Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

A Diplomacia Cultural do Japão

24 de abril de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , | 2 Comentários »

Um interessante artigo de Hirotaka Watanabe foi publicado no The Diplomat sobre a diplomacia cultural do Japão, principalmente com a sua experiência na França e na Europa. Apesar da crescente admiração mundial recente sobre aspectos da cultura japonesa, notadamente na gastronomia e no mangá, nota-se, quando comparada com a de outros países desenvolvidos, que o Japão tem uma atitude retraída na disseminação de sua cultura por países estrangeiros. O autor é professor e diretor do Institute of International Relations da Tokyo University of Foreign Studies, doutorou-se pela Sorbonne e trabalhou na embaixada japonesa em Paris.

A França é ativa no setor da diplomacia cultural com o governo coordenado com a Alliance Française, como é a Alemanha com o Instituto Goethe, os Estados Unidos com sua União Cultural, a Inglaterra com a Cultura Inglesa e agora é a China com o Instituto Confúcio. Mas se o Japão já era modesto com o seu Japan Foundation, seus orçamentos acabaram sendo restritos com a crise porque passa que já dura décadas. O autor nota que o Japão está praticamente ausente em iniciativas de envergadura. Muitos observam que o Japão reduziu a sua prioridade na disseminação do seu idioma e todos os setores complementares de sua rica cultura.

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Hirotaka Watanabe / Japan Expo

O autor esclarece que grande parte da cultura tradicional do Japão é derivada da orientação “zen”, sendo bastante introspectiva, não tendo pompa nem cor. Nas áreas mais populares, as diversões acabam se relacionando com as vendas, mas ele acha que ela não pode ser subestimada no entendimento do Japão atual.

A penetração do mangá é reconhecida pelo autor mostrando que ajuda a disseminar a imagem do Japão em diversos países, pois sempre tem um conteúdo histórico cultural. Ele cita diversos eventos realizados na Europa e no Japão, mostrando que há possibilidade de conciliar o que é popular com o patrimônio cultural daquele país.

O artigo reconhece que o Japão é hoje mais conhecido pela gastronomia, mas que já houve período em que o Japão e o Oriente eram moda na Europa, desde fins do século XIX e primeira metade do século XX. Ele entende que o atual interesse comercial pode mostrar que o design combina beleza com funcionalidade, ressaltando o artesanato popular.

Hirotaka Watanabe entende que os esforços japoneses precisam ser coordenados por meio dos eventos regulares, cujas ações ainda estão fragmentadas. No seu entender, o Japão é uma superpotência cultural com valores que são considerados em todo o mundo. Ele entende que o Japão pode transmitir imagens positivas de paz e tranquilidade e que isto necessita se aproveitado pela diplomacia cultural daquele país.

Pode-se ponderar que muitos dos aspectos ressaltados pelo autor são comuns e confundidos com de outros países asiáticos, com destaque atual para a China. É evidente que existem especificidades japonesas, mas para os estrangeiros torna-se difícil fazer as diferenciações, salvo para aqueles que são profundos conhecedores destas culturas.

Na atual globalização, com o uso dos meios eletrônicos de comunicação de massa, as percepções tendem a se tornar mais superficiais. Ressaltar a riqueza dos aspectos específicos da cultura japonesa torna-se um desafio que parece ser difícil de ser trabalhado pela diplomacia. Ainda assim, resta a possibilidade de que seja compreendida pelos líderes de opinião, ao mesmo tempo em que se enfatiza o aspecto saudável desta cultura, que vai da alimentação para o corpo e a alma.


2 Comentários para “A Diplomacia Cultural do Japão”

  1. Jo Takahashi
    1  escreveu às 11:00 em 24 de abril de 2012:

    Dr Paulo Yokota,
    Sempre acompanho, com entusiasmo, sua Asia Comentada, que nos traz um amplo panorama das tendências e ideias que permeiam o continente asiático e suas implicações com o Brasil. Esta matéria despertou meu maior interesse por se tratar de um assunto com que trabalho. De fato, a Japan Foundation está cada vez mais ausente do cenário cultural. Ela deixou de ser uma produtora de conteúdos para tornar-se um braço puramente administrativo de uma representação que responde pela cultura, mas de forma mais burocrática e menos entusiasmada. Em São Paulo perdemos o Espaço Cultural, onde eram realizados cerca de 15 eventos por mês, o que dava aproximadamente 200 projetos por ano. Hoje, o Consulado do Japão está mais ativo nas ações culturais, o que nos conforta um pouco. Nossas ações independentes visam resgatar e dar continuidade ao legado deixado pela Fundação Japão em seus melhores anos e gostaríamos de contar com a colaboração do público para que possamos incrementar estas ações, conclamando parcerias e incentivando as empresas a também participarem destas ações de revigoramento cultural, especialmente num momento em que o Brasil se posiciona como uma das opções mais viáveis em investimentos.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 11:18 em 24 de abril de 2012:

    Caro Jo Takahashi,

    Agradeço pelos seus comentários abalizados. Felizmente contamos com a sua atuação impressionante com o Jojoscope preenchendo eventuais lacunas, pois o público, principalmente o brasileiro, continua altamente interessado nas contribuições culturais do Japão para o mundo. Sinto que algumas grandes empresas de origem japonesa começam a ter uma atuação globalizada, começando a ter maior consciência de sua responsabilidade social mais ampla, apesar das dificuldades por que passam. Mas, ainda estão modestas no campo cultural quando comparadas com outras multinacionais tradicionais.

    Paulo Yokota


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