Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Entendendo Alguns Refluxos de Recursos Externos do Brasil

5 de julho de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , | 4 Comentários »

O jornal Valor Econômico de hoje publica em português uma notícia da jornalista Samantha Pearson, do Financial Times, informando que os japoneses retiraram cerca de US$ 30 bilhões do Brasil, recursos das chamadas “Mrs. Watanabe”, dos fundos que ficaram conhecidos como “Toshin”, informando que se trata de um fenômeno entre os varejistas, atribuindo este refluxo às preocupações sobre a estagnação da economia brasileira. Tudo indica que isto é parte insignificante da verdade, mas que existem outras razões para este refluxo, não se devendo constituir em preocupações de maior profundidade.

O fato concreto é que estes fundos obtiveram resultados excepcionais no passado em moeda estrangeira, bem acima dos dois dígitos reais anuais, com os juros reais elevados pagos pelo Brasil, ao mesmo tempo em que o risco cambial era praticamente inexistente, com a tendência firme de valorização do real. Mas os poupadores finais ficaram com parte desta remuneração que beneficiaram mais os operadores destes fundos que ficavam com a parte do leão.

financial times

Há indicações que dos mais de US$ 100 bilhões que foram aplicados no Brasil, cerca de US$ 30 bilhões teriam retornados visando ser aplicados em outros países considerados de menor risco, principalmente pelos japoneses. Tais riscos, para estes aplicadores, aumentaram na medida em que câmbio brasileiro passou a desvalorizar-se, com o estímulo das autoridades brasileiras, para permitir a competitividade principalmente da indústria brasileira, diante da enxurrada de importações e gastos no exterior. Eliminou-se a tendência firme de valorização, e a flutuação natural passou a fazer parte do jogo, aumentando-se intencionalmente os riscos.

De outro lado, promoveu-se a redução dos juros reais do Brasil que estava entre os mais elevados do mundo, ainda que estejam ainda superiores aos de muitas economias consideradas desenvolvidas. Isto só pode estimular as atividades produtivas no Brasil, ainda que seus efeitos demandem algum tempo, e dependa também de outros fatores considerados “custo Brasil”. Mas nada tem relação direta com os fluxos dos financiamentos externos de curto prazo, que acabam atuando contra a economia brasileira em muitos casos.

Como tem ocorrido na maioria dos países, as remunerações dos agentes financeiros têm sido exageradas, fazendo com que os investidores individuais tenham somente uma pequena parte dos benefícios que ainda existem, pois os juros reais no Brasil continuam acima dos pagos na maioria dos países considerados desenvolvidos. É mais que natural que tais investimentos sejam orientados pelos profissionais que administram o fundo, desde que os lucros e os prejuízos com as flutuações sejam devidamente repartidos, e de forma razoável, o que nem sempre tem acontecido.

A atual orientação das autoridades monetárias brasileiras visam os benefícios das atividades produtivas efetuadas no país, tanto com a desvalorização cambial como a redução da taxa de juros reais. Com a demanda interna em crescimento, com a conquista da melhor distribuição de renda e ampliação da nova classe média brasileira, os investimentos diretos estrangeiros que são mais estáveis continuam ocorrendo. Os fluxos que possuem um caráter quase especulativo pouco ajuda a economia brasileira, que vai continuar necessitando de recursos externos para auxiliar no financiamento do aumento de sua capacidade produtiva e ampliação do emprego, mantidos as suas competitividades externas, principalmente na indústria e no turismo.

Os analistas mais cuidadosos estão identificando algumas notícias e análises que parecem engajadas com os interesses do setor financeiro, que procuram preservar os seus privilégios, mesmo com as dificuldades econômicas que assolam o mundo atual. Isto torna necessária a adequada análise dos fatos, que nem sempre correspondem ao que acaba sendo expresso em alguns artigos, ainda que possam ser parte da verdade.


4 Comentários para “Entendendo Alguns Refluxos de Recursos Externos do Brasil”

  1. Eufrásia Leite
    1  escreveu às 19:12 em 5 de julho de 2012:

    Não acho que seja uma notícia grave, pois, atualmente, o Brasil não precisa do dinheiro dos japoneses para “sobreviver”.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 21:26 em 5 de julho de 2012:

    Cara Eufrásia Leite,

    Realmente, não somente dos japoneses, mas o que está se discutindo e a causa de tal refluxo. De um jeito ou outro, o Brasil como qualquer país emergente, sempre pode utilizar poupanças externas para acelerar mais o ritmo do seu desenvolvimento, principalmente no mundo atual que destá demandando menos produtos, ficando dificil de aumentar as exportações para gerar as divisas externas necessárias. Se possível, desejamos investimentos diretos externos que venham a ajudar a ampliação da nossa capacidade de produção e ajudar na criação de bons empregos.

    Paulo Yokota

  3. J. Couto de Castro
    3  escreveu às 13:14 em 6 de julho de 2012:

    Não sei se é por preconceito ou insipiência, que lemos a manifestação da pessoa que se identifica como Eufrásia Leite. Por décadas, os japoneses investiram bilhões em nosso país com suas multinacionais (siderúrgicas, bancos, corretoras, “tradings”, farmacêuticas, montadoras, fabricantes de eletrodomésticos, de autopeças, de materiais de escritório, de ferramentas elétricas etc.)

    Europeus, norte-americanos, sul-coreanos, chineses etc. também possuem filiais no Brasil. A Sra. Eufrásia deve achar que somos auto-suficientes… Sem o dinheiro estrangeiro, a PETROBRAS e a VALE jamais conseguiriam aumentar os seus capitais sociais. Aliás, não teríamos tantas coisas nesta nação…

    O engraçado é que os próprios políticos nacionais tentam atrair transnacionais alienígenas para cá. Eu queria que fôssemos o principal destino dos investidores estrangeiros.

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 18:50 em 6 de julho de 2012:

    Caro J. Couto de Castro,

    Obrigado pelo seu comentário, mas acho que todos podem ter suas razões. Como os recursos financeiros diferem dos investimentos diretos que criam capacidade produtiva e empregos, pode haver razões para se evitar estes fluxos que podem ser de recursos de curto prazo. O que parece desejável são os que transferem poupanças do exterior para ajudar no desenvolvimento local, o que nem sempre acontece, por exemplo, com recursos especulativos.

    Paulo Yokota


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