Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

A Censura na China

24 de outubro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: , ,

A Folha de S.Paulo, no seu suplemento Ilustríssima, traz uma coluna do jornalista Fabiano Maisonnave com o seu Diário de Pequim, centrado na lamentável censura que existe naquele país sobre a manifestação pública de alguns assuntos que as autoridades chinesas tratam, ainda que sejam possíveis, privadamente. O artigo relata os percalços, por exemplo, do ícone chinês Han Han, que aos 28 anos é um escritor best-seller, cantor, editor de revista, piloto de corridas e sex simbol, para tratar do censurado assunto da premiação Nobel para o dissidente político Liu Xiaobo no seu site muito acessado.

Para marcar criativamente o assunto, ele postou: “ ”, que foi entendido por muitos comentaristas, quase 17.000, com um “entendido”, “concordo” ou “bel” e outras formas de comunicação burlando a censura quando seu site usa Prêmio Nobel ou Liu Xiaobo. Quando estive recentemente em Xangai para visitar a Expo 2010, notei que o meu lap-top sofria pequenas interferências quando usava a internet, possivelmente com a censura.

internet copy

O fato concreto, por mais que haja esforços de controle das autoridades chinesas, milhares de sites chineses transmitem mensagens para o exterior, tendo como alvo os que estudam aquele país, transmitindo posições dissidentes das oficiais. Tive uma discussão com um importante jornalista brasileiro que considera a China sem um grande futuro, por causa desta restrição ao trabalho livre da imprensa. Tenho o ponto de vista de que maiores liberdades serão inexoráveis na China, com a melhoria do padrão de vida, pois os seres humanos acabam as aspirando e as conquistando, mesmo com as tentativas restritivas das atuais autoridades.

O que parece não poder se esperar é o modelo de democracia decorrente das revoluções americana e francesa, pois os asiáticos sofrem forte influência dos ensinamentos de Confúcio, onde nem todos são iguais, os professores sendo mais considerados que os alunos, os pais mais que os filhos, os idosos mais que os jovens, resultando em sociedades hierarquizadas.

Qual é a mais adequada parece ser opção de cada povo, dentro do seu contexto histórico e cultural. Mesmo no Ocidente, fico com a impressão que não existe tanta igualdade quanto o desejado, pois acaba havendo uma diferenciação lamentável pelo poder econômico, mesmo que haja tentativas de evitar o seu exagero.

Acho que na China continua existindo alguma liberdade de pensamento, ainda que menor que a desejada. Não fora isto, correntes como a de Deng Xaoping não teriam sobrevivido à Revolução Cultural, e políticos como Xi Jinping não teriam a perspectiva de chegar ao poder máximo. Ainda que a transparência não seja a desejável.

De outro lado, países que consideramos modelos de democracia, como os Estados Unidos, continuam com seus líderes não sendo responsabilizados por crimes internacionais como os cometidos em Guantánamo, Iraque ou Afeganistão, que mereciam ser julgados no Tribunal de Haia.

Lamentavelmente, somos seres humanos, com todas as suas limitações e defeitos, e precisamos aprender a conviver com os que pensam diferentes de nós.



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