Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Tentando Entender os Problemas do Etanol no Brasil

27 de julho de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , | 6 Comentários »

Todos sabem que o Brasil foi o pioneiro da utilização do etanol como combustível para os seus veículos, em grande escala, tanto puro como misturado com a gasolina. Existem episódios isolados como na China, quando de sua guerra com o Japão, onde Joseph Needham relata o uso de um veículo movido a álcool para efetuar suas pesquisas no País do Meio, quando o resto do mundo utilizava outros substitutos para a gasolina concentrada para mover os equipamentos militares, como o hidrogênio, inclusive no Brasil.

No entanto, nos últimos anos, o Brasil vem importando o etanol norte-americano produzido a elevados custos a partir do milho, exigindo subsídios para os seus produtores. Com a forte seca nos Estados Unidos, tanto o abastecimento mundial do milho como da soja ficaram prejudicados, com seus preços subindo de forma acentuada. O que aconteceu com a indústria brasileira de cana que vinha crescendo por décadas mais de 3% real por ano em produtividade? Não se pode apontar somente uma razão, mas pode-se tentar listar alguns fatores que contribuíram para as tendências dos últimos cinco anos.

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Inicialmente, os investimentos efetuados pelo setor privado só ocorrem quando as perspectivas de rentabilidade são elevadas, mas as autoridades vêm mantendo os preços dos combustíveis como forma de ajudar na redução do processo inflacionário. Sem estes investimentos que vinham aumentando a produtividade do setor, não se pode esperar bons resultados. Informa-se que os custos de produção vieram crescendo, não sendo acompanhados pelos preços pagos pelo etanol.

É muito difícil que a melhoria tecnológica ocorra de forma exponencial, e mesmo crescendo de forma constante, a tendência é que acabe reduzindo o seu ritmo ao longo do tempo. Mesmo com a diversificação das regiões produtivas, a safra da cana ocorre sazonalmente, exigindo a armazenagem do etanol que é consumido durante o ano todo, cujo custo depende dos juros dos financiamentos que eram elevados, e começam a se aproximar dos praticados internacionalmente. A Petrobras procurava deixar estes encargos para o setor privado, que sempre tentou se livrar destes custos.

Reconhecendo-se que o etanol era um combustível renovável e menos poluente, até as autoridades norte-americanas, em alguns Estados como a Califórnia, passaram a efetuar a mistura do etanol na gasolina, subsidiando a produção que decorria basicamente do milho, seguramente menos eficiente que a cana de açúcar. Isto ajudou a manter os preços internacionais, levando até o Brasil a importar o etanol norte-americano, principalmente para o seu abastecimento durante a entressafra brasileira.

A cana de açúcar costuma ser plantada para ser colhida em mais de um ano, e as pesquisas agrícolas vinham permitindo a utilização de variedades mais eficientes, mas os desestímulos dos retornos econômicos acabaram por provocar pouco cuidado na sua constante renovação, que associado às irregularidades climáticas contribuiu para uma significativa queda da produção brasileira.

Como na maioria das atividades econômicas, o longo período de expansão acabou determinando um novo ciclo de deterioração. E agora o governo terá que encarar uma dificuldade de abastecimento externo, sendo obrigado a tomar medidas significativas para nova reversão deste quadro. Pois a gasolina como os demais derivados de petróleo devem continuar gerando os recursos indispensáveis para os investimentos relacionados com o pré-sal.

O que se espera é que o relativo desaquecimento da economia mundial continue mantendo os preços das demais commodities razoáveis, de forma que as pressões inflacionárias não se tornem expressivas. Estas fortes flutuações constituindo ciclos necessitam ser minimizados pelas autoridades, com programas que permitam estabelecer perspectivas de prazo mais longo. As manutenções de preços de produtos vitais só podem ser feitas por um período limitado, não sendo possível por muitos anos. Como na maioria dos problemas da economia brasileira, ainda que algumas medidas positivas venham sendo tomadas, existem outras que não podem ser encaradas como conjunturais, exigindo a explicitação de um plano global para as próximas décadas, que sejam mais que as orientações para as elaborações dos orçamentos federais, que também são importantes.


6 Comentários para “Tentando Entender os Problemas do Etanol no Brasil”

  1. Kristiana Cerqueira Jorge
    1  escreveu às 15:21 em 27 de julho de 2012:

    As plantações de cana acabam reduzindo o cultivo de gêneros alimentícios. Acho que o melhor é o biodiesel, ao invés do etanol. Criticamos tanto os americanos, mas, agora, estamos comprando etanol deles. Que ironia!

    Deveríamos estimular, também, os carros híbridos, elétricos e os movidos a hidrogênio.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 16:01 em 27 de julho de 2012:

    Cara Kristiana Cerqueira Jorge,

    Obrigado pelos comentários. Pelo que é do meu conhecimento a quase totalidade do biodiesel também são decorrentes de produtos agrícolas que exigem áreas para serem cultivados. Temos problemas para gerar mais energia elétrica, e ainda não temos baterias eficientes de lítio. Quanto ao hidrogênio, ainda não existe no mundo uma tecnologia competitiva para o seu uso. Mas, muitos centros de pesquisas continuam estudando estes e outros assuntos, para gerar energias menos poluentes de forma sustentável.

    Paulo Yokota

  3. Daniel Girald
    3  escreveu às 13:45 em 6 de outubro de 2016:

    O biodiesel pode ter a produção mais regionalizada e consorciada com gêneros alimentícios, valendo-se ainda de espécies mais adequadas às diferentes condições climáticas encontradas no país. Alguns cultivares, como o milho, se mostram adequados tanto para o etanol quanto para o biodiesel sem eliminar a aplicabilidade na indústria alimentícia.

    A princípio, o etanol também pode ser produzido a partir de outras matérias-primas de modo a se tornar menos dependente da cana e, nas regiões mais afastadas dos grandes centros de produção sucroalcooleira, reduzir os custos associados ao transporte desse combustível. Por exemplo, além do milho nos Estados Unidos e da beterraba na Inglaterra, vale lembrar que a uva na Itália e resíduos do beneficiamento da madeira e produção de papel e celulose no norte da Suécia também servem como matéria-prima para o etanol.

    Enfim, a meu ver, o grande problema do etanol seria com a atual geração de veículos híbridos de ignição por faísca que acabam dando uma nova dimensão às dificuldades para partida a frio tão conhecidas de quem conviveu com carros a álcool da década de 80…

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 15:58 em 9 de outubro de 2016:

    Caro Daniel Girald,

    Tenho a impressão que todas as alternativas de combustíveis estão reduzidos nas suas possibilidades. Os veículos usarão cada vez menos combustíveis e os não poluentes que não provoquem efeitos colaterais na economia acabarão prevalecendo.

    Paulo Yokota

  5. Paulo Yokota
    5  escreveu às 15:10 em 10 de outubro de 2016:

    Caro Daniel Girald,

    Parece que a produção de etanol não seja um problema que perdurará por muito tempo.

    Paulo Yokota

  6. Daniel Girald
    6  escreveu às 03:41 em 12 de dezembro de 2017:

    Quase 20% de todos os postos de combustível no Brasil já deixaram de comercializar o etanol, tanto pela produção estar muito polarizada em algumas regiões quanto pelo preço muito próximo ao da gasolina já não compensar o uso. Apesar de não ser efetivamente uma má opção, e recentemente até a Toyota esteja considerando fazer com que a próxima geração de híbridos do grupo (que também inclui Daihatsu, Lexus e Hino) seja compatível com esse combustível não só em misturas com a gasolina mas até puro.

    Mas volto a enfatizar: para recuperar uma posição de prestígio no mercado nacional, o etanol precisa adotar uma diversificação das matérias-primas, e eventualmente até ter a cadeia produtiva integrada a outros biocombustíveis como o biogás/biometano. Diga-se de passagem, a vinhaça resultante da produção do etanol apresenta uma carga salina muito alta, que a tornaria adequada para uso na irrigação de cultivares halófitos como algumas espécies oleaginosas do gênero Salicornia que podem servir como matéria-prima para biodiesel e rações pecuárias. Até mesmo o côco, que também tem alguma resistência à salinidade (a ponto de alguns cocos brotarem depois de ficar boiando na água salgada e resistirem à névoa salina quando crescem naturalmente nas orlas marítimas), é outra boa opção para a produção do biodiesel devido ao alto teor de lipídeos e ainda pode servir à produção de etanol (basta recordar que também se extrai açúcar de coqueiros, principalmente na Indonésia).


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