Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

As Relações Comerciais entre os Estados Unidos e a China

28 de setembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , , , | 2 Comentários »

O jornal econômico norte-americano The Wall Street Journal publicou um importante artigo de autoria de Justin Lahart sobre os estragos que as importações dos produtos chineses pelos Estados Unidos estão provocando na sua economia, como também está sendo reclamado por muitos outros países. Ele se refere a um estudo de um grupo de economistas sobre o intercâmbio comercial entre os dois países que já foi apresentado numa reunião, mas ainda não está publicado na sua versão final. Existe uma controvérsia entre economistas sobre as vantagens deste intercâmbio e suas inconveniências.

O artigo refere-se às preocupações de economistas que a importação de muitos produtos baratos da China está eliminando empregos nos Estados Unidos, como também ocorre em outros países como o Brasil. As novas pesquisas efetuadas mostram que os estragos são mais profundos do que os supostos, dado o desemprego que vem se constituindo num grave problema na economia norte-americana, dificultando a sua recuperação.

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                                                    David Autor, Gordon Hansone David Dorn

O artigo informa que a teoria das vantagens comparativas formulada pelo famoso economista inglês David Ricardo há dois séculos de que o comércio entre dois países apresenta vantagens para ambos, na medida em que cada um deles faz o que melhor pode produzir e efetua a troca dos mesmos. O artigo cita consagrados economistas como os prêmios Nobel Paul Samuelson e Michel Spence, e até o campeão do livre comércio Alan Blinder alertando que os empregos podem ser prejudicados pela importação de produtos baratos chineses. Haveria uma defasagem no tempo para que os desempregados com os produtos importados conseguissem novas atividades, e quando o desemprego tornou-se crônico como nos Estados Unidos os problemas são mais graves. Acabam implicando em elevados custos para arcar com os benefícios sociais para amparo dos desempregados.

Segundo o artigo, a pesquisa efetuada é profunda, envolvendo 722 clusters em todo os Estados Unidos, sendo que os impactos dos produtos importados da China são diferenciados por muito deles. Mostraram que os desempregados acabam reduzindo as suas demandas afetando outras produções norte-americanas. A pesquisa foi efetuada pelos economistas David Autor, da MIT, Gordon Hanson, da Universidade da Califórnia em San Diego, e por David Dorn, do Center for Monetary and Financial Studies de Madrid.

Existem vozes que avaliam que a pesquisa pinta um quadro muito negativo, como o do economista Douglas Irwin, da Dartmouth College, que afirma que ela não menciona alguns benefícios que ocorrem em outros países. Outros observam que a falta de competitividade da indústria norte-americana frente aos chineses decorre também de outros fatores, como a recessão, terceirização e falta de tecnologias adequadas em determinadas atividades.

É preciso admitir que hoje a China exporta também equipamentos, matérias-primas semielaboradas bem como outros produtos que estão sendo aproveitados pelas empresas localizadas em outros países, nesta economia que se globaliza cada vez mais. De outro lado, muitos entendem que o câmbio do yuan chinês está demasiadamente desvalorizado e existem subsídios para as produções chinesas mediante o uso de financiamentos oficiais.

A pesquisa ainda aguarda outras observações que estão sendo feitas por economistas e acadêmicos, para ser divulgada de forma mais completa. Mas permite entender parte do que está ocorrendo em todo o mundo com o ingresso de países emergentes no mercado mundial, com milhões de trabalhadores entrando no mercado, merecendo uma atenção profunda.

Eu mesmo, modestamente, escrevi um extenso artigo sobre o assunto há anos, mostrando que a entrada destes recursos humanos acabaria acentuando o desemprego no resto do mundo.


2 Comentários para “As Relações Comerciais entre os Estados Unidos e a China”

  1. Helena Alves
    1  escreveu às 19:15 em 28 de setembro de 2011:

    Paulo Yokota,

    Sou leitora há já muito tempo do seu site. Quero agradecer-lhe o serviço que presta neste espaço de seriedade, multiplicidade e especialmente a forma límpida, honesta e imparcial com que transmite o seu saber.
    Quero agradecer-lhe em suma, a maneira como contribui para um Mundo melhor com o seu excelente trabalho de divulgação.
    Hoje em dia os “mainstream” europeus limitam-se a dar “notícias” bacocas, tendenciosas e capciosas. São mais como que um difusor de ignorância do que serviços de informação.
    Mais uma vez obrigada por nos dar a conhecer o outro lado do Mundo e do Hemisfério oposto, especialmente desse grande País lusófono, que tanto me atrai, bem como a China, o Japão e outros países asiáticos, onde difícilmente conseguimos obter informação.
    Um trabalho de excelência que tenho divulgado com gosto.
    Os meus Parabéns!
    Obrigada e um abraço.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 19:51 em 28 de setembro de 2011:

    Cara Helena Alves,

    Muito obrigado pelos seus comentários. Estamos nos esforçando, modestamente, postando informações que conseguimos. Mas, sempre vale a pena acessar também algumas das fontes que indicamos e de onde conseguimos algumas delas, pois sempre somos influenciados pelas nossas próprias tendências.

    Paulo Yokota


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