Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Doze Samurais e Um Bando de Loucos

17 de dezembro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , , ,

Não sendo um comentarista de futebol nem torcedor do Corinthians, mas simplesmente brasileiro, só posso apresentar considerações sobre a importância deste Campeonato Mundial de Clubes da Fifa no Japão e sua final em Yokohama de outros ângulos mais simples. Na sua coluna na Folha de S.Paulo, Antonio Prata apresenta um artigo quase poético sobre a atual viagem profissional ao Japão e uma visita a um sushiya em Tóquio, de nome Ju Toku. Procurou saber de um cliente japonês que lá estava, com ares de habituée, o significado deste nome do estabelecimento. Foi-lhe explicado que ju significa em língua japonesa dez, e toku seria uma espécie de coração, coragem, esforço, bravura, expressão que transformou no título do seu artigo. Ele traçou um paralelo dos Sete Samurais, de Akira Kurosawa, com o lema da Fiel, “Lealdade, Humildade, Procedimento”, ao que poderia se acrescentar certo prazer pela vitória com muito sofrimento, quase um masoquismo.

Cerca de dez mil corinthianos do Brasil gastaram o que tinham e o que não tinham para ir ao Japão torcer pelo seu time, e eles mesmos se denominam um bando de loucos, porque isto não é das coisas mais racionais no mundo dos que se consideram normais, se é que eles existem. E eles estavam enfrentando na final em Yokohama o Chelsea, que é uma seleção inglesa de jogadores de cerca de sete diferentes países, de propriedade de um milionário russo. O valor dos passes destes jogadores do clube inglês deve superar em dezenas de vezes os dos jogadores corinthianos no mercado. Mesmo muitos dos torcedores do clube brasileiro não consideravam sua equipe os favoritos.

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Já postei neste site um artigo dizendo que não considero os seres humanos totalmente racionais. São movidos por paixões, emoções, e no futebol todos sabem que nem sempre são os melhores que vencem, talvez mais que em outros esportes. Parece que o Chelsea é formado por bons profissionais que procuram maximizar os seus benefícios financeiros, parecendo um pouco mercenários, ainda que não se possa condená-los por isto. Enquanto que os corinthianos pareciam movidos por uma forte emoção coletiva, a vontade de corresponder às loucuras de sua torcida, dos que conseguiram ir ao Japão como os que se espalham por muitas partes do mundo.

Torcidas organizadas de brasileiros residentes no Japão devem ter impressionados os japoneses, que costumam ser organizados como em outras finais a que assisti no Japão. Engrossaram os que se deslocaram do Brasil, formando uma corrente coletiva positiva que certamente estava contagiando os jogadores como os dirigentes do clube brasileiro. Havia um clima diferente em campo, capaz de superar as qualidades técnicas dos que estavam jogando, ainda que não se despreze a preparação que foi efetuada pela equipe técnica corinthiana.

Cássio, o goleiro brasileiro, foi reconhecido como a figura de maior destaque, que construiu uma barreira que os melhores jogadores do Chelsea não conseguiram superar, mesmo contando com outros jogadores brasileiros. Parecia que os deuses Shinto tinham atendido aos que foram rogar por seus favores. Algo como um milagre, que acontece no futebol, que o torna o esporte mais popular no planeta.

Vitória indiscutível, merecida, dentro e fora do campo, que acalenta os sofridos brasileiros. Como as nadeshikos serviram de inspiração para os japoneses que sofreram desastres naturais, que este novo troféu corinthiano inspire os brasileiros a superarem as dificuldades normais que se antepõem para a disseminação da alegria e o prazer de viver para os demais povos.



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