Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Quinquilharias Nakano, de Hiromi Kawakami

2 de agosto de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Livros e Filmes | Tags: , ,

A_loja_Nakano_db.inddOs bons jovens escritores japoneses recebem prêmios que levam os nomes de escritores famosos. Hiromi Kawakami já recebeu os Akutagawa (1966) e Tanizaki (2001) e é bem aceita pelos leitores japoneses. A Editora Estação Liberdade publicou este ano a tradução do japonês feita por Jefferson José Teixeira. Um livro agradável que permite conhecer uma parte de Tóquio e alguns dos seus habitantes, personagens deste “Quinquilharias Nakano”.

Todas as cidades que se prezam têm seus “mercados de pulga”, sempre atrativos, pois é possível adquirir uma peça interessante por um preço razoável. Não são antiguidades, pois nos antiquários os preços são naturalmente elevados. Em Tóquio, encontram-se estas lojas espalhadas, diferindo de cidades como Londres, onde há bairros onde elas se concentram. Ou Paris ou Nova Iorque, onde as feiras são atrações para um bom fim de semana. Em Tóquio também existem feiras de quinquilharias em determinados dias, onde é comum se encontrar quimonos usados, velhos, mas não antigos.

O que se constata é que o conceito de antigo é relativo. Num país como o Brasil, o que é do século XIX já pode ser considerado antiguidade. Na Europa, precisa ser mais antigo, talvez do século XV. E na Ásia vai se considerar velho o que é do século XIX ou XX. Nestes estabelecimentos que comercializam estes produtos, das mais variadas procedências, é a pesquisa com paciência que vai permitir a descoberta de objetos interessantes, por preços razoáveis.

Neste livro, Hiromi Kawakami descreve os personagens singulares que giram em torno destes estabelecimentos, com toda a sua humanidade, paixões, frustrações, alegrias, e até o cotidiano rotineiro. Nada muito dramático, “pós-moderno” para alguns, nem tanto para outros.

Não é a Tóquio de Ginza, Aoyama, Shibuya ou Akihabara, da que anda a velocidade dos metrôs. Mas quase suburbana, onde as pessoas se conhecem, tanto por frequentarem os mesmos bancos, pequenos restaurantes, docerias e bares. Onde ainda se caminha à noite.

Os turistas e estrangeiros costumam conhecer a Tóquio de intensa vida noturna. A que Hiromi Kawakami apresenta é uma relação que se estabelece com anos de convívio, e mesmo que o local onde eles trabalham mude, ela continua a existir. A solidão parece ser universal, mas a introspecção dos japoneses, sua comunicação mais difícil, parece uma particularidade, o que é ressaltada pela autora de forma natural, sem nenhum artifício.

Pode parecer a alguns monótono, mas parece ser o das pessoas comuns, que não se destacam na multidão.



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