Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Pelé, Mito e Simplicidade

2 de novembro de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos, webtown | Tags: ,

“No mundo do esporte, poucos nomes são mais icônicos do que o do Pelé, lenda do futebol brasileiro”, diz artigo de Andrew Mckirdy, do staff do The Japan Times, que relata visita de solidariedade que o atleta fez na semana passada à cidade de Yuriague, província de Miyagi – região bastante castigada em 11 de março último. Por onde passou, sua aura de superstar causou alvoroços, mostrando popularidade que não se esvanece; seu carisma de desprendida simplicidade inspirou crianças e adultos a se aproximarem dele e tocá-lo. À vontade em meio a escolares de Yuriague, Pelé transmitiu mensagens do povo brasileiro.

Lembra-me verão de 1972 em Nova York, no pré-encontro de jovens embaixadores culturais em programa de intercâmbio, selecionados por consulados gerais dos EUA em várias cidades do mundo, e patrocinados pelos Kiwanis e Rotary Clubs nos EUA. Calhamos de ficar no mesmo hotel onde descansava o time do Santos Futebol Clube dos áureos tempos, que vinha de longa e exaustiva excursão pela Ásia e Oceania, ainda com outros jogos a cumprir pela América do Norte (costas Leste e Oeste EUA, e Canadá). Nas idas e vindas dos compromissos de ambas as partes, acabamos trocando muitas “figurinhas” com os jogadores (Alcindo, Clodoaldo, Edu, Cejas), no lobby do hotel ou na cafeteria. Pelé era o mais chegado, com aquele jeito espontâneo e afável de conversar com todos os youth ambassadors, em inglês, italiano, espanhol: a maneira easy going ou shitashimi yasui (afeiçoável e acessível) que encanta pessoas, fazendo-as sentir íntimas do atleta. O tricampeão mundial de futebol, no auge da fama, também parecia muito feliz em poder circular livremente pela área sem provocar tumultos.

fd20111023a1aNova York junho 1972 - Pelé com ambassadors brasileiras

Pelé com crianças de Yuriague, Miyagi / Nova Iorque, junho de 1972, Pelé com ambassadors brasileiras

Deu-nos dicas de lojas que davam bons descontos para brasileiros – até nos acompanhando a uma delas. Sugeriu bom presente para as mães e tias no Brasil: o creme “Eterna 27” – que dona Celeste, segundo Pelé, apreciava (dona Tazuko, minha mãe, emocionada com a lembrança – “Imagine, recomendado pelo Pelé!” – usaria o creme com muita parcimônia). Cada youth ambassador iria passar os meses posteriores em sua comunidade em diferentes estados americanos; e eu levava na bagagem, com o maior ciúme, além dos potes do creme, fotos tiradas com Pelé e companheiros no saguão do hotel, e o autógrafo que ele me concedera dedicado a garoto também de nome Edison, meu irmão caçula – santista irrecuperável até hoje.

Ao saber que eu vinha de cidadezinha do interior de São Paulo, Pelé relatou com naturalidade fatos de sua infância também caipira: quando sua família se mudou de Três Corações, Minas Gerais, para a cidade de Bauru, no coração do estado de São Paulo, apesar de muito novo ele começou a se virar fazendo pequenos serviços, até ajudou em loja de casal de imigrantes japoneses. Felizmente para o Brasil e o mundo, o “seu” Dondinho logo descobriu outros talentos do filho prodígio, e o encaminhou sábia e acertadamente. As ambassadors brasileiras receberam convite para jogo exibição que o Santos F.C. faria no antigo Yankee Stadium, no Bronx (meses depois Pelé viria a atuar ali em memoráveis jogos pelo Cosmos), mas uns dias antes tivemos que seguir com os demais para Washington onde, entre outros compromissos oficiais, seríamos recebidos no Capitólio pelo então senador por Massachusetts, Ted Kennedy.

Ao ver Pelé em noticiário de TV, rodeado por escolares de Yuriague, Miyagi, batendo bola feliz feito criança e “se sentindo japonês” – como ele mesmo disse – me ocorreu se ele não estaria se lembrando dos tempos de folguedos com japonesinhos de Bauru, ou da primeira namoradinha, nissei. Não deu para não sentir ternura por ele, esse excepcional atleta, raro ídolo de imenso e singelo coração caipira que é Edson Arantes do Nascimento.



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