Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

“Onde Canta a Jandaia nas Frondes da Carnaúba”

15 de março de 2012
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos, webtown | Tags: , , , , , ,

Sabiás ainda gorjeiam entre palmeiras do Maranhão de Gonçalves Dias, e jandaias se alvoroçam pelos coqueirais dos estados do Ceará, do Piauí, e todo o imenso norte-nordeste do Brasil. Aratinga jandaya, da família dos psitacídeos, são idênticas, em tamanho e algazarra que provocam, às maritacas que se agitam sobre arvoredos na cidade de São Paulo. Porém, o corpo é todo colorido de vistoso alaranjado, com verde apenas nas asas e na cauda.

Ao sobrevoar Fortaleza-Ceará a caminho de São Luis do Maranhão, passando por Teresina-Piauí, a Mata dos Cocais impressiona pela imensidão da floresta de coqueiros, característica da região, com sua variedade preservada pela natureza exuberante. Pujantes rios cristalinos banham manguezais ao longo dos quais se misturam palmáceas: carnaúba, buriti, babaçu, oiticica, açaí, jussara, bacaba. Embora desde há muito visados pela exploração extrativista por fornecer ricas matérias-primas, são espécimes tropicais que, devido à pluviometria adequada e topografia conveniente, se reproduzem com grande velocidade. Fazem do Maranhão, chamado “terra das palmeiras”, um estado privilegiado pela natureza para a sobrevivência do homem comum.

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Terminal portuário do Mearim

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Rua Portugal, Centro Histórido de São Luís; Lençóis Maranhenses

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Jandaia Verdadeira – Aratinga Jandaya

O litoral maranhense é banhado por 640 quilômetros de praias quase intocadas, de ventos bravios e alvas areias. Adentrando o continente, o estado compõe uma grande diversidade de ecossistemas: floresta amazônica, cerrados, mangues, delta em mar aberto, e o único deserto do mundo com dezenas de lagoas de águas cristalinas: os Lençóis Maranhenses. Para atingi-los por terra, atravessa-se estradinha arenosa só transponível por utilitários 4×4 adaptados (tipo “jardineiras”), numa aventura radical por trilhas deixadas quando da prospecção feita pela Petrobras, na região do polo turístico do município de Barreirinhas-Caburé, no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses.

Saindo da ilha de São Luis pela BR-135, direção Barreirinhas, após transpor o Estreito dos Mosquitos, já no continente, chega-se ao pequeno município de Bacabeira – que fica na proximidade estratégica da capital do estado, do Rio Mearim (navegável para navios de grande calado), e do Complexo Portuário de São Luís, servido pelas ferrovias Carajás-Norte Sul. Bacabeira desponta como um dos mais promissores polos de investimentos no Maranhão. É onde a estatal Petrobras já deu início à construção de sua maior refinaria no país, quinta maior do mundo, a Premium I. Com investimento estimado em US$ 20 bilhões, é dos grandes projetos do PAC, do governo federal. Irá ampliar a capacidade de refino do país em quase 50%, estabelecendo novo perfil de consumo de derivados de alta qualidade a serem transportados por dutos. Parte da produção visará a exportação, haja vista a localização próxima a grandes consumidores norte-americanos e europeus.

É o que esclarece o engenheiro Elcio Denda (Transpetro, regional norte, São Luis do Maranhão). Segundo ele, a Petrobras – e o seu braço logístico, a Transpetro – estuda parcerias para o escoamento utilizando o grande terminal portuário que está sendo projetado na foz do Rio Mearim, no interior da Baia de São Marcos, a onze quilômetros do centro de São Luis.

São Luís é das capitais mais maltratadas do Brasil, apesar de tão rica em cultura, história, arquitetura, belezas naturais, povo hospitaleiro, e culinária e frutos da terra sem par. Com maré baixa impressionante que tem similar apenas na baía de Saint Michel, na França, a capital maranhense possui a arquitetura colonial mais intacta do país. Infelizmente, bastante abandonada no estágio atual, com árvores crescendo nos telhados dos casarios históricos, raízes penetrando pelas paredes centenárias de azulejos portugueses. Estes se deterioram pela intempérie, maresia e carência de tratos. A pequena linda baía, que teve abertura para mar fechada há alguns anos para se traçar avenida (saía mais barato do que construir ponte de ligação), virou laguna poluída e fétida, a Lagoa da Jensen, hoje sem vida. Como em muitas metrópoles pelo Planeta, as águas de São Luís pedem clemência: sem saneamento básico mínimo, os Rios Bacanga e Anil que cortam a ilha estão moribundos; a belíssima praia ao longo da Avenida Litorânea – no novo bairro urbanizado da Baia de São Marcos – está imprópria para a mais popular das delícias praianas, o banho de mar.

Entrementes, o vento continua a soprar forte e bravio pelo litoral de São Luís. Se você abrir, inadvertidamente, janela ou porta que deem para o mar, o vento leva guardanapos, toalhas, e tudo que estiver em cima da mesa. Do alto de modernos prédios das reurbanizadas Ponta d’Areia e São Marcos – altamente motorizadas, com finas lojas, chiques shopping centers e amplas avenidas e estacionamentos, estilo Miami Beach –, mar e vento cantados pelo escritor-poeta ainda brilha e sopra com vigor e esperança renovada. Não permita Deus que isso morra:

“Verdes mares bravios de minha terra natal….que brilhais como líquida esmeralda perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros. Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa para que….manso resvale à flor das águas…” (José de Alencar, Iracema, Capítulo I – 1865).



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