Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

A Cerâmica Japonesa de Mashiko

3 de novembro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , , | 2 Comentários »

Uma interessante reportagem consta do suplemento semanal Insight do Japan Today, elaborado por Vick L. Beyer, relatando sobre a visita a Mashiko, que pode ser feita num dia a partir de Tóquio. Foi onde se consagrou um estilo de cerâmica japonesa de alta temperatura conhecida como “Mashiko Yaki”. Este tipo de cerâmica já tem mais de mil anos, e nesta região continua existindo mais de 400 fornos ativos, do tipo conhecido como o nome de “nobori gama”, ou seja, uma sequência de câmaras que aproveita o calor gerado pela queima de lenha por muitos dias seguidos. A cerâmica é inicialmente queimada no que se chama “biscoito” que, depois de receber decorações de esmalte natural, é queimado novamente a alta temperatura. Mashiko foi uma das localidades que visitamos há muitos anos a convite do JICA – Japan International Cooperation Agency para conhecer os variados estilos de cerâmicas japonesas.

Mashiko tornou-se internacionalmente dos mais conhecidos, pois foi onde o “tesouro nacional vivo” Shoji Hamada trabalhava e ensinou os primeiros ingleses que acabaram por desenvolver o “stone ware” que se espalhou pelo mundo. O título de Hamada é somente dado pelo imperador do Japão aos artesãos que mantêm as técnicas originais do passado, destacando-se dos demais mestres. As produções destes artistas são adquiridas pelo governo para serem expostos nos museus do país.

769px-climbing_kiln_mashikocatphotoJapan Mashiko plater temmoku and Kaki murata tsubo

A reportagem informa que Mashiko efetua duas feiras por ano, uma em novembro e outra em maio, recebendo milhares de visitantes. Mas também pode ser visitado durante o ano todo, pois existem, além dos museus, lojas que negociam seus produtos cerâmicos, que vão desde os utilitários para uso caseiro até peças artísticas de alto valor.

O passeio a Mashiko é extremamente agradável, podendo ser feito de trem e depois usar uma bicicleta alugada, mas durante as suas feiras fica impossível de se conseguir um lugar para o seu estacionamento. A visita necessita ser tranquila para apreciar todos os tipos de objetos que são utilizados utilizando-se a sua técnica que se diferencia dos demais centros de cerâmicas importantes do Japão. No caso japonês, não se distingue arte do artesanato, e tudo que é produzido pela mão humana ganha um valor especial, mesmo os que parecem múltiplos para serem utilizados na gastronomia, nos arranjos florais ou nas cerimônias de chá.

Algumas peças não são acessíveis aos bolsos comuns, sendo objeto de desejo de colecionadores especializados ou museus, sendo frequentemente utilizados nas decorações de instalações especiais de grandes empresas. Saber apreciar estes objetos exige um mínimo de conhecimento, como se observa em algumas cerimônias de chá para iniciados, cujo ritual envolve a apreciação da cerâmica utilizada.

Este tipo de cerâmica de alta temperatura chegou ao Brasil por duas vias diferentes. A primeira por intermédio de alguns artistas japoneses, notadamente depois da Segunda Guerra Mundial, que tinham adquirido seus conhecimentos em diversas “escolas” do Japão, alguns que desenvolviam seus próprios esmaltes a partir de variados materiais.

Mas também outros artistas estrangeiros trouxeram conhecimentos similares, principalmente da Inglaterra, que tinha absorvido as técnicas de Shoji Hamada, já na forma de “stone ware”, mas que não utilizavam os fornos “nobori gama”, e sim fornos de outros tipos com óleos combustíveis e até elétricos, mas de alta temperatura e variados tipos de esmalte.

Do intercâmbio de técnicas e o uso de criatividades dos brasileiros, alguns trabalhos apresentam originalidades que os distinguem dos de outras origens. Evidentemente, começam do barro e das lenhas que são diferentes, ao que se acrescenta os trabalhos dos artistas, mas ainda parece prematuro afirmar-se que existe uma cerâmica brasileira de alta temperatura, ainda que existam muitas diferenciadas de baixa temperatura.


2 Comentários para “A Cerâmica Japonesa de Mashiko”

  1. Ana Paula Silva
    1  escreveu às 12:37 em 3 de novembro de 2012:

    No bairro da Liberdade, em certa loja, vi peças de cerâmica japonesa belíssimas!

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 23:55 em 3 de novembro de 2012:

    Cara Ana Paula Silva,

    Existem hoje muitos ceramistas trabalhando no Brasil. A qualidade apresenta uma grande variação. Mas, alguns trabalhos são de nível internacional, mas normalmente encontrados em galerias especializadas.

    Paulo Yokota


Deixe aqui seu comentário

  • Seu nome (obrigatório):
  • Seu email (não será publicado) (obrigatório):
  • Seu site (se tiver):
  • Escreva seu comentário aqui: