Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Análise Mais Detalhada Sobre a Educação na China

24 de dezembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , , | 2 Comentários »

gustavo-ioschpe1Uma leitura mais completa de todos os textos que foram escritos por Gustavo Ioschpe, um economista com formação pós-graduada nos Estados Unidos em administração, que se especializou nos assuntos educacionais, sobre o que ele pode observar na atual China, denota que ele se tornou um jornalista com análises adequadas para revistas gerais de grande circulação, como a Veja que publicou o seu resumo, mas facilitou o acesso ao texto completo. Tendo já expresso posições contestadas por outros analistas ou envolvidos em educação, diante de suas colocações mais ousadas em outras ocasiões, ele mostra que seus trabalhos nem sempre decorrem de pesquisas profundas e sistemáticas, mas de observações mais ligeiras, ainda que contenham muitos aspectos de grande interesse geral.

É evidente que o desenvolvimento acelerado e recente da China tem variadas causas, não se podendo concentrar somente no seu atual sistema educacional que é novo em algumas partes daquele país. Ainda que ele mesmo admita as influências das raízes históricas da meritocracia predominante entre os chineses. Suas comparações se efetuam com o que ocorre no Brasil e do que ele conheceu nos Estados Unidos, quando poderiam ser interessantes as efetuadas com outros países asiáticos como o Japão e a Coreia, principalmente. Foram locais onde os ensinamentos de Confúcio foram incorporados nas suas culturas, de forma similar com a China, resultando na grande prioridade à educação, respeito aos professores e aos pais, sempre reconhecidos como fundamentais para o processo de preparo dos recursos humanos e de forma mais completa e humanística, do que as especializações estimuladas pelos norte-americanos. Acabaram hierarquizando muitas das suas sociedades, com os veteranos sendo mais considerados do que os novatos. Sua influência foi totalmente ignorada.

Mapa da China

Muitas observações feitas pelo autor parecem comuns nas escolas coreanas como japonesas, ou em países menores como Cingapura, como cuidado com a limpeza e a disciplina, envolvendo até os pais. Ainda que o sistema educacional tenha ajudado a todos estes países asiáticos, parece haver outros fatores que estão determinando o impressionante desenvolvimento chinês das últimas décadas. Não parece conveniente exagerar na importância dos resultados obtidos em Xangai nas pesquisas conhecidas como PISA, como também acabou constatando o autor no final das suas considerações. Mas não se pode duvidar que as autoridades daquele país estejam conseguindo bons resultados, até atraindo professores consagrados no exterior, em grandes universidades.

É evidente que existem grandes diferenças regionais e no tempo nos sistemas educacionais básicos, e partir da hipótese que existe uma grande uniformidade com observações colhidas num tempo limitado e em poucas localidades. Isto pode induzir a erros graves de generalizações como os que vêm sendo cometidos mais recentemente por muitos analistas. Mesmo que ele tenha procurado não ser influenciado por propagandas oficiais, as diferenças de desenvolvimento, de etnias e culturas são variadas em países amplos e complexos como a China, como também pode ser constatada no Brasil ou nos Estados Unidos, e fica extremamente destacada na Europa.

Seria interessante que o articulista conhecesse também o que ocorreu nas escolas japonesas no Brasil, antes e depois da Segunda Guerra Mundial. Ou o que ocorre nas coreanas recentemente em bairros de São Paulo, onde o autoritarismo chinês evidentemente não influencia. Suas análises tendem a admitir que existam controles dos meios de comunicação na China que acabam facilitando a uniformização de alguns comportamentos de professores e alunos o que parece difícil de ocorrer fora daquele país. Mas observando-se muitos estudantes de origem oriental em muitos países, tudo indica que esta influência cultural continua presente em muitos casos no exterior, transmitidos por seus pais e professores.

O autor se declara guiado pelo primado da democracia e que a existência do Partido Comunista Chinês implica no atual forte autoritarismo naquele país. Mas ao admitir que Deng Xiaping conseguiu sobreviver à violenta Revolução Cultural, como muitos outros, e ajudou a generalizar os mecanismos de mercado, parece serem indícios que sempre existiram facções dentro deste partido, com tendências diversas como até hoje. Os mais de oito mil anos de história da China, com somente cerca de 50 anos de maoismo, podem demonstrar que os chineses sempre foram perseguidores de algumas vantagens, que parece ser o cerne do capitalismo. Estas vantagens não precisam ser expressas somente de forma monetária, mas com prestígios, posições e outras compensações.

O uso da educação como mecanismo de ascensão social não ocorre somente entre asiáticos. Aqui mesmo no Brasil, no Sul, a uniformidade do sistema educacional pode ser mais marcante pela forte influência dos imigrantes e seus descendentes. No Nordeste, no entanto, sempre a igreja, o exército e as universidades foram utilizadas e hoje se observam os aumentos dos estudantes desta região aprovados nos exames vestibulares dos estabelecimentos mais considerados no país.

Parece ser evidente que o Brasil aplica em educação uma parcela substancial do seu orçamento, mas muito do mesmo é consumido nas atividades meio e relativamente pouco nos seus fins. Que mecanismos de ensino estão concentrados nas aprovações nos vestibulares, e nem sempre na formação humanística dos recursos humanos, nos seus aspectos mais relevantes. Que existem aspectos a serem apreendidos do exterior, não somente da China, parece sempre interessante.

Mesmo quando se trata da educação de massa, pode-se questionar se todo o sistema nacional deve ser uniforme, pois as diferenças regionais são acentuadas. No questionamento sobre a felicidade dos estudantes chineses, sempre parece que os seres humanos são diferentes e perseguem objetivos diversos, podendo muitos deles se realizar de forma diversa da elevada disponibilidade de bens materiais.

O autor se referiu as dificuldades de se obter outras fontes de informações que não as providenciadas pelas autoridades. Algumas experiências demonstram que os chineses, depois de conquistada a confiança, acabam sendo mais abertos inclusive para discussões de temas críticos, quando comparados com outros asiáticos, que costumam ser reservados, mesmo sem nenhuma restrição política. Nenhum sistema de controle pode funcionar integralmente em sociedades gigantescas como a chinesa.

No conjunto, o trabalho efetuado pelo Gustavo Ioschpe, dentro dos seus limitados objetivos e restrições dos tempos disponíveis para o seu levantamento, deve ser considerado interessante, ainda que existam muitos outros ângulos que poderiam ser melhores explorados.

A lista de sugestões apresentadas para implementação de forma piloto apresenta sua conveniência, mas deveria ser discutida mais profundamente depois de análises comparativas de maior profundidade, com a participação de especialistas, inclusive os que conheçam sistemas utilizados no Oriente, sem se restringir aos Ocidentais, que passam a ser questionados no atual mundo globalizado.


2 Comentários para “Análise Mais Detalhada Sobre a Educação na China”

  1. Frank Honjo
    1  escreveu às 09:24 em 25 de dezembro de 2011:

    Sr. Paulo Yokota.

    Como um leitor assíduo da “Asia Comentada” Desejo um Feliz Natal e um 2012, repleto de saúde, paz, alegria e prosperidade.

    Grande Abraço
    Frank Honjo

    ps.: Isso que é disciplina – postando no blog até no Natal.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 17:08 em 28 de dezembro de 2011:

    Caro Frank Honjo,

    Agradeço pelos comentários e votos para 2012. Quanto ao site agradeço ao Kazu que vem efetuando a revisão e sobre os meus artigos, não acredito que se trate de disciplina, mas é que tentar aumentar a compreensão entre as coisas do Ocidente e do Oriente me proporciona satisfação, ainda que minha contribuição seja modesta.

    Paulo Yokota


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