Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

“Fordlândia”, de Greg Grandin, Rio de Janeiro, Rocco, 2010

6 de setembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Livros e Filmes | Tags: , , , | 6 Comentários »

Fordlândia Um interessante e documentado livro foi publicado por Greg Grandin, um professor de história da Universidade de Nova Iorque, em 2009, e foi traduzido para o português por Nivaldo Montingelli Jr. para a Editora Rocco, que o lançou no Rio de Janeiro neste ano. Tem o subtítulo de “Ascensão e Queda da Cidade Esquecida de Henry Ford na Selva”.

O gigantesco fracasso de um projeto de um milhão de hectares, próximo a Santarém no Estado do Pará, que consumiu muitos milhões de dólares, era uma utopia daquele grande entrepreneur para criar uma nova sociedade na Amazônia, corrigindo os defeitos da que se consolidava nos Estados Unidos. A maior floresta tropical do mundo continua atraindo aventureiros que não foram dissuadidos pelas suas dificuldades, como se repetiu mais recentemente em Jari por Daniel K. Ludwig, outro grande empresário.

Quem teve a oportunidade de conhecer estes projetos “in loco” se dá conta da paixão que move estes entrepreneurs, fascinados pela floresta amazônica. Um desafio para muitos exploradores como o britânico Percy Fawcett, que lá desapareceu, o norte-americano Theodore Roosevelt, ou o prussiano Alexander von Humboldt. Eles deixaram suas lições, mas muitos não aceitam os cuidados exigidos pela Amazônia, e imaginam poder superar os gigantescos desafios existentes.

O experiente autor Greg Grandin fez uma exaustiva pesquisa sobre as documentações disponíveis nos Estados Unidos, bem como nas ruínas ainda existentes na Fordlândia. Consultou alguns descendentes de sobreviventes, sempre na qualidade de um historiador norte-americano. Nos seus agradecimentos, fica claro que suas fontes foram, basicamente, os seus compatrícios e colegas, carecendo de uma avaliação ou paralelos mais brasileiros.

Estes exemplos mostram que os grandes entrepreneurs não aceitam as cautelas recomendadas de estudos prévios mais profundos ou conselhos dados por aqueles que recomendam os cuidados usuais. Podem inovar, mas também estão sujeitos a estrondosos fracassos. Somente os que já tiveram responsabilidade sobre um milhão de hectares se dão conta da sua dimensão, com as dificuldades agravadas pelo pouco conhecimento desta imensa floresta amazônica. Ela apresenta uma diversidade não imaginada, diferindo substancialmente de uma área para outra.

É preciso entender que os que se dispõem a implementar projetos desta natureza possuem propensões para aventuras, e os pioneiros não aceitam planos feitos nas pranchetas. Até agora, todas as experiências provaram que em matéria de empreendimentos agroflorestais, as questões variam com as dimensões. Uma coisa é fazer algo em 100 hectares, outra em 1.000 e totalmente diferente em um milhão. Grandes dimensões geram condições para pragas não conhecidas, como a que acabou liquidando Fordlândia.

Em Jari se comprovou que uma espécie vegetal trazida da África rendia melhor quando plantada dentro da própria floresta, do que em terrenos desmatados. Como acontece com as seringueiras, as castanheiras, ou com os cacaueiros. E que as variedades adaptadas e sobreviventes nas florestas são diferentes nas diversas regiões.

Não há dúvidas que se aprendem com os fracassos também, como as enxertias, as combinações de partes de plantas que apresentam maiores vantagens em algumas delas. Hoje, a biogenética apresenta novos horizontes que estão sendo amplamente utilizados nas pesquisas.

Sempre é recomendável utilizar o conselho: quando não se sabe tudo, faça-o devagar. Já existem experiências de explorações racionais e sustentáveis na Amazônia, mas é preciso apreender também que as atividades agropecuárias exigem a presença direta dos proprietários e que a sua dinâmica nem sempre é recomendável para grupos internacionais que possuem elevada capacidade econômico-financeira, mas não contam com flexibilidade para manobras rápidas.

Na agrofloresta, nem sempre funcionam os processos que ficaram conhecidos na indústria como o fordismo.


6 Comentários para ““Fordlândia”, de Greg Grandin, Rio de Janeiro, Rocco, 2010”

  1. F. Hirota
    1  escreveu às 23:01 em 6 de setembro de 2010:

    O que a análise nao diz, não sei se por educação ou por estar fora de escopo, é que uma componente forte da Fordlândia é incapacidade americana de entender o mundo que, ao meu ver, permeiou todo o projeto.

    Talvez o exemplo mais famoso disso esteja em "Quiet American" do Graham Greene.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 07:54 em 7 de setembro de 2010:

    Caro F. Hirota,

    Obrigado pelo comentário. Os trechos curtos como o deste site não permitem um aprofundamento de todas as razões, mas vou voltar ao assunto na análise de outros grandes projetos na Amazônia, que são complicados até mesmo para os brasileiros, quanto mais para os americanos que não estudaram adequadamente, imaginando que projetos da natureza pudessem ser realizados à distância. Mas Henry Ford teve dificuldades em outros projetos, até nos Estados Unidos.

    Paulo Yokota

  3. Gil Serique
    3  escreveu às 16:35 em 12 de setembro de 2011:

    Excelente livro que tive o privilegio de contribuir, assim como O ladrao no fim do mundo de Joe Jackson que acabou de ser lancado pela Objetiva.

    Um abraco

    gil

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 19:28 em 12 de setembro de 2011:

    Caro Gil Serique,

    Obrigado pelo comentário. Não conheço o segundo livro citado. Qual seria a sua função?

    Paulo Yokota

  5. Thiego Breno F. Riker
    5  escreveu às 23:24 em 5 de outubro de 2011:

    Olá

    Sou descendente de David Bowman Riker (meu trisavo) de Charleston, Carolina Do Sul, onde nasceu em 1861. Ele era filho de Robert Henry Riker, uma nativo de Savannah, Georgia, nasceu em 1824. Com o termino da Gurerra de Secessão ele emigrou com sua família para Santarém, Pará, isso ocorreu em 1867. Ele foi um dos pioneiros do plantio racional de serigueiras na Amzônia, em um tempo que a extração do latex eram realizados dentro da floresta. Depois de sua morte, os filhos Herbert e David Riker, realizaram um vasto plantio nas terras do Maica e Dimantino. Isso é documentado em um antigo jornal de Londres.

    David e citado por Greg Grandin. O livro que foi citado por Serique, fala de Henry Wickham, um inglês, mui conhecido internacionalmente, depois de levar 70.000 mil sementes de seringueiras da vila de Boim, nas próximidades de Santarém.

    David B. Riker, que frequentou a casa dos Wickham em Santarém, é citado nos dois livros.

  6. Paulo Yokota
    6  escreveu às 20:59 em 6 de outubro de 2011:

    Caro Thiego Breno F. Riker,

    Obrigado pelos comentários.

    Paulo Yokota


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