Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

A Ásia Voltou a Estar na Moda no Ocidente

11 de março de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , ,

Nos próximos dias 22 a 24 de março, na Sala São Paulo, a Osesp – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo estará tocando uma composição recente do brasileiro José Antônio de Almeida Prado, falecido em 2010, e outra peça do consagrado Gustav Mahler, de 1908, chamada A Canção da Terra. Na Revista OSESP deste mês, o professor Jorge de Almeida, do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Universidade de São Paulo, explica o clima em que este compositor austríaco criou esta peça, bem como o que foi utilizado.

Segundo Jorge de Almeida, o consagrado escritor e poeta alemão Johann Wolfgang von Goeth explicou a um seu aluno quando estava com um romance chinês e foi questionado se o mesmo era muito estranho: “Nem tanto, os personagens pensam, agem e sentem quase como nós, e logo nos sentimos como seus iguais, embora com eles tudo se passe de maneira mais clara, pura e comedida”. Com isto, ele introduzia, segundo o professor, um conceito de literatura mundial, um bem comum de toda a humanidade. Goeth escreveu o Divã Ocidental-Oriental. Jorge de Almeida cita ainda o ascetismo budista do filósofo alemão Arthur Schopenhauer e menciona que Franz Kafka transformou a construção da muralha da China em alegoria crítica.

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Johann Wolfgang von Goeth e Gustav Mahler

Segundo o professor Jorge de Almeida, Gustav Mahler encontrou na “A Flauta Chinesa”, de Hans Bethge, publicada em 1907, o conforto e a inspiração para compor “A Canção da Terra”, num momento difícil para o compositor. Nos poetas chineses do período Tang (618-907), Mahler encontrou uma base para a expressão de sua própria filosofia musical. O primeiro movimento da peça é sobre versos do poeta taoísta Li Tai-Po. “A contraposição lírica entre a brevidade da vida humana e a eternidade dos ciclos da natureza também é composta musicalmente por Mahler”, escreve o professor. E prossegue o trabalho sobre inspirações chinesas.

Sobre o final sinfônico, ele explica que “o texto reúne dois poemas, ‘A esperado amigo’ ,de Máng Hao Rán, e ‘A despedida do amigo’, de Huang Huei, poetas ligados ao budismo chinês”.

Não se trata somente desta composição de Gustav Mahler, mas nas pinturas da época como outras manifestações artísticas que se nota o profundo conhecimento do que ocorria no Oriente, notadamente na China daquela época, que despertava uma inusitada admiração.

Quando muitos ficam impressionados com os interesses atuais sobre a China e a Ásia, o volume do que se escreve de notícias, livros bem como as discussões de assuntos culturais daquela parte do mundo só se pode entender que está se voltando ao que já aconteceu há muito tempo.

Como me afirmou um culto e preparado amigo chinês que ocupa uma posição privilegiada naquele país: "a China só foi relegada a uma posição de segundo plano nos últimos 150 anos, o que é nada diante da longa e profunda história daquele país".



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