Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Dimensões Chinesas nas Crises Como nas Reformas

17 de agosto de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , ,

Tudo que envolve a China possui dimensões astronômicas, e a desaceleração da sua economia preocupa a todos, pelos efeitos que pode propagar por todo o mundo. Todos esperam um “soft landing”, mas análises cuidadosas procuram identificar as reformas reclamadas até pelas autoridades chinesas, pois apresentam uma grande complexidade, como é fácil de ser imaginado. Andrew Sheng e Geng Xiao, dois especialistas financeiros de Hong Kong, publicaram um didático artigo no Project Syndicate, falando das transformações necessárias. E o especialista sobre a China Michael Pettis publica no seu site um artigo tratando do mesmo assunto, perguntando se a reforma já teria se iniciado.

Os autores chineses historiam, segundo eles, como ocorreram as três últimas décadas que permitiram um desenvolvimento da China conectado com o mundo, com um sistema de produção integrado e global sem precedente em escala e complexidade, que estariam baseados em quatro pilares. E apontam o triplo desafio da crise da dívida europeia, recuperação lenta dos Estados Unidos e uma forte desaceleração da economia chinesa, que evidentemente estão integrados, que apresentam alguns pontos em comum com as preocupações de Michael Pettis.

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Andrew Sheng, Geng Xiao e Michael Pettis

Segundo os autores chineses, a China tornou-se a base da “fábrica do mundo” que seria o primeiro pilar, com corporações multinacionais e seus fornecedores associados e subcontratantes, aproveitando as condições locais, nas zonas especiais costeiras, canalizando sua produção para os mercados internacionais.

Mas isto dependeu do segundo pilar que seria a “rede de infraestrutura da China”, consistente das estatais locais que forneceram logística, energia, transportes, telecomunicações e portos, que dependeram de planejamento e controles administrativos, tendo escala e eficiência, que eram estratégicos para a sua competitividade e produtividade.

Eles citam o terceiro pilar como a “cadeira de suprimento financeiro da China”, que utilizaram as poupanças chinesas com os bancos estatais, atendendo às necessidades da implantação da infraestrutura como da produção local. E no último pilar, o “governo da cadeia de fornecimento de serviços”, pois os funcionários locais e centrais afetaram todos os elos da produção, que nem sempre foram observadas pelos estrangeiros. As autoridades foram hábeis na atração dos investimentos diretos estrangeiros, fornecendo o que lhes era necessário.

Com a atual crise, todos os quatro pilares estão sob “stress”, pois as cadeias produtivas estão enfrentando escassez de mão de obra, e deslocando-se para países onde a encontram com custos menores, como no Sudeste Asiático. E os investidores estrangeiros estão questionando sobre a solvência dos governos locais.

Os especialistas chineses estão se questionando sobre a questão da governança que consideram chave, que seria o nível superior da arquitetura para efetuar as reformas indispensáveis. As volatilidades introduzidas pela nova economia exigem interações complexas entre os quatro pilares, bem como com o resto do mundo.

A “fábrica do mundo” estaria sendo afetada pela elevação dos custos locais enquanto a bolha de consumo mundial teria estourado, em primeiro lugar. A infraestrutura local, apesar de utilizar fatores baratos, agora representam 18% dos custos de produção, enquanto nos Estados Unidos são de 10%, o que constitui o segundo fator. O terceiro fator seria a necessidade de o sistema financeiro ajustar-se às novas condições. E, finalmente, os governos locais e os ministérios foram comparados por critérios diferentes, e necessitam ser ajustados aos problemas de equidade, que sofrem resistências poderosas de interesses escusos.

Reconhece-se a necessidade de uma forte reengenharia nos quatro pilares, quando da dependência da exportação passa-se a necessitar do suporte do mercado interno, com a melhoria da qualidade e da eficiência, promovendo maior concorrência. O que promoveu um desenvolvimento acelerado no passado exige uma reengenharia para tornar a economia chinesa mais equilibrada, socialmente justa e sustentável.

Segundo os autores, a experimentação de tais reformas já está em andamento, nas zonas econômicas especiais de Hengqin, Qianhai e Nansha, baseado na economia de serviços e no conhecimento. Tudo dependente de uma elevada qualidade na governança, que é o atual desafio, segundo estes autores.

Michael Pettis apresenta no seu site o desafio do “soft landing”, e as pressões inflacionárias que estariam ocorrendo na China atual, que estaria sendo expresso até pelo premiê Wen Jiabao, num artigo no jornal oficial chinês, o Xinhua, informando que seria a questão mais premente dos chineses, com a redução dos juros que continuam ocorrendo, agora pela terceira vez neste ano. Segundo este autor, estaria se tentando passar da dependência do consumo para o estímulo à oferta, pelo aumento dos investimentos, que seria uma das reformas vitais.

Segundo ele, o problema do desemprego apresenta-se agora também na China, bem como a fuga de capital, utilizando-se o sub e superfaturamento, o que vem afetando a balança comercial nos últimos meses. Segundo este autor, no reequilíbrio que se procura na China, tanto a queda dos preços das importações chinesas como seus investimentos no exterior podem afetar países como a Austrália e o Brasil.

Estas notas indicam que os complexos problemas de política econômica da China para provocar as suas reformas acabam tendo importância global, afetando as diversas economias que atuam no mundo globalizado.



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