Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

A Questão do Câmbio Chinês

15 de setembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Integração | Tags: ,

Num interessante artigo publicado no Valor Econômico, o professor Dani Rodrik, da Universidade de Harvard, mostra que a valorização do câmbio chinês, reclamado por muitos, não é uma unanimidade. Os países desenvolvidos, como muitos emergentes, entendem que esta mudança é indispensável para equilibrar o comércio mundial, pois as exportações chinesas inundam muitos países, enquanto as suas importações continuam contidas, dificultando a recuperação da economia de muitos países.

O autor coloca, no entanto, que muitos países menos desenvolvidos dependem das exportações de matérias-primas para a China, que teria o seu ritmo de desenvolvimento reduzido, como vem ocorrendo com os minérios brasileiros e produtos agropecuários como a soja. O que Dani Rodrik coloca é que estas exportações são temporárias e que estes países necessitam promover a sua diversificação, com uma política industrial que lhes permitiria um desenvolvimento mais sustentável.

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Trabalhador da construção civil em uma rua no distrito de negócios de Shenzhen na China. Foto de Bobby Yip / Reuters

O principal interessado na valorização do câmbio chinês são os Estados Unidos, sendo que o seu governo vem sendo pressionado para uma ação mais vigorosa junto às autoridades chinesas. O mesmo acontece com o Japão, que continua transferindo parte de suas atividades industriais para aquele país vizinho, pois os custos nipônicos não permitem a competição. No entanto, todos continuam cautelosos com medidas de retaliação, pois continuam interessados no grande mercado chinês, que mantém a expansão do seu mercado interno. Ao mesmo tempo, muitas das suas empresas produzem na China para abastecer parte do seu mercado interno, beneficiando-se dos salários ainda baixos, mas que começam a se elevar.

Países como os da África continuam contando com investimentos chineses em grandes volumes, para assegurar o abastecimento de matérias-primas que a China necessita, tanto de minérios como fontes de energia como o petróleo. Ainda encontram-se em estágios iniciais de desenvolvimento, não contando com maiores possibilidades de industrialização.

Os países emergentes como o Brasil e a Índia já contam com uma estrutura produtiva mais complexa, necessitando adicionar valor às suas matérias-primas, com uma política industrial mais inteligente, com horizonte mais largo. Não podem continuar a exportar matérias-primas, importar equipamentos (como navios) e suprir os seus déficits potenciais de comércio com financiamentos externos, que são muito sensíveis e podem faltar a qualquer momento.

O equilíbrio de todo este sistema mundial exige uma ação coletiva e os Estados Unidos não contam com a hegemonia do passado para impor medidas como foram adotadas no Acordo de Plaza. Os chineses continuarão a defender os seus interesses com afinco, mas certamente acabarão cedendo para medidas paulatinas, pois não podem confrontar continuamente o resto do mundo, ainda que tenham se tornados poderosos.



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