Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Problemas na Educação Japonesa

22 de fevereiro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , , , | 4 Comentários »

O outrora admirado sistema educacional japonês, inspirado no confucionismo, parece dar sinais que se encontra em crise. As notícias sobre o ijime (bullying) no Japão já são antigas, mostrando que os alunos que não se comportavam como a maioria dos colegas acabava sendo objetos de discriminações. Um artigo publicado no jornal Nikkei traz preocupação com a redução do número de estudantes japoneses que procuram aperfeiçoamento no exterior. Existem segmentos preocupados com a preparação dos políticos japoneses, como expresso numa matéria da TV NHK. O jornal Yomiuri inicia uma série de artigos refletindo sobre o assunto.

O sistema quase coletivista dos japoneses favorecia a formação uniforme dos estudantes. Os que fugiam, por variados motivos, aos padrões médios dos seus colegas acabavam sendo discriminados, por serem diferentes em alguns aspectos, positivos ou negativos. Assim, a excepcional qualidade de alguns acabava não se aproveitando, como os que tinham talentos para a genialidade ou liderança. Isto pode ter contribuído para a sensação de falta de líderes políticos ou empresariais que parece estar contribuindo para a estagnação da sociedade e economia japonesa.

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O gráfico acima, com dados da OECD – Organização Econômica para o Desenvolvimento e outras fontes, mostra que, enquanto chineses, norte-americanos, indianos e coreanos estão aumentando estudantes no exterior, os japoneses vem decrescendo nos últimos anos. Normalmente, estes estudantes vão completar seus estudos de mestrados ou doutorados, procurando conhecer além do que podem no seu próprio país. Reuniões estão sendo realizadas no Japão para avaliar esta situação, e muitos tendem a apresentar a desculpa que os aperfeiçoados no exterior não encontram um ambiente adequado no país depois de sua volta.

Conheci pessoalmente um cirurgião cardíaco japonês que estudou alguns anos nos Estados Unidos e na França, mas quando voltou para o Japão não tinha oportunidade de conseguir cirurgias que estavam reservadas para seus antigos professores, mesmo que ele contasse com o domínio de novos conhecimentos. Alguns admitem que os norte-americanos estão procurando conhecimentos adicionais na China e na Índia, para poderem trabalhar neste mundo globalizado, onde existem maiores dinamismos. Alguns japoneses o fazem também, mas em menor número.

Parece interessante que no atual mundo globalizado haja informações do que se faz no resto do universo, conhecendo-se aspectos culturais, antropológicos, políticos e históricos em muitos países do exterior. Mas os japoneses parecem avessos a estes conhecimentos.

Quando alguns japoneses se preocupam com a qualidade dos seus políticos, deve-se recordar que na Era Meiji iniciou-se o preparo de pessoal qualificado para o serviço público com as universidades imperiais. O jornal Yomiuri também começou a publicação de uma série de artigos fazendo reflexões sobre a formação de lideranças, entrevistando o chairman da Associação Japonesa de Executivos de Corporações (Keizai Doyukai).

Estes problemas todos não são simples, mas o início de uma discussão mais generalizada sobre estes assuntos podem conduzir a aperfeiçoamentos, pois tudo indica que atualmente o Japão carece de líderes políticos e empresariais para enfrentar o mundo globalizado.

Mas estes problemas podem ajudar a reflexões em outros países, inclusive os emergentes como o Brasil que também enfrentam os problemas de aumento da globalização de suas organizações.


4 Comentários para “Problemas na Educação Japonesa”

  1. Calu Santos
    1  escreveu às 03:54 em 22 de setembro de 2012:

    Olá. Como estrangeira que vive no Japão, vou deixar aqui minha opinião. A sociedade japonesa se abriu para o exterior em partes, é moderna no que se trata de estrutura e tecnologia, mas provincinana no que diz respeito as tradições. O que vejo e que se aferram às tradições antigas que não cabem no modêlo social atual, não dá certo. Os problemas não estão apenas na educação, mas no sistema empregatício também. Como citado, a formação fora do Japão, foge a certas regras internas do pais, prinacipalmente na área de saúde, por isso, os profissionais desta área, formados ou especializados fora, para terem oportunidade de trabalhar no Japão, tem que formar, ou se especializar aqui também, para adaptar-se ao “sistema japonês”. A proposito, os médicos japoneses são ruins. Os professores japoneses, salvo raras exceções, são péssimos, mal formados, não estudam psicologia, não sabem se comunicar com os estudantes. O povo japonês, por não ter antigamente contato com outros povos, desenvolveu a homofobia. Estudos já identificaram traços homofobicos neste povo. E tão grave que não se detém apenas aos estrangeiros, mas como citado, aos japoneses “diferentes”, que se destacam dos outros; não importanto se o aspecto é positivo ou negativo. O Japão precisa de mudanças nas bases, urgente!

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 09:32 em 22 de setembro de 2012:

    Cara Caru Santos,

    Obrigado pelos seus comentários. Não sei quanto tempo V. vive no Japão, bem como a que se dedica. Acredito que muitas das suas observações são corretas, e eles mesmo acham que desenvolveram a chamada cultura de Galapagos. Viver por longo tempo restrito num arquipélago gera problemas de diversas naturezas, notadamente nos contatos com o resto do mundo. Estão procurando meios para se internacionalizar, mas o mesmo acontece, por exemplo, nos Estados Unidos, onde fora das grandes metrópoles, no Middle West, são uns “caipiras”. Os brasileiros, pelos longos laços com os europeus, e mais recentemente com diversas regiões do mundo, possuem maior facilidade de se internacionalizarem. Parece que o problema é como, preservando algumas suas características que são importantes, conseguem absorver melhor o que existe no exterior. Recomendo que leia um dos melhores livros escritos pelos estrangeiros sobre a alma japonesa, que é do brasileiro Oliveira Lima “No Japão, Impressões da Terra e da Gente”, cuja primeira edição é de 1903 e continua até hoje das mais atualizadas, na minha opinião. Não é fácil conseguir a sua terceira edição, que ajudei a viabilizar, mas acho que V. encontra na Biblioteca da Embaixada do Brasil e na Univesidade de Sophia em Tóquio. Outros estrangeiros que escreveram sobre o Japão, como Lacardio Herns ou o português Wenceslau de Moraes, tornaram-se demasiadamente japoneses. Com Oliveira Lima tinha estudado muitos países da Europa e os Estados Unidos, tinha como comparar o que acontecia no Japão naquela época. Recomendo sempre estas comparações internacionais para ter com o que comparar. Trabalhei em muitas partes do mundo, e cito, por exemplo, a pequena Suiça, onde existem cantões que formam um confederação, mantendo suas características locais acentuadas. É sempre difícil julgar os outros povos, mesmo vivendo no país. Como ensinou Oliveira Lima, no primeiro momento descobre-se suas maravilhas, mas com o tempo as suas miserias. Mas, para ser justo, é preciso fazer um balanceamento entre os aspectos positivos e negativos.

    Paulo Yokota

  3. Boris Becker Marques
    3  escreveu às 19:15 em 7 de abril de 2015:

    Olá Paulo, achei muito interessante o seu texto, parabéns! Sempre fui um admirador da história e da cultura japonesa (sou formado em História pela Unioeste), porém, agora que me aprofundo mais no estudo do Japão, percebo cada vez mais, como você mesmo disse, as suas misérias. Principalmente nestas últimas décadas, que aparentemente, não tem sido nada boas para o povo comum japonês.

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 10:27 em 8 de abril de 2015:

    Caro Boris Becker Marques,

    Todos os povos possuem aspectos positivos como negativos. Para um julgamento justo, já nos ensinava Oliveira Lima no seu livro “No Japão”, publicado em 1903 é preciso observar ambos os lados.

    Paulo Yokota


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