Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Incompreensível Surpresa com a Desaceleração Chinesa

29 de abril de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , ,

Verificando-se o noticiário recente nos principais meios de comunicação social internacional, constata-se que predomina uma surpresa com a sensível desaceleração do crescimento da economia chinesa neste começo de 2013. Ao mesmo tempo, tanto o novo primeiro-ministro Li Keqiang como o presidente Xi Jinping não mostram nenhuma preocupação com o que está acontecendo, que está dentro das decisões dos dirigentes do Partido Comunista Chinês, como já anunciado desde no final do ano passado. Parece que o mundo não acreditava que a meta de crescimento do próximo quinquênio que se situa entre 7 a 8% ao ano, com reformas estruturais e mudança da estratégia para ampliação do mercado interno, reduzindo a dependência das exportações era para valer, tratando-se somente de retórica, como costuma ocorrer com muitos políticos. Se existe alguma surpresa é com este noticiário, pois estas cifras continuam sendo elevadas, mesmo admitindo que já se manifestem pressões inflacionárias.

Todos sabem que as decisões na China não dependem somente de poucas pessoas, mas existe um razoável consenso dentro do Partido, onde estão representados os mais variados segmentos da sociedade chinesa. Todos sabiam que era impossível manter o crescimento que vinha se observando nos últimos anos, principalmente depois da crise que afetou o mundo após 2007/2008. A desaceleração é mundial, e mesmo os esforços dos Estados Unidos, da Europa, do Japão e dos países emergentes não indicam que haja resultados mais otimistas. A China está efetuando o que é possível, pois não haveria como manter o crescimento anterior, porque as necessidades de reformas tornaram-se importantes, e há uma forte pressão para a melhoria do mercado interno.

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Presidente Xi Jinping e primeiro-ministro Li Keqiang

As mudanças na China deverão ser hercúleas, pois até agora o seu crescimento dependia fortemente das estatais e dos investimentos em infraestrutura, que já era insustentável. Todos sabem que a eficiência nestes setores não é dos mais elevados, e a China passa a depender fortemente do seu setor privado, ainda que suportado pelo apoio oficial.

Não havendo mais um dinamismo tão forte na economia mundial, a China não poderia continuar dependendo de suas exportações, pois o seu câmbio não pode ser mantido tão desvalorizado como no passado, os subsídios governamentais não podem continuar tão substanciais e o custo da mão de obra já dá sinais de crescimento, ficando acima de outros países vizinhos da Ásia.

A distribuição de renda na China, como na maioria dos processos de desenvolvimento acelerado, piorou sensivelmente, com poucos novos milionários, e uma grande massa de pobres absolutos, notadamente no seu setor rural. A migração do meio rural para o urbano veio sendo controlada pelo governo, mas não parece possível que continue na mesma situação.

Sempre houve uma forte utilização da mão de obra feminina, e a população chinesa está se envelhecendo, e sua taxa de natalidade deve baixar, até pela carência relativa de mulheres, como decorrência da política adotada no passado. A política de filho único para a maioria Han, mais efetiva no meio urbano, também não parece mais possível de ser sustentada.

As reformas a serem promovidas na China são profundas e devem reduzir temporariamente a sua capacidade de crescimento, e na medida em que vai atingindo um nível intermediário de renda, a manutenção de taxas elevadas de crescimento tornam-se mais difíceis, naturalmente.

Com todas estas razões e outras não alinhadas, como os problemas de corrupção e baixa eficiência da burocracia estatal, o surpreendente seria que a China continuasse crescendo, principalmente quando esforços militares passam a exigir muitos recursos. Parece necessário acreditar-se mais no que seus organismos políticos, como o Partido, afirmam.



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