Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

O Drama do Desenvolvimento da Índia

2 de fevereiro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura | Tags: , , | 11 Comentários »

Todo o processo de desenvolvimento é doloroso, havendo acadêmicos que o descrevem como um lamentável processo de destruição criativa. Akash Kapur é certamente um sensível jornalista com a melhor formação em Oxford, que se lembra de sua infância na Índia, sobre a qual veio escrevendo com regularidade no prestigioso International Herald Tribune sobre as mudanças que lá se processam. Ele toma emprestada a expressão usada por Joan Robinson de Cambridge, “qualquer coisa que você disser corretamente sobre a Índia, o oposto também é verdadeiro” (Whatever you can rightly say about India, the opposite is also true).

Seu artigo de despedida de sua coluna escrita da Índia saiu no The New York Times. Reflete muito bem toda a contradição que é o processo de desenvolvimento por que passa aquele país. Ele entende que seus artigos foram ambíguos. Desde o primeiro que escreveu sobre o idílico meio rural em que foi criado, que não mais existe.

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Segundo o autor, o novo mundo que está emergindo é em muitos sentidos um lugar maravilhoso. Mas em outros, é uma depredação ambiental, coercitiva sobre a vida intelectual e cultural da Índia. A moderna realidade indiana é ela mesma profundamente confusa, misturando o bom e o mal.

O autor acha que muitas vezes é uma distinção do macro e do micro. No geral, nacional, o desenvolvimento indiano recente é fenomenal, dos mais elevados do mundo. Mas no nível micro, nas vilas existem muita pobreza e sofrimento, contradizendo as narrativas felizes e brilhantes. O grande quadro é para celebração, mas existe o risco de se perder os detalhes.

Alguns problemas são herdados do passado, mas também alguns novos são decorrentes do modelo atualmente utilizado, podendo se questionar se são sustentáveis. Ele vê as populações que estão sendo afetadas pelos projetos que modificam a costa, com a construção de novos portos, projetos de infraestrutura.

O autor entende que existem problemas ecológicos vistos no geral, mas que os que vivem o dia a dia sofrem a proliferação de sacos plásticos. Para ele, parece que existe, mais profundamente, uma disputa acirrada nas últimas décadas com a China em andamento, destruindo o que séculos e milênios de civilização deixaram ao longo da história.

Ele acha a disputa inevitável, mas levanta a questão se não existem formas para preservar o que existe de bom no velho também. Parece-lhe que hoje se coloca a criatividade ou a destruição, mas acha que a contraditória complexidade da Índia é o abraçar da nação em toda a sua ambivalência, ambiguidade e mesmo confusão.

Fica-se com a impressão que todo o processo de desenvolvimento, mais dramaticamente no mundo emergente, em qualquer parte do mundo, envolve todos estes aspectos dramáticos colocados por Akash Kapur.


11 Comentários para “O Drama do Desenvolvimento da Índia”

  1. Marcela Magalhães
    1  escreveu às 00:52 em 21 de junho de 2011:

    Não só esses problemas apresenta a Ìndia mas também o sistema de castas, que impedem o desenvolvimento do país entre outros fatores.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 03:44 em 22 de junho de 2011:

    Cara Marcela Magalhães,

    Obrigado pelo comentário. Apesar dos problemas existentes na Índia há que se lembrar que a economia daquele país vem crescendo, nos últimos 15 anos, a uma taxa média de 8% ao ano, muito acima do Brasil. Sua classe média é cerca de 10 vezes a brasileira, e eles contam com uma elite formada em universidades como Oxford e Cambridge, respeitável.

    Paulo Yokota

  3. leila
    3  escreveu às 14:26 em 23 de junho de 2011:

    Ola, gostaria de contar com um resumo sobre a China e Índia, sobre os seus desenvolvimentos…
    Agradeço

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 02:08 em 24 de junho de 2011:

    Cara Leila, obrigado por utilizar o nosso site.
    A China é um pais com cerca de 1,4 bilhão de habitantes, que vem crescendo mais de 10 % ao ano nas últimas décadas, devendo ultrapassar os Estados Unidos nas próximas décadas, para se tornar a maior do mundo, apesar de contar com muitos pobres, pois sua distribuição de renda é ruim, enfrenta problemas de poluição, inflação e população idosa. Mas vem melhorando muito a sua educação e pesquisa, e mesmo com uma desaceleração do seu desenvolvimento, deve continuar como a locomotiva do mundo, sendo já a maior parceira comercial de países como os Estados Unidos, Japão, Mercado Comum Europeu e o Brasil.
    A Índia também vem crescendo mais de 8% ao ano, conta com uma elite bem preparada e poderá ultrapassar a própria China nas próximas década, pois conta com mais jovens. Apesar de muitos pobres, conta com empresas como os maiores grupos siderurgicos do mundo, a Acellor-Mittal que possui até uma grande usina siderurgica no Brasil. Vai continuar melhorando muito.

    Paulo Yokota

  5. uéverton
    5  escreveu às 16:45 em 27 de agosto de 2012:

    Mmuito obrigado por ter retirado uma duvida que eu tinha.

  6. Paulo Yokota
    6  escreveu às 17:58 em 27 de agosto de 2012:

    Caro Uéverton,

    Obrigado pelo uso do site.

    Paulo Yokota

  7. uéverton
    7  escreveu às 16:46 em 27 de agosto de 2012:

    Você poderia falar sobre os tigres Asiáticos.

  8. Paulo Yokota
    8  escreveu às 18:08 em 27 de agosto de 2012:

    Caro Uéverton,

    Esta expressão, tigres asiáticos, já deixou de ser moda. Referia-se à Coreia, a Cingapura e outros países da região, que tinham uma pequena população local, e tinham que desenvolver-se com base nas suas exportações. Hoje, com o mundo globalizado, e redução do crescimento das economias desenvolvidas, depende-se mais dos mercados internos, como o que está ocorrendo na China, na Índia e outros países populosos como a Indonésia. Outros do sudeste asiático, como o Vietnã e agora Miyanmar, possuem populações de porte médio, e precisam utilizar o mercado externo como melhorar o seu mercado interno, de forma um pouco mais balanceada. Eles lutam como tigres, mas ao lado do que já aconteceu há décadas, agora dependem também do mercado interno e necessitam contar com um desenvolvimento sustentável, inclusive respeitando o meio ambiente. No mundo atual, globalizado e complexo, quando muitos dados mudam rapidamente, está se procurando aproveitar da chamada “nova economia”, que apresenta flutuações, havendo necessidade de uma política econômica muito pragmática, não havendo um “modêlo” a ser perseguido.
    Cada caso acabou virando um caso particular, respeitadas as características próprias, tirando o melhor partido das condições que dispõem.

    Paulo Yokota

  9. Taís Carvalho
    9  escreveu às 22:02 em 9 de janeiro de 2013:

    Muito obrigada por esclarecer as minhas dúvidas sobre a Índia e sua economia.
    Levando em conta as definições de desenvolvimento a Índia é considerada um País desenvolvido?

  10. Paulo Yokota
    10  escreveu às 16:56 em 11 de janeiro de 2013:

    Cara Tais Carvalho,

    Obrigado pelo seu interesse. Infelizmente, pelo nível de renda per capita a Índia ainda é considerada um país em desenvolvimento, emergente.

    Paulo Yokota

  11. Milton Maciel
    11  escreveu às 11:13 em 31 de dezembro de 2013:

    Olá Sr. Paulo, quero agradecer pela atenção. Quero aproveitar e pedir que comente sobre a participação da India no BRICS. Desde já agradeço.


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