Saga de Náufrago Japonês é “Best-Seller” Americano
21 de janeiro de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos, Notícias | Tags: “Heart of a Samurai” de Margi Preus - Amulet Books - Nova York – 2010. | 2 Comentários »
A incrível história de menino pescador japonês que naufragou nas costas da Província de Kochi, Ilha de Shikoku, em 1841, e foi parar nos EUA, é best-seller americano de literatura juvenil, informa a NHK. O barco em que Manjiro, de 14 anos, estava com mais quatro pescadores soçobrou, e eles conseguiram chegar a uma pequena ilha no Oceano Pacífico. Resgatados por baleeiro americano, Manjiro foi levado pelo capitão até New Bedford, Massachusetts; os outros preferiram ficar em ilha do Havaí. Apesar de nunca ter tido escolarização formal, Manjiro impressionava pela inteligência e vontade de aprender, principalmente matemática, navegação e língua inglesa. O Capitão William Whitfield, que não tinha filhos, o adota cativado pela retidão de caráter e tenacidade do menino. Manjiro recebe o nome de John Mung, frequenta a escola de Fairhaven, Mass., onde foi morar com a família do Capitão.
Atraída pela singular epopéia, Margi Preus fez pesquisas na Nova Inglaterra e no Japão, no vilarejo natal de Manjiro, Nakanohama. Ela foca a história em como Manjiro conquistou sólidas amizades e respeito com seu caráter franco e confiante, apesar dos pesados preconceitos, revezes e desencontros culturais que sofreu. Professora de literatura em Duluth, estado de Minnesota, Preus escreveu o livro desejando que seus alunos se inspirassem na coragem de Manjiro e na sua capacidade de aceitar críticas e se envolver com as pessoas. Ela se declara preocupada com o crescente número de crianças americanas que encontram dificuldades para estabelecer relacionamentos, e tem viajado pelo estado divulgando o livro para que mais jovens conheçam a edificante história.
Aprendendo a navegar com o baleeiro do pai adotivo, Manjiro fez muitas viagens à caça de baleias cachalotes, que forneciam óleo e espermacete, então usado para fazer velas. Na mesma época, ao redor de 1840, outro jovem, americano de 17 anos, partia de New Bedford em baleeiros, compilando experiências e dados que mais tarde comporia em inúmeros livros; o mais notável deles, publicado em 1851, Moby Dick, faria de Herman Melville (1819-1891) consagrado escritor.
Com dinheiro amealhado no baleeiro, e ainda escavando ouro nas minas da Califórnia em 1849, Manjiro consegue regressar ao Japão em 1851. Mas em tempos do Shogunato Tokugawa, era um país bastante hermético: quem chegava do exterior, mesmo que náufrago, era preso e investigado. Afinal solto, pelo conhecimento que tinha dos EUA e pela fluência em inglês, Manjiro foi chamado para ensinar em escolas, e ser intérprete. Mais tarde serviu ao shogunato quando da estada do almirante Perry no Japão, e ciceroneou o fundador da futura Universidade Keio, Yukichi Fukuzawa (1835-1901), na primeira missão diplomática aos EUA. Elevado a status de samurai, recebeu o sobrenome Nakahama, de seu vilarejo.
John Manjiro Nakahama (1827-1898) testemunhou mudanças na história dos Estados Unidos, quando movimentos abolicionistas traziam ventos da liberdade nos anos 1850, e um ex-lenhador, combativo deputado, surgia de Springfield, Illinois, para se tornar o 16º presidente americano, em 1860. Ventos democráticos também sopravam pelo Japão, e Manjiro, após sua volta, conviveria, influenciando com suas idéias liberais de igualdade social, com gente de vanguarda como o citado Yukichi Fukuzawa, e o líder samurai e seu conterrâneo de Kochi, Sakamoto Ryoma (1836-1867) – precursores da modernização Meiji, 1868. Ironia do destino, Lincoln seria assassinado em 1865, e Ryoma, em 1867, ambos por fanáticos políticos.
No Cabo Ashizuri, em Tosa Shimizu, vizinha a Nakanohama, uma estátua de Manjiro contempla o Oceano Pacífico, próxima ao Museu John Mung que concentra documentos, fotos e itens relacionados à Manjiro, Capitão Whitifield, e a Fairhaven e New Bedford, cidades-irmãs de Tosa Shimizu. Um bisneto de Manjiro, Hiroshi Nakahama, 75 anos, declara que, em sua opinião, entre todos os feitos, a maior contribuição que Manjiro trouxe dos Estados Unidos foi o conceito cristão que, ele acredita, não existia no Japão feudal: na vida cotidiana Manjiro seguia fielmente o mandamento “amarás ao teu próximo como a ti mesmo”, ajudando pessoas necessitadas sem esperar retornos. Exatamente como o Capitão Whitfield fizera com ele, pobre náufrago encontrado sem eira nem beira numa ilhota perdida.
Caro Paulo,
Esse livro deve ser realmente muito interessante. Saberia me dizer se existe (mesmo em inglês) em alguma livraria aqui no Brasil?
Grande abraços e bom 2011.
Frank Honjo
Caro Frank Honjo,
Pode ser que exista em alguma livraria, mas para mim tem sido mais fácil usar alguma organização como a Amazon, que os enviam estes livros num tempo razoável.
Paulo Yokota