Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Palestra do Embaixador Brasileiro em Beijing

29 de fevereiro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , ,

O embaixador Clodoaldo Hugueney, um dos mais qualificados quadros do Itamaraty, exercendo atualmente as funções de Embaixador do Brasil em Beijing, proferiu uma brilhante palestra para o CEBC – Conselho Empresarial Brasil – China na FAAP – Fundação Armando Álvares Penteado, com o auditório totalmente tomado. Ele que já exerceu diversas funções importantes nas áreas econômicas da diplomacia brasileira, como junto à OMC – Organização Mundial do Comércio, fez uma apresentação sintética, comentando os diversos pontos da atual transição da China. A palestra foi antecedida pela abertura dos trabalhos efetuada pelo embaixador Sérgio Amaral, diretor da FAAP, que anunciou a instalação próxima do Instituto Confúcio na faculdade, inclusive para atendimento das necessidades empresariais. Sérgio Amaral é também presidente da prestigiosa CEBC.

Como é do conhecimento geral, muitas das posições políticas chaves do atual comando do País do Meio sofrerão modificações ainda este ano, passando do que se chama quarta para a quinta geração de líderes, segundo o embaixador. Haverá a aposentadoria da maioria dos ocupantes atuais de importantes cargos, sendo que o novo presidente Xi Jinping está praticamente escolhido. Ao mesmo tempo, a China está sendo obrigada a acelerar a sua transição econômica, que dependeu até hoje fortemente das suas exportações, para o atendimento do mercado interno que deve ser o substituto de parte da demanda. E o embaixador acrescentou que tudo isto acaba exigindo grandes modificações no relacionamento externo da China, resumindo tudo numa excelente palestra.

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Embaixador Clodoaldo Hugueney

Nesta nota, faremos um apanhado dos pontos principais. Ele se referiu que este ano é o do Dragão para os chineses, que pode significar grandes mudanças positivas ou dificuldades. Na gigantesca transição política, todos os órgãos importantes do Partido Comunista Chinês sofrerão substanciais alterações nas suas composições, com membros da quinta geração de líderes assumindo os postos importantes.

O embaixador explicou que isto se faria dentro de algumas diretrizes fundamentais da China, com uma estabilidade que tem um sentido particular naquele país, com alguma flexibilidade e equilíbrio. A transição seria efetuada com certo controle, e ele informou que os acadêmicos chineses e outros círculos já discutem francamente estes assuntos, até chegar a uma orientação que acomode as principais tendências da sociedade chinesa, com respeito às forças armadas, que atuam paralelamente.

Procura-se corrigir alguns desequilíbrios admitidos atualmente na China, como entre o setor desenvolvido, litorâneo e urbano voltado à exportação com o das regiões rurais que já deixaram de contar com metade da população, mas cujo padrão de vida ainda é precário. Os investimentos que foram obrigados a efetuar para minorar os efeitos da crise mundial iniciada em 2008 necessitam ser corrigidos para não exercerem papéis inflacionários.

No setor econômico, reformas substanciais deverão ser promovidas, com a produção centrando-se no aumento de sua tecnologia. Tanto quando voltado às exportações que não contarão mais com mão de obra barata, como a voltada ao mercado interno que deve permitir um pouso suave da economia chinesa. Muitas das atuais empresas estatais terão que ser privatizadas, dentro de um programa que já está sendo estudado com o Banco Mundial. O sistema financeiro também deve passar por modificações, gerando oportunidades para o Brasil.

Na realidade, o atual plano quinquenal prevê uma mudança de modelo que vai demandar mais tempo para ocorrer. O setor energético, altamente dependente das termoelétricas usando carvão mineral, mais poluidor, deverá passar para a energia verde, segundo o embaixador. Haverá uma redistribuição populacional com o aumento da urbanização, com alterações no consumo e na distribuição da renda. Tudo isto exige mudanças substanciais tanto na política macroeconômica como microeconômica, demandando tempo para ser executado.

Também no relacionamento externo da China haverá substanciais alterações, com a ascensão da China isoladamente ou como parte do bloco chamado de BRICS, que já vem exercendo papéis mais importantes como dentro do G-20. Na realidade, no mundo atual já não existe uma potência hegemônica, segundo o palestrante, mas uma crescente multicolateralidade. Os chineses devem deixar de ser fornecedores de mão de obras intensivas, mas procurarão colocar produtos mais intensivos de tecnologia até nos mercados desenvolvidos, dentro de um processo de globalização.

Os relacionamentos serão mais complementares e complexos, mas dependentes dos desafios do mercado mundial. Para o Brasil, as mudanças da China exigem novas posturas, pois além de importar produtos de mais alta tecnologia, também temos aqueles conhecimentos que não são econômicos, que os chineses têm carências. Inclusive as decorrentes da melhoria na distribuição de renda, na estabilidade política, e nos respeitos aos direitos humanos.

E toda a ampla biodiversidade disponível no Brasil que sempre interessa aos chineses. Em alguns setores. os brasileiros estão mais avançados do que a China, propiciando parcerias interessantes para ambas as partes.

Mesmo nas exportações de produtos primários ou agroindustriais, podemos apresentar as nossas marcas, como estão sendo feitos com todos os tipos de carnes, bovinos, de frangos como de suínos, já com valores agregados, que estão aprovados do ponto de vista fitossanitários pela ação do governo.

A palestra do embaixador Clodoaldo Hugueney abordou outros tópicos e mostrou que a pauta brasileira com os chineses é muito ampla e, negociando, há oportunidades para muitos setores. Ele mostrou que apesar do sistema de um partido único, existem discussões internas intensivas, que são abertamente abordados vários temas. Mostrou-se otimista, aplaudindo iniciativas como a instalação do Instituto Confúcio na FAAP.

Respondeu algumas questões que foram formuladas pelos que estavam no auditório, afirmando que alguns itens eram difíceis, como os relacionados com o uso de moedas locais para o intercâmbio bilateral.



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