Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Reflexos, Agilidades e o Doce Pássaro da Juventude

8 de junho de 2012
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos, webtown | Tags: , , ,

Demonstração de ginástica de expressão corporal por garotada de 10 anos de idade. Impressiona a fácil agilidade e flexibilidade das crianças, a perfeita sincronia de tempo e movimentos. “Eu também era craque em dar cambalhotas nessa idade, mas com as mãos no chão, não essas cambalhotas no ar”, comento. De pronto me corrigem: “Tia, isto não é cambalhota, é salto mortal carpado!” Tá. Claro, salto mortal, duplo, triplo, estilo Daiane dos Santos… Os riscos? Bom, crianças as praticam sobre colchões reforçados. Bonito de se ver, mas dá um frio…

Há alguns anos, em final de campeonato interclubes de tênis, categoria pré-veteranos, o vencedor, após matar a última bola, corre para o cumprimento de praxe, mas em vez de esperar o oponente junto à rede, ensaia pular por cima para ir ao seu encontro no outro lado da quadra. Aos quarenta e poucos anos, talvez se sentisse no auge da forma e fizera isso já outras vezes: afinal estava na moda imitar o irreverente John McEnroe – que, além de pular redes, comemorava vitórias com “cambalhotas no ar”. Aos vinte anos, número um do ranking mundial, ele podia. O nosso pré-veterano foi infeliz, enroscou-se na rede, foi de cara ao chão, felizmente de saibro, saiu apenas com escoriações no nariz e nos joelhos. Ao festejar seus gols, jogadores brasileiros estão proibidos de exibir manifestações mais empolgadas, me contaram, por conta de um infeliz salto mortal que deu errado e quase levou um boleiro a graves sequelas. Aliás, não é linda a alegre coreografia ensaiada e ritmada dos brasileiros no gramado, a cada gol que fazem?

92540361-tamae-watanabe1337430376584-mt-everest

Tamae Watanabe  /  Monte Everest

pico1View_From_Corcovado_Brazilmetrorepublica_divulgacao

Pico do Jaraguá / Corcovado, no Rio de Janeiro / Escadarias da estação do Metrô República

Demonstrações de agilidade e flexibilidade são motivadas por quê? Euforia, exibicionismo, descontrole? Atleta até razoável nos meus bons tempos, não resisto ao me deparar com uma escadaria. Se sozinha, dispenso elevador ou escada rolante, e subo ou desço lépida e ligeira os degraus – do prédio, nas estações de metrô, na saída de salas de cinema. Tudo porque me disseram que subir e descer escadas fortalece outros músculos e ligamentos que não são exercitados por alongamentos ou pilates, nem por musculação. Adoro observar celebridades na TV subindo ou descendo escadarias, cada qual tem um estilo – lépido, desengoçado, elegante. Hilary Clinton e Barack Obama são imbatíveis: sobem e descem escadas com ligeireza de atletas. Outro dia, porém, um amigo ortopedista me alertou: o aconselhável – para a minha idade, enfatizou – não é descer leve e solta correndo pelo meio da escadaria, como costumo, mas fazê-lo em ritmo firme e normal, pelo lado direito, pronta para me apoiar no corrimão – pois qualquer passo em falso, adeus fêmur, pernas, pé. Estou tentando me ajustar à minha vã imortalidade.

Nisso vejo no noticiário: a brava Tamae Watanabe, 73 anos, da província de Yamanashi, Japão, alpinista diletante, atinge o topo do Monte Everest (8.848 metros de altitude), batendo o seu próprio recorde de “mulher mais idosa a escalar o Everest”. Desta vez pelo lado do Tibete, mais difícil e mortal. Ela levou quatro meses para finalizar o feito desde que saiu do Japão; enfrentou vento e chuvas, granizos e tempestades, gelo e pedras cortantes, passou por diversos cadáveres de alpinistas que tinham sucumbido pelo caminho. Ela se arriscou em muitos trechos, segundo a reportagem, e pôs em risco a vida das quatro pessoas da sua equipe. Cercados por altas cadeias de montanhas pelo país, japoneses cultivam o saudável hábito do montanhismo desde tenra idade, tiram de letra qualquer subida de 3.000 metros, se tornam peritos aficionados. Povo de planícies e rios mansos, porém, não conseguimos aquilatar muito bem – desafiar o Everest aos 73 anos, para realizar sonho de juventude?

Para quem, de “montanhas”, só escalou até hoje o Pico do Jaraguá, em São Paulo (1.135 metros de altitude) – duas vezes a pé, e o morro do Corcovado, no Rio de Janeiro (710 metros de altitude) – duas vezes, sendo uma vez a pé só porque o trenzinho estava quebrado, devo admitir que viajo em areia movediça ao discutir alpinismo. Então por que não te calas? dirá o outro. Mas sinceramente: qual foi a última vez que V. teve vontade de escalar o Aconcágua? Fica aqui nos Andes, pertinho de São Paulo, e, fichinha, tem só 6.962 metros de altitude.



Deixe aqui seu comentário

  • Seu nome (obrigatório):
  • Seu email (não será publicado) (obrigatório):
  • Seu site (se tiver):
  • Escreva seu comentário aqui: