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À Espera do Tempo: Filmando com Kurosawa

1 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Livros e Filmes | Tags: , , , | 1 Comentário »

Livro de Teruyo Nogami, Cosacnaify, 2010, Mostra Internacional de Cinema, São Paulo, tradução de Diogo Kaupatez da versão em inglês, original em japonês publicado em 2001 pela Bungei Shunju

livro Esta primorosa edição, lançada recentemente no Instituto Tomie Ohtake na presença pessoal desta autora de mais de 80 anos, vem com a contracapa com duas indicações de peso, uma de Martin Scorsese e outra de Francis Ford Coppola, recomendando sua leitura. Ela é considerada obrigatória para entender o trabalho de Akira Kurosawa, com quem Teruya Nogami trabalhou cerca de 50 anos.

Teruya Nogami não aparenta a idade que tem, e um dia depois de sua chegada do longínquo Japão estava na inauguração da exposição dos storyboards de Akira Kurosawa em São Paulo, saudando os presentes com uma voz vigorosa, conversando com muitos convidados de forma muito simpática, com toda a modéstia de uma verdadeira japonesa de refinada formação. Só aturar Akira Kurosawa, um reconhecido cineasta de temperamento difícil, por mais de 50 anos já é uma proeza, e ainda mais por ser a única que conta com grande reconhecimento explícito daquele mestre.

Teruyo Nogami relata o início de sua carreira que começou quando adolescente ao corresponder por carta com o diretor Mansaku Itami, já famoso, mas doente, que respondeu a uma que ela mandou. Ela o considera o seu primeiro mestre. Numa linguagem elegante, com muita simplicidade, o livro vem ilustrado por muitos simpáticos desenhos dela retratando cenas dos bastidores de filmagens, ao lado de inúmeros haikais. Tinha acumulado algumas experiências nos estúdios da Daiei Kyoto, que era uma das gigantescas companhias cinematográficas japonesas do pós-guerra.

Retrata a chegada do já conhecido diretor Akira Kurosawa nos estúdios da Daiei, com toda a sua excentricidade. Recorda, com a ajuda de outros companheiros, do primeiro grande sucesso internacional daquele cineasta, considerado o mestre dos mestres, com todas as inovações que ele introduziu na filmagem e produção de filmes que tornaram a cinematografia japonesa conhecida no mundo. Sem nenhuma dúvida, o início de tudo foi Rashomon, recebido inicialmente com frieza pela crítica japonesa, mas que acabou sendo assistido por Stramigioli, da Italiafilm.

Rashomon foi inscrito no 12º Festival de Cinema de Veneza pelo italiano, onde recebeu o Grande Prêmio em 1951. Segundo a autora, todos os jornais japoneses registraram o acontecimento com grande alegria. Por exemplo: “Veneza… O filme japonês Rashomon (Daiei, direção de Akira Kurosawa)…foi laureado no dia 10 com o Grande Prêmio… e o ex-primeiro-ministro inglês Winston Churchill, em viagem de férias, compareceu ao festival e proferiu muitos elogios ao filme… Yukan Mainichi”.

Num trecho do livro, ela descreve que o beijo já era filmado na época no Japão, mas o hoje muito conhecido ator Toshiro Mifune tinha que dar uma na já famosa Kyo Machiko. Ele deixou de comer alho no dia anterior, perfumou bem a boca e ainda pediu desculpas a ela antes da cena que se tornou famosa em Rashomon, onde o ângulo para a captação da expressão da atriz era importante.

Todos os detalhes da filmagem, como as esperas da luz natural, as brincadeiras das equipes de filmagem, a velocidade dos atores e das tomadas, as inovações no uso do filme positivo, bem como os cuidadosos enquadramentos do mestre Akira Kurosawa estão descritos, não só de Rashomon como de outras obras-primas.

Em outros tópicos, aproveitaremos descrições de outros filmes.


Um comentário para “À Espera do Tempo: Filmando com Kurosawa”

  1. Jojoscope - Conexão Brasil-Japão
    1  escreveu às 09:26 em 2 de novembro de 2010:

    […] quatro importantes inserções, que são dignas de serem conferidas e apreciadas. Uma delas é uma resenha do livro “À Espera do Tempo: Filmando com Akira Kurosawa”, escrito pela sua produtora […]


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