Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

O Livro de Jo Takahashi Sobre a Arte de Shin Koike

19 de dezembro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Gastronomia, Notícias, webtown | Tags: , , , ,

Jo Takahashi é um dedicado, persistente e competente produtor cultural com longa experiência da japonesa no contexto universal, aprofundado ao longo de uma rica experiência de trinta anos de trabalho profissional na Japan Foundation. Hoje, ele se dedica à sua Dô Cultural, uma empresa que vive das atividades culturais com sucesso, o que não é uma tarefa fácil para ninguém, mesmo para ele. Jo é o criador e mantenedor do portal Jojoscope, indispensável para acompanhar tudo que acontece de importante ligando a cultura japonesa principalmente com o Brasil.

Mesmo dentro da profusão de trabalhos que deve exigir a sua participação pessoal, que deixa a sua marca indelével, encontrou tempo para escrever um livro imperdível. Não se trata somente da contribuição do chef japonês Shin Koike para a gastronomia brasileira que me pareceu inicialmente como o objetivo principal, mas da elaboração da rica moldura em que tudo isto acontece, do encontro fértil da profunda e consolidada cultura japonesa com o dinâmico e vivo contexto brasileiro.

A-Cor-do-Sabor

Numa preciosa edição, com a ajuda de fotos de elevada qualidade de Tatewaki Nio, Jo Takahashi traça numa visão panorâmica de tudo que é essencial na evolução da cultura japonesa, notadamente no que se refere à alimentação de alto nível.

Explica o contexto em que Shin Koike se formou, absorvendo além do que era a essência da culinária japonesa. Sem a problemática da fusão cultural universal que ocorria na época, não só no Japão como em todo o mundo, notadamente na gastronomia, não seria possível que um chef japonês viesse a interessar por tudo que se dispõe na biodiversidade brasileira, dentro de um clima tropical e um amplo quadro humano.

Este não é um movimento isolado, mas também ocorre com em outros setores da atividade humana com japoneses, como Hideaki Iijima ou Kimi Nii, que se radicaram no Brasil e vão além das atividades principais que exercem. Mas também brasileiros, como Ed Motta, em direção ao Japão. São todos artistas, ainda que com ênfase em setores diferentes.

Como coloca Jo Takahashi, os instrumentos de corte como a faca e a tesoura são descendentes diretos do katana dos samurais. Na Expo Tsukuba 85, o seu Pavilhão Tema apresentava a forja do katana e a cultura do arroz como as essências da cultura japonesa. Como comissário do governo brasileiro, tive o privilégio de levar Nara Leão e Roberto Menescal para aquela Expo, certamente mais veteranos que Ed Motta, mas a criatividade da música brasileira estava presente, com o que ela tem de melhor.

A cerâmica, também fruto do trabalho humano com o barro, sofre a ação do fogo, e no início das queimas nos noborigamas de respeito no Japão costuma haver uma cerimônia Shinto, onde o artista afirma que fez o máximo que lhe cabia, e entregava aos deuses do fogo para o seu trabalho final sobre o barro. E a cerâmica não é somente para uma apresentação estética da culinária, mas que contribui essencialmente para o seu sabor.

Ainda que o livro contenha também algumas receitas originais de Shin Koike, com as ricas fotos do seu trabalho, Jo Takahashi conseguiu colocar este trabalho num nível mais elevado, com de um profícuo intercâmbio cultural.

Uma jornada para Ilha Grande, no litoral norte de São Paulo, mostra outro aspecto fundamental da gastronomia, que é desfrutar o prazer com o uso do que melhor se dispõe na localidade, uma marca que também diferencia o trabalho de Shin Koike.

Os que tiverem a oportunidade de folhear este livro, examinando cuidadosamente o seu conteúdo, vão notar que ele vai muito além da culinária. Já o foto desta sua capa mostra o chef com um simples chuchu, como a mostrar a sua intenção quase zen. Aliás, o nome de preferência de Shin Koike é A1, que pronunciado Aum tem um sentido religioso zen, que vai da admiração “Ah” ao ver uma figura espantosa num dos lados das entradas de muitos templos, e “Hum” pensativo vendo a outra figura no lado oposto. A expressão foi o nome do primeiro restaurante e do mais recente, o Sakagura A1.



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