Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Ligeiros Comentários Sobre o Artigo no Ocidente Subjetivo

14 de novembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: , ,

Na colaboração altamente interessante para nós do Ásia Comentada com o excelente site do Ocidente Subjetivo, mantido por um grupo de estudantes pós-graduados em política internacional em Portugal, foi postado um artigo muito bem elaborado pelo professor Nuno Canas Mendes, docente do ISCSP, uma instituição centenária, e membro do Instituto do Ocidente/ISCSP. Versa sobre a política externa brasileira como parte do bloco BRIC e pode ser acessado integralmente por intermédio no nosso blogroll. É uma visão enriquecedora de elevada qualidade acadêmica, que nem sempre se encontra acessível ao público em geral no Brasil.

Sobre os comentários ligeiros com relação ao artigo que foi enviado ao Ocidente Subjetivo sugeriu-se que fossem transformados num artigo postado neste site, que está sendo divulgado em Portugal, com acesso facilitado a tudo que é iserido no Ásia Comentada. O artigo não tem uma pretensão acadêmica, mas somente de informações rápidas.

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No Brasil, identifica-se o BRIC como um bloco que não tem uma política externa comum. A sigla foi utilizada pelo Goldman Sachs somente para selecionar um grupo de países emergentes de grandes dimensões geográficas, e o Brasil tem poucas coisas em comum com a Rússia, bem como com a China e a Índia, aos quais estão se procurando acrescentar a África do Sul, notadamente em política externa. O que todos estes países estão procurando fazer é ganhar maior visibilidade, e trabalham cada um por si para ocupar maior espaço nos organismos internacionais e na mídia mundial, desejando serem mais ouvidos.

A Rússia e a China já fazem parte do grupo permanente com assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas, com poder de veto, e especificamente a China bloqueia a entrada do Japão, apesar de sua importância econômica ao lado da Alemanha. O Brasil reivindica um assunto permanente neste Conselho, junto com outros que ganharam importância internacional recentemente, num mundo que já não está bipolarizado entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética, mas conta com muitos países de nível intermediário de poder que acabam dando uma forte impressão da multipolarização mundial.

Comentei que Lula da Silva, cuja política externa foi analisada, era um líder sindical de origem católica com elevado potencial, ainda quando o sistema sindical trabalhista brasileiro estava dominando por membros simpatizantes do marxismo. As autoridades de então, ainda no regime autoritário e militar, entendiam que o Brasil, como em outros países, deveria contar também com lideres sindicais socialistas, socialdemocratas, católicos e de outras tendências ideológicas e políticas. Uma movimentação discreta e bem organizada estimulou o seu aparecimento na mídia local e sua ascensão política, facilitando à criação do PT – Partido dos Trabalhadores.

O mundo assistia à ampla divulgação da Solidariedad, de Lech Walesa, da Polônia, que também chegou à Presidência do país, mas não obteve o sucesso econômico. Lula da Silva, com seu carisma junto aos seus companheiros trabalhadores, depois de diversas tentativas, chegou à Presidência da República.

O PT, que começou com a forte predominância de trabalhadores industriais do ABC paulista, ganhou dimensão e diversidade, com a participação de intelectuais, funcionários públicos e operários de diversas tendências. Hoje, é um partido predminantemente de funcionários públicos que contribuem com parte de seus salários para sustentar as finanças do partido, tendo a tendência de aumento destes funcionários na administração pública direta e nas estatais.

No que se refere à política externa brasileira, a sua tradição é de origem europeia e se notabilizou pelas soluções negociadas, até na fixação de suas fronteiras internacionais, com todas as divergências resolvidas diplomaticamente. Lula aproveitou alguns diplomatas considerados de esquerda, que tinham relacionamentos como Cuba, bem como facilidade para entendimentos com país que acabaram conflitando com potências como os Estados Unidos e alguns países europeus. Eram o Iraque, a Líbia, a Venezuela e o Irã, entre outros, principalmente porque o Brasil necessitava de petróleo durante as suas crises.

A sua política externa, sob o ponto de vista de alguns brasileiros, procurava manter um equilíbrio no mundo, mantendo contatos com os Estados Unidos, com a Europa, com o Oriente Médio, com a Ásia, com a África e a América Latina, principalmente no campo econômico.

Hoje, parece-nos que já evoluímos, com um Itamaraty adotando um pragmatismo mais claro, conduzido por diplomatas profissionais mais moderados. O Brasil não se considerava um quintal dos Estados Unidos, e sempre foi mais voltado à Europa. No exterior, poucos sabem que a Universidade de São Paulo decorreu de uma missão francesa, o seu exército foi organizado de forma similar com a francesa (enquanto a Argentina e o Chile receberam influências germânicas), e que a sua administração pública apresenta semelhança com a da França. Ainda que tenhamos herdado dos portugueses a sua burocracia e o sistema cartorial.

Mas o país recebeu imigrantes de todo o mundo (poucos sabem que o maior contingente veio do Império Otomano, que estendia suas fronteiras da península Ibérica até atual Síria e o Líbano) e entre seus descendentes surgiram muitos políticos. De outras etnias, o Brasil recebeu inicialmente os africanos, mas também italianos, alemães, portugueses, espanhóis, japoneses etc., que se miscigenaram com os traços da tolerância portuguesa. Tendem a formar uma população fortemente mestiça, sem o multiculturalismo que predomina em alguns países onde se formam comunidades definidas, com suas culturas diferenciadas.

Parece-nos que tudo isto facilitou a formulação de uma política externa pragmática, equilibrada, com quase todos os países do mundo. Ainda que tenha herdado parte das contribuições das revoluções americana e francesa, mesmo que formalmente. A Federação é uma abstração, ainda que aspirações regionais sejam relevantes num país tão amplo com marcas geográficas diferenciadas. O Brasil é um país unitário, e faz questão de manter a sua soberania em todo o seu território, sem muitos problemas religiosos ou de diferenças étnicas.

Ainda que muitos analistas tendam a entender o atual governo como mera extensão da administração anterior, parece importante observar que o governo Dilma Rousseff tem uma forte marca de sua personalidade, e o seu discurso recente na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas deve ser objeto de análises mais profundas. Ela afirmou de forma categórica que as atuais políticas econômicas dos Estados Unidos e da Europa não levam a resolver o maior problema atual do mundo que é o do emprego. Assistir ao sistema bancário com volumosos recursos não resolve os problemas, pois existe excesso de liquidez internacional, que não se transforma em investimentos para ampliação da capacidade produtiva, pois não existe demanda estimulante.

O Brasil optou pela consolidação da Palestina, pois Israel também foi criada pela ONU, com forte apoio do Brasil. Isto deixou Barack Obama sem uma orientação lógica, na medida em que exige um entendimento prévio da Palestina com Israel. Falando não somente como representante do Brasil, mas da metade do mundo representada pelas mulheres, mostrou que tem um agudo senso de oportunidade política, não sendo somente uma competente burocrata.

Mostrou que o Brasil tem um cabedal que o credencia a ser membro do Conselho de Segurança, com a sua capacidade de dialogar com todos os governos do mundo, ainda que não concorde com todos eles. No mundo atual, há que se conviver pacificamente com todos os países, mesmo que tenham valores com os quais não é necessário concordar.

O Brasil melhorou a sua distribuição interna de renda, criou uma nova classe média, ampliou o seu mercado interno, conta com amplos recursos naturais, luta por um desenvolvimento sustentado, respeitando o meio ambiente. Além de suas qualificações políticas, também tem uma folha respeitável de credenciais econômicas, como um digno membro do grupo chamado BRIC, podendo ampliar a sua influência na governança do mundo multipolarizado.



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