Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Dramático Artigo de Carlos Ghosn no Nikkei

6 de junho de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , | 18 Comentários »

Apesar de brasileiro nascido em Rondônia, Carlos Ghosn, com respeitável experiência como empresário de origem francesa, tornou-se um dos líderes empresariais mais considerados no Japão, pelo reerguimento que conseguiu na presidência da Nissan japonesa que estava à beira do colapso em 1999. Tornou-se também o presidente mundial da francesa Renault e sua opinião tem um efeito importante no Japão e no mundo. Num artigo publicado pelo prestigioso jornal econômico japonês Nikkei, ele faz um claro diagnóstico da situação da atual indústria japonesa.

Ele informa que a Nissan recuperou-se, superou a crise de 2008, do terremoto e tsunami no Japão em 2011, e da inundação que ocorreu na Tailândia e a crise de consumo que ocorre na Europa, tendo aprendido a adaptar-se às circunstâncias com rapidez. Conseguiu um lucro próximo de US$ 7 bilhões em 2011, tendo produzido cerca de 4,85 milhões de unidades, 15,8% acima do ano anterior. É considerado um competente “monozukuri” (fabricante de bens de excelência) com uma competência globalizada.

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Carlos Ghosn faz um diagnóstico nada promissor para a indústria automobilística japonesa

Carlos Ghosn informa que a Nissan manterá no Japão a planta mãe onde produz o modelo Infiniti, com os desenhos de novos modelos, bem como centro de tecnologia para desenvolvimento dos modelos futuros. E no mundo, o modelo elétrico Leaf nos Estados Unidos, e no futuro no Reino Unido. O centro de engenharia do chamado EV será mantido no Japão, em Oppama, e a engenharia para a produção de baterias em Zama. Mas a Nissan é obrigada a tomar decisões cruciais.

A produção de automóveis, como de outras marcas, está se reduzindo no Japão, que passou a 25% na Nissan e deverá reduzir-se ainda mais quando atingirem a meta global de 8 milhões de veículos, sendo um milhão neste país. Mesmo esta quantidade será sob forte pressão, segundo o autor, pelas seguintes principais causas.

No curto prazo, a indústria automobilística japonesa está sendo afetados pelo iene valorizado, de 22% com relação ao dólar norte-americano em 2011 e 30 a 50% com relação ao dólar, euro e won coreano nos últimos três anos. No médio prazo, os produtores e consumidores japoneses necessitam de tranquilidade e previsibilidade com relação à energia e seu custo. E no longo prazo, a base de consumo do Japão está se reduzindo com a redução de sua população. Há necessidade que as autoridades japonesas proporcionem informações sobre o que pretendem fazer sobre estes tópicos fundamentais, segundo o autor.

Na falta de uma clara indicação, a Nissan será obrigada a acelerar seus esforços localizados em mercados de rápida expansão como no Brasil, Rússia, Índia, Indonésia e China. No ano passado, a produção da Nissan cresceu 22% na China.

O Ministério de Economia, Indústria e Comércio Exterior do Japão informa que desde 2006 houve um declínio de 30% das indústrias, para 540.000 empresas. Muitas deixaram o Japão. Nos últimos três anos, a indústria japonesa ficou somente com 18% do produto de toda a sua economia, cerca de metade das três últimas décadas passadas.

O Japão está estabelecendo acordos de livre comércio com diversos países, e o pessimismo no país mantém se elevado. Segundo Carlos Ghosn, enquanto as autoridades japonesas não proporcionarem soluções significativas para as questões de curto, médio e longo prazo, nenhum executivo responsável pode pensar em reverter este quadro.

Mesmo que muitas das condições sejam diferentes no Brasil, além do câmbio existem outros fatores que também necessitam de esclarecimentos das autoridades brasileiras, de forma idêntica.


18 Comentários para “Dramático Artigo de Carlos Ghosn no Nikkei”

  1. Maicon Barbosa do Couto
    1  escreveu às 20:28 em 6 de junho de 2012:

    Para mim, o Japão já era! Os países da moda são o Brasil e a China! Nós já temos muito mais tecnologia que os japoneses em diversos setores.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 06:07 em 7 de junho de 2012:

    Caro Maicon Barbosa do Couto,
    Agradeço o uso do site, mas acredito que V. está fazendo alguma confusão. Tecnologia e competitividade pouco tem em comum. Lamentavelmente, ainda não temos tanta tecnologia como os japoneses, talvez em alguns setores específicos. O que acontece é que o cambio japones e os custos dos salários reais deles está elevado, mas sem chegar ao nivel de desenvolvimento do Japão, já estamos enfrentando problemas semelhantes, provocando o que alguns estão chamando de “desindustrialização”.

    Paulo Yokota

  3. Carlos Silva
    3  escreveu às 13:01 em 7 de junho de 2012:

    Professor Yokota:

    Ao ler o comentário do leitor Maicon, resolvi deixar o link da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) disponível:

    http://www.wipo.int/pressroom/en/articles/2012/article_0001.html

    Obs.: bastar comparar o número de patentes registradas pelo Brasil e pelo Japão e extrair as conclusões.

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 18:57 em 7 de junho de 2012:

    Caro Carlos Silva,

    Obrigado pela contribuição.

    Paulo Yokota

  5. Dorival R. Piaggio
    5  escreveu às 17:04 em 7 de junho de 2012:

    O missivista Maicon Couto deveria se perguntar o porquê de até hoje nós não termos o trem-bala. O Japão possui o Shinkansen desde a década de sessenta. Na Avenida Paulista, em SP, observe as marcas dos carros… Honda, Hyundai, Ford, Renault, Fiat, VW etc. Nas lojas de eletrônicos e produtos de informática, você encontrará Sony, Samsung, Apple, Ericsson, Siemens, Nokia, BlackBerry etc.

    Sem tecnologia estrangeira, os aviões da Embraer sequer voariam. Precisamos de peças da Rolls-Royce, GE, Pratt & Whitney, Latecoere etc. Em relação aos navios produzidos no Brasil, muitas componentes são desenvolvidos e produzidos por grupos estrangeiros. A nipônica Daihatsu Diesel, por exemplo, tem unidade fabril de motores no Rio de Janeiro.

    Lembre-se, outrossim, de que adotamos o sistema japonês para TV digital.

  6. Paulo Yokota
    6  escreveu às 18:54 em 7 de junho de 2012:

    Caro Dorial R. Piaggio,

    Utilizamos muitas tecnologias importadas, mas estamos gerando algumas poucas com as quais também contribuimos para a economia globalizada.

    Paulo Yokota

  7. João Baptista GoularLopes de Almeida
    7  escreveu às 18:09 em 7 de junho de 2012:

    É lamentavel a desinformação do sr Maicon,fruto do pouco investimento do governo em educação. Por isso sou admirador do ex governador Leonel Brizola,que sempre apostou na educação, do povo como forma sustentavel de desenvolvimento.
    Obrigado.
    João Baptista Goulart Lopes de Almeida

  8. Paulo Yokota
    8  escreveu às 18:51 em 7 de junho de 2012:

    Caro João Baptista,

    Obrigado pelos comentários. Reipeitamos todas as opiniões.

    Paulo Yokota

  9. Dulcimara Drumond
    9  escreveu às 19:18 em 7 de junho de 2012:

    Estimado Economista,
    Sou aluna de um colégio privado de Niterói e gostaria de saber se o senhor conhece algum “site” que informa sobre empresas do Japão que tenham fábricas no Brasil. O meu grupo fará um trabalho sobre investimentos japoneses em terras tupiniquins.
    Desde já, o meu agradecimento.

  10. Paulo Yokota
    10  escreveu às 11:12 em 8 de junho de 2012:

    Cara Dulcimara Drumond,

    Neste site nosso existem alguns dados. Pode se conseguir algumas coisas no METI – Ministério da Economia, Industria e Comércio do Governo Japonês, em inglês. Pode ser que a Câmara de Comércio e Industria Japonesa no Brasil tenha algumas informações. Mas, todos eles se referem a investimentos de empresas japonesas, não necessariamente fábricas.

    Paulo Yokota

  11. wagner aguiar
    11  escreveu às 21:02 em 7 de junho de 2012:

    Com um brasileiro encabeçando uma empresa japonesa, isso só demonstra que temos competência, porém, nos falta mais investimentos em tecnologia.

  12. Paulo Yokota
    12  escreveu às 11:08 em 8 de junho de 2012:

    Caro Wagner Aguiar,

    Obrigado pelo comentário.

    Paulo Yokota

  13. Janaína Ibrahim
    13  escreveu às 12:14 em 8 de junho de 2012:

    Que eu saiba, Carlos Ghosn deixou de ser brasileiro quando se naturalizou francês. Além disso, ele é descendente de árabes. Não tem origem francesa, portanto.

    Diga-se de passagem, que ele cursou engenharia na França. O Dr. Ghosn morou boa parte do seu tempo fora do Brasil (Líbano, França, Japão etc.). Aliás, fala português com sotaque.

    É melhor consultarem um especialista em Direito Internacional ou Direito Constitucional. São raras as hipóteses de dupla nacionalidade.

    Lembrem-se de que os jogadores de futebol Deco (Fluminense) e o Liedson (Corinthians) não são mais brasileiros e, sim, portugueses. A mídia erra feio ao chamar o atleta tricolor de luso-brasileiro (costume burlesco de rádios cariocas). É um equívoco, também, ficar falando “brasileiro natutalizado japonês, alemão etc”. O certo é “nipônico naturalizado”, “alemão naturalizado” etc.

    No caso do Dr. Carlos Ghosn, não vejo motivo para fazer patriotada. Desculpem-me os que não concordarem comigo.

  14. Paulo Yokota
    14  escreveu às 16:19 em 8 de junho de 2012:

    Cara Janaina Ibrahim,

    Temos muitos franceses de origem árabe. Como o Carlos Ghosn nasceu em Rondonia, e no Brasil utilizamos o critério do “jus solis”, e quem nasceu no Brasil é brasileiro. Temos muitos descendentes de estrangeiros que falam com sotaque, como tínhamos e ainda temos um pouco, sotaques regionais.
    Na Comunidade Européia, hoje, quem obtem nacionalidade de um país pelas ascendências européias, não perde a nacionalidade brasileira, e temos muitos como entre descendentes de italianos. Dependendo do país, pois eu sou nascido no Brasil, mas como fui registrado também no Consulado do Japão, tenho dupla nacionalidade. Mas, meu pai que nacionalizou-se brasileiro, perdeu a japonesa. Não acredito que Deco ou Liedson tenham perdido a nacionalidade brasileira. O Carlos Ghosn fez uma parte de sua carreira empresarial no Brasil, e hoje temos muitos que atuam de forma globalizada, o que nos ajuda.
    Não parece relevante esta nacionalidade, pois muitos estão atuando no mundo globalizado. Na última reunião que ele teve com a presidente Dilma Rousseff teve uma conversa franca em português, e comprometeu-se a ampliar as atividades da Nissan e da Renault no Brasil, instalando inclusive uma unidade de pesquisa na área automobilística. De minha parte, apesar de ter sido autoridade brasileira, tive a felicidade de atuar praticamente em todo o mundo.

    Paulo Yokota

  15. Maria Aline Souza
    15  escreveu às 12:40 em 8 de junho de 2012:

    Sou servidora pública da Justiça Eleitoral e tenho números comigo que dão conta de que 56% dos eleitores brasileiros não têm sequer nível fundamental completo. No Brasil, as universidades de um modo geral são bastante deficientes. E acabei de dar uma olhada no link da Organização Mundial da Propriedade Intelectual e cheguei a conclusão de que o colega Maicon Couto precisa acordar…

  16. Paulo Yokota
    16  escreveu às 15:59 em 8 de junho de 2012:

    Cara Maria Aline Souza,

    Obrigado pelo comentário. Dependendo do setor, estamos aumentando os nossos conhecimentos tecnológicos. Ainda temos grandes deficiências, mas não precisamos ter complexos.

    Paulo Yokota

  17. wyllys
    17  escreveu às 15:31 em 26 de outubro de 2013:

    Interessante ainda não conheço o pais “Tupiniquim”. Ou melhor conheço muito bem o meu país e ele se chama Brasil, Brésil.
    E o seu nome é pronunciado com respeito e orgulho pelos filhos desta terra.

  18. Paulo Yokota
    18  escreveu às 09:37 em 29 de outubro de 2013:

    Caro Wyllys,

    Parabéns, pois poucos brasileiros conhecem este país, tanto os confins da Amazônia como as regiões pobres do Nordeste. Muito que consta dos livros didáticos, como de geografia, não correspondem à realidade brasileira, que eu tive a oportunidade de conhecer detalhadamente, por ter trabalhado até nas localidades mais remotas.

    Paulo Yokota


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