Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Henry Kissinger Escreve Sobre as Relações Sino-Americanas

6 de março de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , ,

Poucas pessoas estariam tão qualificadas para o tratamento da questão do relacionamento dos Estados Unidos com a China como Henry Kissinger. Ele escreveu um artigo para o respeitável Foreign Affairs, no número de março/abril de 2012, tratando deste complexo problema. Trata-se da convivência das duas maiores potências econômicas do mundo atual, que também tem facetas políticas e militares. Sua análise exige muitos cuidados, mas esta nota é somente uma avaliação superficial, tentando fazer um resumo e dando notícia de sua divulgação.

Kissinger começa com o que foi anunciado no comunicado conjunto depois da visita do presidente chinês Hu Jintao ao presidente norte-americano Barack Obama em 19 de janeiro último. Ele proclama que ambas as partes estão comprometidas com um “positivo, cooperativo e abrangente relacionamento dos EUA – China”, e que os Estados Unidos saúdam uma China forte, próspera e bem sucedida que desempenha um papel crescente nos assuntos mundiais. E a China cumprimenta os Estados Unidos como uma nação da bacia da Ásia – Pacífico, que contribui para a paz, estabilidade e prosperidade da região. Desde então, os dois países trocaram visitas setoriais de alto nível para cuidar das questões econômicas, militares e sociais.

 

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Henry Kissinger

Como a cooperação tem aumentado, as controvérsias também, segundo Kissinger. Ambos são os maiores parceiros comerciais e econômicos do mundo. Nos dois países existem grupos que entendem que existem disputas pela supremacia, tanto econômica quanto militar, examinando de prismas diferentes que são analisadas pelo autor com detalhes.

O aumento da presença militar da China no resguardo de suas rotas de suprimento incomodam alguns dos seus vizinhos, aliados dos Estados Unidos, e o orçamento americano não permite senão presenças localizadas, depois de suas experiências negativas no Oriente Médio e na Ásia. A China estende sua influência por todo o mundo, inclusive para assegurar o seu abastecimento.

Na interpretação chinesa, o aumento de sua importância econômica exige o aumento de sua capacidade militar, mas se concentra na Ásia por enquanto. Nos Estados Unidos, a retórica é pela democracia e defesa dos direitos humanos. Alguns consideram que o confronto acabará sendo inevitável, mas Kissinger entende que isto seria desastroso para ambas as partes, envolvendo o resto do mundo.

Kissinger recorre à história mostrando que o aumento do poder de um país acaba levando ao conflito, mas argumenta que o passado não precisa ser prolongado. O confronto seria uma escolha, não uma necessidade, segundo ele. Ele faz um longo apanhado da história, inclusive da Guerra Fria.

Segundo o artigo, a China tem uma fronteira diversificada, mas não conta com o risco de uma invasão de qualquer direção. Ele se estende em considerações de como lidar com a nova China que também enfrenta problemas internos, na transição da liderança política para uma nova geração.

Uma abordagem cooperativa encontra desafios de preconceitos de ambas as partes. Os Estados Unidos não têm experiências de relacionamento com países gigantescos como a China confiante e com uma cultura e sistema político diferente. Nem a China, que só enfrentou problemas com seus vizinhos.

Segundo Kissinger, trata-se de problemas de opção política, entre a participação numa comunidade ou conflito no mundo atual. Os chineses procuram estabelecer canais separados como os com o Brasil e o Japão. Crises de gerenciamento não parecem suficientes para Kissinger para levar ao conflito. Com a ideia da comunidade do Pacífico, procura-se estabelecer objetivos comuns.

Os Estados Unidos já tentam negociar o TPP – Trans-Pacific Partnership, e Obama convidou a China a participar deste esforço, mas todos têm problemas setoriais nestes entendimentos. Os interesses comerciais são amplos, muitas vezes com conflitos.

Segundo Kissinger, existem riscos das retóricas. Os americanos muitas vezes tratam a China como potência crescente (rising power) que exige maturidade para cuidar dos problemas mundiais. Do lado chinês, existe uma ideia que a China é um país de muitos milênios de história, com uma temporada de ocupação colonial, mas exercer sua influência econômica, cultural, política e militar não é uma coisa fora do natural. Eles estariam revivendo a nação chinesa, com a pretensão de País do Meio.

O crescimento militar da China deve-se mais ao declínio dos americanos, segundo Kissinger. Segundo o autor, os americanos precisam lembrar-se de que a China precisa ser dividida por um bilhão e meio de habitantes mesmo tornando-se a primeira economia do mundo.

O que parece que Kissinger não se refere é que existem mais de 250 milhões de chineses e seus descendentes em outras partes do mundo, inclusive nos Estados Unidos, com elevado nível de renda, liderança empresarial, capacidade tecnológica, sendo que sua maioria considera que suas raízes estão na China. O mesmo não acontece com os norte-americanos que contam cada vez menos com nações que lhes são simpáticas, mesmo reconhecendo que continuam importantes do ponto de vista econômico e tecnológico.

De qualquer forma, parece preciso considerar que a Humanidade também conta com o instinto de sobrevivência, podendo haver conflitos localizados, mas uma ideia de um confronto global parece remoto, neste momento.



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