Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Ainda a Questão dos Juros no Brasil

6 de setembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , , | 2 Comentários »

Como registra hoje o professor Antonio Delfim Netto na sua coluna semanal sempre brilhante no Valor Econômico, a reação de muitos analistas à redução de 0,50% na taxa Selic decidida pelo Copom do Banco Central do Brasil parece estar influenciado pelo fígado e não pelo cérebro. Muitos críticos procuram confundir as coisas, para preservarem seus pontos de vista que eram pela manutenção da taxa, ainda que o mundo esteja em desaceleração, com menos pressões inflacionárias. A economia brasileira com a sua atual situação macroeconômica não tem a necessidade de continuar ser a campeã mundial dos juros, mesmo com a redução que começou a ocorrer. O ponto principal dos opositores à queda dos juros parece atribuir a decisão do Copom à pressão do Executivo, acabando com a independência do Banco Central, com o risco de provocar no sistema de metas um aumento das pressões inflacionárias.

Venho insistindo que estes analistas trabalham vendo o vidro retrovisor, analisando somente o passado, mesmo sabendo que qualquer decisão de política monetária demanda muitos meses para que tenha um impacto efetivo na economia. Muitos países estão facilitando a expansão dos meios de pagamento, mas as empresas insistem em manter seus ativos em caixa, diante da falta de confiança no crescimento da economia mundial, cujas estimativas continuam sendo revistas para baixo. Muitos insistem que os serviços estão com seus preços em alta, não reconhecendo que muitos deles deixaram mecanismos de indexação perversos como os relacionados com as tarifas de energia elétrica, comunicações e outros com indexações baseadas no passado, sem incluir uma perspectiva do que vai ocorrer no futuro. E sobre estes preços os juros têm pouco efeito.

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Banco Central do Brasil, Federal Reserve e Banco Central Europeu

A inflação é um processo de crescimento contínuo dos preços, e o que se observa é que muitos preços internacionais já passaram pelo ponto de máxima, começando a acomodar-se, ainda que se mantenha num patamar elevado. Os sinais da economia brasileira são evidentes, indicando um desaquecimento acima do desejado e mesmo os mecanismos de incentivo à continuidade do desenvolvimento não serão suficientes para preservá-lo no nível do passado, até porque depende também da demanda mundial.

O governo está se comprometendo com um superávit fiscal mais elevado, e os juros mais baixos impactam menos sobre os elevados encargos sobre a dívida pública, ajudando neste processo. Sempre existem os que defendem a redução da inflação a qualquer custo, mesmo sabendo que o seu combate visa a preservação do crescimento da economia de forma sustentável. Se houve um período que as pressões inflacionárias se observavam em todo o mundo, há evidências que esta fase já foi superada.

A política econômica é uma arte, e não se isola somente um fator, mas todo o conjunto encontra-se numa preocupante situação de desaquecimento, principalmente nas expectativas dos empresários e consumidores, nada havendo que favoreça uma inflação neste quadro. Os indicadores antecedentes estão mostrando um quadro em deterioração, com expectativas que não são brilhantes. Se o Brasil conseguir sofrer um desaquecimento menos acentuado que o resto do mundo, sem exageradas pressões inflacionárias, os atuais dirigentes, inclusive os do Banco Central, devem ser aplaudidos.

O tempo vem mostrando que os analistas ligados ao setor financeiro vêm cometendo mais erros de avaliação, principalmente quando os seus interesses estão em jogo. É o mais provável que eles continuarão ocorrendo.


2 Comentários para “Ainda a Questão dos Juros no Brasil”

  1. Ainda a Questão dos Juros no Brasil » Asia comentada | Info Brasil
    1  escreveu às 15:37 em 6 de setembro de 2011:

    […] here to see the original: Ainda a Questão dos Juros no Brasil » Asia comentada Tweet This […]

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 18:16 em 6 de setembro de 2011:

    Thanks for your mentions,

    Paulo Yokota


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