Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Os Benefícios dos Pequenos Produtores Agrícolas

23 de setembro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , , , ,

Apesar do forte desejo de prestigiar os pequenos produtores rurais que, sem dúvida, criam mais empregos, há que se reconhecer que a disseminação de tecnologias exige um esforço de assistência técnica para viabilizar seus empreendimentos que nem sempre está disponível, apresentando dificuldades. Kanayo F. Nwanze, o nigeriano presidente do IFAD – International Fund for Agricultural Development, uma agência das Nações Unidas, publicou seu artigo via Project Syndicate propondo intensificar a assistência aos pequenos produtores, mas para que suas ideias sejam aproveitadas há que se contar com o que se aprendeu com a experiência passada.

Entre 1940 a 1970, o prêmio Nobel Norman Borlaug provocou o fenômeno que teve por nome “Green Revolution”, que começou beneficiando a Índia e se espalhou por todo o mundo, inclusive o Brasil. Como ensinar os pequenos agricultores a adotarem novas técnicas agrícolas, como curvas de nível, demanda um grande número de especialistas envolvidos na assistência técnica, concentrou-se a atenção na produção de sementes selecionadas de mais alta produtividade, utilização de corretores de solo e fertilizantes, além de defensivos. No Brasil, com a utilização do crédito rural, subsidiavam-se aqueles que utilizavam os chamados indevidamente de “insumos modernos”, quando fertilizantes já eram conhecidos deste a antiguidade. Os grandes produtores foram mais ágeis no aproveitamento destes subsídios, mas acabou-se beneficiando também os pequenos produtores.

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Kanayo F. Nwanze, e Norman Borlaug

Para o sucesso dos pequenos produtores, é preciso que se identifiquem algumas produções de alto valor comercial, mas a maioria delas exige sofisticadas tecnologias. No caso do Vietnã, que passou por guerras violentas, o próprio governo optou por disseminar propriedades que tinham em média cinco hectares, para produções como de café e outros produtos que poderiam ser colocados no mercado internacional.

O próprio Incra – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, que presidi por muitos anos, contava como exemplo um projeto de grande sucesso, que produzia na Paraíba, no Nordeste brasileiro, em terras pobres, inhames de elevada qualidade, que eram exportados para a Suíça e Alemanha, conseguindo com uma cooperativa que estes produtores tivessem um elevado padrão de vida.

Outras pequenas propriedades, como produções de frutas, flores e vegetais que alcançam um valor elevado, exigem tecnologias avançadas, sempre difíceis de serem transmitidas para pobres agricultores. São os chamados “cash crops”, alguns que exigem um período para que entrem no auge de sua produção, como o café, cacau, tipos variados de nozes. Os investimentos indispensáveis em equipamentos agrícolas também são elevados.

A simples distribuição de sementes selecionadas, produzidas nos institutos de pesquisas, como a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, elevava a produtividade dos pequenos produtores, mas os grandes produtores utilizando pesados equipamentos agrícolas sempre tiveram maior capacidade para absorver novas tecnologias.

Parece, portanto, que existem dois meios para o aumento da produção agropecuária. A primeira, de grande escala, visando à eliminação da fome no mundo, produzindo o suficiente com custos decrescentes. De outro lado, a melhoria do padrão de qualidade de vida de pequenos produtores, como se consegue em países europeus e asiáticos, mas que exigem proteções dos seus mercados, além de tecnologias sofisticadas.

Nos países africanos, que ainda dispõem de grandes quantidades de recursos naturais, como solo e água, há que atacar em ambas as frentes. Produções em grande escala, como nas savanas, que apresentam semelhança com os cerrados, para os quais já se dispõem de tecnologias. Mas, também, onde os solos são férteis, algumas produções de alto valor comercial, como no Kenya, Colômbia e Vietnã, cujos produtos sejam comercializados nos mercados desenvolvidos, que exigem também pesados investimentos em logística e redes de distribuição.

Com muito trabalho e algumas orientações políticas claras, sempre haverá formas de atendimento adequado dos consumidores bem como dos produtores, mas somente o mercado parece incapaz de alocar adequadamente os recursos, exigindo regulamentações governamentais, no mínimo para evitar as acentuadas flutuações que costumam ocorrer nos mercados de produtos agropecuários.



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