Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

“Guenji Monogatari”, por Akihiko Niimi

9 de setembro de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Livros e Filmes | Tags: , , ,

Genji Monogatari – Contos de Genji, escrito por volta do ano 1000, é considerado o romance mais antigo do mundo. Conta os amores do belo e sedutor príncipe Hikaru Genji e, depois da sua morte, a busca afetiva de outro príncipe, Kaoru, que Genji pensava ser seu filho. São 54 capítulos com profusão de personagens que fascinam e intrigam. Códigos de ética e estética se norteiam por preceitos como mono-no-aware, mujôkan – que falam da apreciação patética da fugacidade e da ilusão efêmera das coisas, como beleza ou prazeres físicos da vida. O escritor Yasunari Kawabata o considerava “o ápice da literatura japonesa”.

Devido à dificuldade de sua compreensão, escrito em linguagem da corte de séculos atrás, fizeram-se adaptações, edições comentadas, e mesmo traduções completas para o japonês moderno, como a feita pelo escritor Jun-ichiro Tanizaki (1941). Há inúmeras traduções e adaptações nas mais diversas línguas. A história tem sido muito ilustrada por diferentes meios, e São Paulo acaba de ter a rica oportunidade de conferir, através de palestra, ilustrada com projeção de pinturas, desenhos e mangás, do professor Akihiko Niimi, de Literatura Clássica da Notre Dame Seishin University, da província de Okayama. Com ênfase na obra de Murasaki Shikibu, e doutor em Literatura pela Universidade de Waseda, o professor Niimi está no Brasil a convite da Universidade de São Paulo e sob os auspícios da Fundação Japão-SP.

Ilustração do cap. 20, atribuída a Tosa Mitsuoki (1617-1691)

A era denominada Heian (paz e tranquilidade) é o período histórico e artístico que durou de 794, ano em que a corte do imperador Kammu foi transferida para Heian-kyô (atual Quioto), até 1185, quando se estabeleceu o xogunato em Kamakura. Considerada a era clássica japonesa, Heian é o período da cultura aristocrática. Assimilada a influência cultural chinesa nos longos séculos precedentes, cessaram-se então os contatos oficiais com a China. Sob a proteção do poderoso clã Fujiwara, se desenvolve uma brilhante cultura japonesa própria. Começam a aparecer novos estilos de pintura, escultura e arquitetura. O uso do silabário fonético kana se expande cada vez mais, permitindo certa “popularização” da arte das letras e da literatura, antes restritas apenas aos iniciados nos rígidos ideogramas chineses. Escrever diários e poemas (tanka, waka) se tornam atividades correntes entre as damas da corte.

Murasaki Shikibu, a quem é atribuída à autoria de Genji Monogatari, era dama de companhia da imperatriz Fujiwara no Akiko (988-1074), segunda esposa de Ichijô Tennô, 66º imperador japonês (980-1011), igualmente filho de uma Fujiwara. O clã tinha conseguido preponderante influência junto à corte atuando como regente, e casando suas filhas com príncipes e imperadores da Era Heian. Criara-se assim um ambiente propício a alianças e conchavos, intrigas e traições. Ao mesmo tempo, a luxuosa vida da corte em Heian-kyô valorizava o galanteio, a busca estética, a manutenção meticulosa de protocolos, rituais e lendas passadas. O romance traz implicações psicológicas profundas, através da observação escrupulosa da ociosa vida da corte feita pela autora.

As histórias de Genji eram lidas através de pinturas e desenhos. As damas, ou preceptoras da corte, liam os textos, enquanto as crianças seguiam os desenhos. Ao longo dos tempos foram criadas inúmeras pinturas sobre a obra, cada período produzindo estilo próprio. Mas sempre com um padrão que seguia rigorosamente o original. No período Edo, surgem as xilogravuras com desenhos conhecidos como ukiyo-ê: a facilidade da tiragem de cópias barateou os desenhos, e gente do povo, como comerciantes, puderam adquirir desenhos das histórias de Genji, antes restritos à aristocracia.

Atualmente, há diversas versões de Genji Monogatari na forma de mangás e livros didáticos, contribuindo para que mais pessoas, jovens e crianças, principalmente, se familiarizem com a obra. A evolução dos mangás é muito rápida, e se há o lado positivo da disseminação dos contos de Genji, há também a possibilidade de se desvirtuarem, e se afastarem do padrão original. Para o professor Niimi, no Japão há certa expectativa hoje em dia sobre todas essas tendências atuais, que apontam um futuro interessante e impreciso tanto para os desenhos como para os mangás que retratam as lendas de Genji.



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