Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Reuters Informa Sobre a Dívida Pública Japonesa

20 de fevereiro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , ,

Um informativo e extenso artigo dos jornalistas Tetsushi Kajimoto, Leika Kihara e Tomasz Janowski distribuído pela Reuters comenta que o risco da dívida pública japonesa começa a preocupar ainda que lentamente. A fuga de capitais, o aumento dos custos dos empréstimos, o estoque de moeda e ações e a injeção de vasto montante de liquidez das autoridades monetárias aos bancos locais fazem com que o país tenha que enfrentar o crescimento da dívida pública. O assunto que já vem sendo discutido há décadas agravou-se sobremodo depois dos problemas do terremoto, tsunami e radiações no Nordeste do Japão.

Muitas entrevistas foram efetuadas com autoridades e analistas do setor privado pela Reuters, sem que os primeiros fossem identificados, mas notou-se que estes assuntos estão sendo discutidos internamente pelas autoridades. Segundo um deles, seria assustador pensar-se na venda do triplo de títulos públicos, ações e da moeda local, mas a sua possibilidade é maior do que o mercado imagina. A dívida pública japonesa supera a US$ 10 trilhões, duas vezes o PIB do país e somente o seu serviço (juros pagos) representa a metade da renda dos tributos do país. O aumento anual desta dívida pública é superior ao PIB da Grécia e de Portugal somados.

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Nota de 10.000 yens, Bank of Japan e Dieta japonesa

O primeiro-ministro Yoshihiko Noda apresentou a proposta para dobrar o atual imposto sobre as vendas de 5% para 10%, o que parece muito tímido, mas mesmo assim conta com a rejeição de parte do seu próprio partido como de toda a oposição. Há um sentimento popular que o Japão é seguro, pois 95% da dívida pública japonesa são internas, ou seja, está financiada pelos recursos de sua população. Mas os especialistas estão ficando cada vez mais preocupados, como mostraram as entrevistas efetuadas pela Reuters.

As autoridades que teriam que tomar as medidas na eventualidade de insolvência se mostram temerosas. Sem que todos se preocupem com estes problemas, a profecia de uma catástrofe tende a se tornar autorrealizável. O aumento dos impostos só pode postergar os problemas. E o problema da dívida tem que ser equacionado junto com a de aceleração do crescimento e combate a persistente deflação.

Segundo entrevistados do setor privado, o assunto já vem sendo discutido há muitos anos. Todos concordam que o setor mais atingido por uma insolvência seria o financeiro e as autoridades monetárias teriam que agir fornecendo liquidez, como foi feito quando dos desastres naturais. Yoichi Miyazawa, então ministro das Finanças, hoje na oposição, declara que o governo teria que delinear um roteiro concreto, com reformas como as gregas, com pesados cortes e sacrifícios de toda a população. Os custos da dívida subiriam muito mais que os estimados pelo mercado, pois além dos juros sobre os novos papéis, atingiria todo o seu atual estoque.

A diferença do Japão com os países europeus é que, sendo quase a totalidade de sua dívida pública financiada internamente, os títulos públicos se tornariam “quase moeda”. A carga tributária japonesa considerada pela OECD como das mais baixas do mundo teria que ser elevada para os padrões internacionais. Os dados orçamentários e demográficos mostram que os aposentados tenderiam a retirar suas poupanças, exigindo que as autoridades comecem a se endividar externamente.

Na hipótese mais otimista, os bancos japoneses não teriam uma alternativa a não ser continuar aplicando nos títulos governamentais, com as autoridades monetárias aceitando-os como colaterais dos bancos. Ela parece ser a base do atual orçamento e da proposta do governo. Na hipótese pessimista, que parece crescente entre os burocratas, o teste ocorrerá com o exame da proposta para aumento dos tributos.

O governo apresenta a reforma tributária como parte da seguridade social, mas nada está relacionado com o corte das aposentadorias. Mas todos acham que o aumento do imposto é insignificante diante da magnitude dos problemas, O aumento dos impostos para 10% das vendas teria que chegar a 25% para ter algum significado, e mesmo assim a deflação e a anemia no crescimento continuariam, segundo especialistas. Como o governo não conta com maioria na Câmara Alta (equivalente ao Senado), seria obrigado a convocar novas eleições.

Todos concordam que há um enfraquecimento do Japão, mas a sua situação continua como a dos Estados Unidos, que ainda recebe recursos do exterior. As dificuldades europeias deixam muitos sem alternativa à aquisição dos títulos públicos japoneses.

Os países emergentes como a China e o Brasil estão se tornando algumas das alternativas disponíveis. O pior cenário seria a consolidação psicológica que o Japão tenderia a um declínio econômico longo, como a paralisação de sua capacidade política.

Em qualquer dos cenários, podemos adicionar a observação que as empresas japonesas estão aumentando seus investimentos no exterior, principalmente nos países emergentes onde a demanda continua crescendo, pois constatam que o mercado interno japonês continuará com crescimento insignificante, quando não negativo em alguns setores.

A tendência está se delineando no sentido da inversão dos japoneses no seu desenvolvimento tecnológico, com seus investidores ampliando suas aplicações no exterior, de forma que o país tende a se tornar uma economia que vive dos rendimentos de seus investimentos no exterior.



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