especificamente deste assunto.

O desenvolvimento tecnológico depende diretamente dos investimentos que são efetuados em cada setor de infraestrutura. Quando o Brasil construiu Itaipu, estava com a melhor tecnologia mundial de usinas hidroelétricas de grande porte, pois veio implementando outras grandes, como Ilha Solteira e Jupiá. Como passamos a encomendar navios e plataformas no exterior por muitos anos, a nossa construção naval carece hoje de engenharia para enfrentar os desafios do pré-sal.

Antes tarde do que nunca. Mas necessitamos de uma visão de prazo mais longo, pois estas indústrias maturam em prazos superiores há 10 anos, mesmo com a velocidade atual.



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