Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Preocupações dos que Retornam do Exterior

18 de abril de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia | Tags: , , | 2 Comentários »

É inegável que muitos brasileiros que residiam e trabalhavam no exterior, formal ou informalmente, estão retornando ao Brasil pelas razões mais variadas. Tanto nos Estados Unidos como na Europa, a recuperação da crise de 2008 se dá num ritmo lento, e o mercado de trabalho ainda apresenta um elevado nível de desemprego, afetando até os que trabalham informalmente. No Japão, a reconstrução iniciada ainda vai demorar meses, ao mesmo tempo em que os consumidores japoneses estão reduzindo suas compras, fazendo com que muitos tenham dificuldades de emprego, além de sofrerem o impacto emocional provocado pelos constantes abalos, racionamento de energia e notícias sobre as radiações.

No Brasil, o nível de emprego se manteve alto mesmo neste começo de 2011, havendo certa transferência da indústria para os serviços, inclusive atividades relacionadas com o agrobusiness. Existe uma perspectiva de aumento do emprego na construção civil, ainda que o pico de demanda dos imóveis residenciais e para escritórios já tenha passado. As obras para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas devem estimular o emprego, não só direto, como os indiretos criados pelos materiais que vão ser utilizados. A deteriorada infraestrutura brasileira está programada para sofrer reconstruções dentro do chamado PAC – Plano de Aceleração do Desenvolvimento. Os setores públicos, nos níveis estaduais e municipais, continuam aumentando o emprego.

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Ex-dekassegui de volta. Foto: Roberto Setton / Veja. Construção civil ainda em alta. Mecanização na agricultura exige mão de obra qualificada

Quais as dificuldades de adaptações destes brasileiros que trabalhavam no exterior para os empregos no Brasil? Evidentemente, os mais expressivos são os salários, pois eles ganhavam no exterior em moedas fortes, nos empregos que estão desaparecendo, com o iene japonês ou euro europeu. Nos Estados Unidos, ainda que a recuperação do emprego ainda esteja lenta, muitos exerciam trabalhos informais nas tarefas domésticas, sem nenhum encargo trabalhista.

Tudo é agravado pelos pesados encargos trabalhistas atuais no Brasil, sem a contrapartida de serviços do governo. O líquido recebido pelos assalariados fica bem reduzido, o que é notado pelos que chegam do exterior.

Mas o problema principal é o do câmbio. Aqueles que estavam acostumados a ganhar em ienes, euros ou dólar norte-americano, se continuarem pensando nestas moedas, sentirão que estarão ganhando bem menos no Brasil, ainda que existam empregos. Algumas empresas estrangeiras que estão ampliando ou instalando suas unidades no Brasil necessitam da qualificação dos trabalhadores que tiveram experiência no exterior, principalmente se estão habilitados nas línguas estrangeiras. No entanto, os salários que pagam no Brasil são em reais, ainda que o custo de vida local seja mais baixo que no exterior, como regra geral.

Para os que estão acostumados a ser remunerados na moeda brasileira, está havendo um ganho real nos últimos anos, e esta moeda está extremamente valorizada, começando a dificultar a competição com muitos países como a China e os do Sudeste Asiático. O emprego industrial nestes setores não deve crescer ainda por um bom tempo, e a expansão está ocorrendo na área dos serviços.

Existem indústrias que produzem produtos para a nova classe média brasileira, cuja demanda está crescendo rapidamente. De forma geral, as famílias que estavam classificadas como pertencentes às classes D e F passaram a C, melhorando a qualidade de suas vidas.

Existem outras adaptações difíceis das famílias vindas do exterior, como a escola das crianças, passando novamente para o sistema brasileiro. As aquisições de novas residências também se tornaram custosas, principalmente quando necessitam ser aparelhadas com eletrodomésticos, que costumam custar mais que no exterior. Se tiverem como se ajustar com os familiares que ficaram no Brasil, pode ficar um pouco mais fácil.

É extremamente importante que eventuais poupanças que tragam do exterior sejam aplicadas com a máxima cautela, pois apesar dos juros pagos serem mais elevados há uma inflação mais alta. Usar o financiamento no Brasil é um suicídio, pois os juros a serem pagos são astronômicos.

Muitas outras cautelas são necessárias, fazendo com que a nova adaptação não seja nada fácil. Existem algumas organizações que, voluntariamente, procuram ajudar neste processo, mas não se pode ignorar estas e outras dificuldades. Os brasileiros que tiveram a coragem de ir trabalhar no exterior são uns bravos, dedicados e certamente superarão as dificuldades momentâneas, como já fizeram no passado.

Mas precisam estar conscientes que as adaptações por qual precisam passar são difíceis, exigindo paciência e uma dedicação para reconstrução de suas vidas. Existem muitas oportunidades, e o Brasil informa que os receberão de braços abertos, mas o seu futuro depende acima de tudo deles mesmos e de seus familiares.


2 Comentários para “Preocupações dos que Retornam do Exterior”

  1. Hiky
    1  escreveu às 15:55 em 18 de abril de 2011:

    Paulo,

    Apesar da falta de mão de obra especializada no Brasil que todos dizem, conheço muita gente experiente, acima dos 40 anos, que não conseguem emprego, apesar da experiência em grandes empresas…

    Existe discriminação com esse tipo de mão de obra ?

    Eu sou um caso típico, pois tenho 42 anos e não consigo emprego, tenho larga experiência internacional e nacional na área de T.I., mas está difícil arrumar algo aqui…

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 19:17 em 18 de abril de 2011:

    Caro Hiky,

    Em algumas áreas onde a tecnologia muda rapidamente há uma preferência pelos jovens que costumam ter uma agilidade maior.
    Os mais experientes encontram alguns espaços em áreas onde a maturidade é um fator relevante. Tenho muitos colegas que conseguiram passar em concursos públicos para cargos com boa remuneração depois dos 60 anos. Muitos conseguem atividades de assessoria ou com as remunerações dependendo dos resultados. Acho que com 42 anos e com experiência nacional e internacional, V. é um jovem. Se V. procurar algumas empresas de “head hunter” certamente encontrará colocações se os resultados que já obteve são bons.
    Matenha-se atualizado, pois na sua área as inovações são constantes, sendo necessário concorrer com os indianos, por exemplo. Mas a ampliação do uso de T.I. é promissor, notadamente no o uso de banda larga de alta definição. O Brasil está se atrasando em alguns setores e há necessidade urgente de aceleração, usando tecnologias novas e de baixo custo. Já ví a Ásia, há mais de 20 anos passados, muitas coisas que ainda não estão em uso no Brasil.

    Paulo Yokota

    Paulo Yokota


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