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Eleições Japonesas e o Editorial do Nikkei

17 de dezembro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , , | 2 Comentários »

À primeira vista, a vitória do PLD – Partido Liberal Democrata do Japão na eleição para a Câmara Baixa do último domingo foi arrasadora e com a sua tradicional coligação com o Komeito, partido de cunho religioso, teriam a maioria absoluta de dois terços, permitindo reformas significativas com um governo com forte suporte eleitoral. Anuncia-se que o novo governo a ser formalizado no próximo dia 26 de dezembro, que deverá ser comandado pelo presidente do PLD, Shinzo Abe, que já foi primeiro-ministro por um curto período, perseguiria a ativação da economia japonesa, promovendo uma desvalorização do yen, entre as medidas prioritárias, além de procurar adotar uma posição mais nacionalista. No entanto, o editorial do equilibrado jornal econômico japonês Nikkei, que deveria ser simpático ao PLD, adverte sobre o real significado do resultado eleitoral.

De um lado, como o voto no Japão é voluntário e compareceram 10% de eleitores menos que na eleição geral anterior de agosto de 2009, apesar da criação de novos partidos, deve-se compreender que a população não está satisfeita com a sua classe política. A leitura dos resultados deve ser que os eleitores votaram contra o atual governo do DPJ – Partido Democrata do Japão, que não conseguiu cumprir sua plataforma eleitoral apresentado nas eleições anteriores e organizar um governo razoável em coligação com outros partidos, e sofreu uma sensível diminuição dos seus representantes nestas eleições.

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Shinzo Abe

O atual governo não conseguiu melhorar a situação das famílias japonesas, apesar das suas promessas, sofrendo com a falta de recursos, em parte diante das dificuldades econômicas mundiais. Muitas disputas internas do partido prejudicaram seus resultados. A reforma fiscal não foi apoiada por muitos dos seus representantes que preferiram deixar o DPJ. Não conseguiram administrar a presença das tropas norte-americanas no Japão, e teve atritos com os burocratas, sendo atingido pelas consequências das catástrofes naturais no nordeste do Japão. Muitos dos seus líderes não foram reeleitos, e perderam mais de 80% de suas cadeiras, que eram de 308 representantes.

Segundo o editorial do Nikkei, o verdadeiro teste para o PLD deverá ocorrer nas eleições da Câmara Alta, em agosto do próximo ano. O PLD, mesmo coligado com o Komeito, não possui maioria atualmente no que corresponde em outros países ao Senado Federal. Entende que os eleitores não votaram no último domingo no PLD, mas na opção que achavam menos ruins.

Os atritos com a China e a Coreia, pelas disputas de ilhas, fizeram com que muitos eleitores conservadores votassem no PLD. O seu presidente necessita formar um gabinete com nomes expressivos que possam resolver os problemas japoneses internos e externos.

Segundo o editorial, o Japão precisa romper com a política que não pode decidir sobre assuntos fundamentais, mantendo-se iludido por muitos anos. Se os representantes eleitos no último domingo não tiverem a consciência da importância política dos assuntos a serem decididos, o destino do Japão pode estar em perigo.

São muitos os analistas no exterior que imaginam que o Japão precisa estabelecer uma política clara, tanto para cuidar de sua economia e assuntos internos como também definir o seu posicionamento externo, reduzindo a sua dependência da aliança com outros países, notadamente os Estados Unidos que não têm mais condições de manter a segurança de todo o Pacífico.


2 Comentários para “Eleições Japonesas e o Editorial do Nikkei”

  1. mike
    1  escreveu às 23:04 em 18 de dezembro de 2012:

    Shinzo Abe aguenta o stress desta vez?
    Em relação a uma política de desvalorização do iene, qual o motivo para implementá-la e quais seriam seus prós e contras?

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 18:32 em 19 de dezembro de 2012:

    Caro Mike,

    Acredito que Shinzo Abe conta no momento com maior suporte, inclusive de seus aliados, mas o seu sucesso vai depender da determinação de todas as lideranças japonesas, não só dos políticos. Ele precisa montar um ministério competente, ciente das dificuldades que estão a frente do Japão. A desvalorização do yen corresponde a redução do salario real dos japoneses, fazendo com que seus produtos se tornem competitivos com os dos seus concorrentes estrangeiros. Deve aumentar pressão inflacionária, num pais que sofre de desinflação por um longo período, e o poder de compra dos japoneses ficará relativamente reduzido, fazendo com que fiquem dependentes de um aumento das exportações, e redução das importações. Isto decorre da política idêntica que vem sendo adotada pelos Estados Unidos, que estão se recuperando lentamente, mas com prejuizos para seus parceiros comerciais no exterior.

    Paulo Yokota


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