Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Guerras e Atos de Terrorismo Segregam Minorias Raciais Inocentes

11 de setembro de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos, webtown | Tags: , , , , ,

Astro de primeira grandeza no Japão, Ken Watanabe (O Último Samurai, Cartas de Iwo Jima, Batman Begins, Inception) empresta seu carisma e competência para assuntos além do show biz. Sorte nossa. Engajado social e politicamente, arregimentou não só famosos japoneses, mas também celebridades de Hollywood, à frente de organizações como Kizuna 3-11 e United for Japan, de apoio e arrecadação de fundos pós 11 de março. Transitando entre Tóquio, Nova Iorque e Los Angeles, falando fluente inglês, o ator se dedica também à produção de documentários de impacto. Para marcar os seis meses do 11 de março e os 10 anos do 11 de setembro, a emissora NHK-TV está apresentando um excelente e tocante documentário produzido e conduzido por ele (www.nhk.or.jp/kenwatanabe). Com sobriedade e profundidade, Watanabe faz paralelos entre os dois acontecimentos, e de como tais fatos abalaram e repercutiram (e continuam repercutindo) no caminhar dos dois países.

Reportando-nos mais especificamente ao 11 de setembro, o documentário traça a trajetória do congressista californiano Norman Mineta, 80 anos, 2ª geração nipo-americana. Nomeado secretário do Comércio (Governo Clinton) e dos Transportes (Governo Bush) entre 2000 e 2006, foi o primeiro nipo-americano a servir no gabinete de dois presidentes, em cargos que no Brasil correspondem a de ministros.

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O ator Ken Watanabe e o congressita norte-americano Norman Mineta

Aos 10 anos de idade, Norman Mineta acompanhou os pais para confinamento como prisioneiros de guerra no campo de evacuação de Heart Mountain, estado de Wyoming (1941-1945). Imigrantes japoneses estabelecidos nos estados da Califórnia, Oregon e Washington havia mais de 40 anos, e seus descendentes, perderam todos os bens – tiveram menos de uma semana para se desfazer de tudo, arrumar trouxas sumárias e seguir, como gados em trens de evacuação, para 10 campos de detenção em inóspitas regiões no interior do oeste americano. Após o ataque japonês a Pearl Harbor, japoneses e descendentes nas Américas tornaram-se alvo de caças às bruxas, sofreram horrores de atroz perseguição e segregação.

Graduando-se em administração pela Universidade da Califórnia-Berkeley, Mineta seguiu a política a partir de 1967. Foi sucessivamente edil, vice-prefeito, e 59º prefeito de San José, sua cidade natal (1971, aos 40 anos), e depois membro do Congresso, representando a região do Silicon Valley(1975-1995). Tornou-se ardoroso defensor das minorias. Integrou a moção pela reparação moral e perda física sofridas injustamente pelos nipo-americanos durante os anos da II Guerra. A reparação foi feita em 1988 quando o presidente Ronald Reagan assinou o Civil Liberties Act pela indenização por danos morais e físicos, e pedido formal de desculpas do governo americano.

“A liberdade individual e os direitos civis e humanos são extensivos a toda a população idônea da nação. Está na Constituição”. Norman cresceu ouvindo isso de seus pais e parentes mais velhos. Mas na época, pelas circunstâncias da atmosfera de histeria de guerra, da falta de liderança forte na comunidade, por ignorância do governo e das próprias vítimas, não havia como se defender. As portas só se abriam unilateralmente. Porém, a lembrança do terror infantil de ser apedrejado e receber cusparadas por pertencer a uma minoria de feições, cor da pele e religião professada diferentes, ficaria impregnada para sempre. Tanto que americanos de descendência alemã ou italiana, de países “inimigos”, mas brancos e cristãos, foram poupados. Norman Mineta e seus pares lutariam sempre pelos direitos civis das minorias. Quaisquer que elas fossem.

Nos dias que se seguiram ao abominável ataque às torres gêmeas, começaram a se ouvir pequenas e angustiadas vozes, aqui e ali, de Nova Iorque a Califórnia, de Chicago a Texas: ameaças, xingamentos e perseguições estavam mantendo pessoas com feições e nomes árabes acuadas, sem poder sequer sair de suas casas, irem a compras, escolas, trabalhos. Idosas muçulmanas evitavam usar suas roupas tradicionais. Surgiam correntes que apregoavam a proibição de cultos islâmicos, de americanos com nomes árabes viajarem em aviões dentro do país. Nas longas conversações com Watanabe, Norman confessa que ele e muitos de seus amigos congressistas se arrepiaram com a iminência do que estaria por vir. Eles não podiam deixar que tudo acontecesse de novo. Não na América do Século XXI. Desde 2001, a luta de Mineta tem sido para atenuar esse novo ódio insensato que ameaçava se espalhar.

Para Norman Mineta e americanos em geral, o 11 de setembro significa uma união renascida para a ratificação definitiva das leis da democracia: o direito inalienável de ir e vir, e da busca da liberdade, igualdade e felicidade para todos os cidadãos do país – assegurada pela Constituição republicana desde 1776. Um retrato oficial do congressista, em tamanho natural, integra desde julho de 2010 a coleção permanente do National Portrait Gallery, em Washington, DC, em rara homenagem a alguém ainda em vida.



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