Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

O País Impossível Chamado Coreia do Sul

29 de abril de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , , , , | 2 Comentários »

Confesso que sou um economista antiquado que enfrenta dificuldades com as atuais análises telegráficas e superficiais que se intensificaram com o uso da internet. Fico entusiasmado quando encontro um trabalho de fôlego como este livro “Korea – The Impossible Country”, do jornalista e escritor Daniel Tudor, Editora Tuttle, Hong Kong, elogiado por toda a imprensa internacional de peso. O autor é correspondente do The Economist na Coreia, além de colaborador regular do Newsweek Korea e outras publicações. Ele conta com uma sólida formação na Oxford University e Manchester University e elaborou um trabalho quase enciclopédico que não pode ser perdido por quem se interessa em compreender a Coreia, com todas as suas profundas raízes. A Coreia que provocou um milagre tornando-se uma economia desenvolvida e democrática, superando todas as suas limitações de um país impossível.

Os meus primeiros contatos com a Coreia foram em torno de 1963, quando ajudava o Advisory Committee on Technical Service do Conselho Mundial de Igrejas. Em colaboração com o Committee of Refugies das Nações Unidas, ajudamos a promover a primeira imigração dos coreanos para o Brasil, logo depois do armistício na guerra entre o Sul e o Norte, que ainda não terminou como sempre noticiado até recentemente. A Coreia estava arrasada, quase perdendo a sua identidade. Os contados seguintes foram em torno de 1985, quando supervisionava inclusive o escritório de Seul de uma trading brasileira com muitas viagens para aquele país. Eles foram renovados recentemente com a presença do embaixador Edmundo Fujita, meu amigo pessoal, como representante do Brasil naquele país.

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O livro começa com uma breve história da Coreia. Aprofunda na primeira parte os seus fundamentos desde o xamanismo dos primitivos coreanos, as particulares influências budistas, as contribuições confucionistas que contribuíram com a China, o Japão, a Coreia e o Vietnã. As presenças cristãs que são acentuadas naquele país asiático, ate chegar ao atual capitalismo com a face coreana, bem como a democracia com os valores asiáticos. Algo que não consta em conjunto num só livro e que serve de paralelo para outros países daquela importante região do mundo.

Na segunda parte, o autor aprofunda na análise dos códigos culturais da Coreia, como o jeong, que ele denomina o abraço invisível, a acirrada competição, o chemyon, que ele chama de face que é importante na maioria da Ásia, o han e heung, que o autor denomina a profunda tristeza e a pura alegria da mente coreana, os clãs coreanos onde predominam os nomes de algumas famílias e a neofilia, ou novas expressões que adotam. Algumas destes conceitos apresentam diferenças que se diferenciam por países asiáticos, ainda que existam algumas coisas comuns.

Na terceira parte, o autor trata da fria realidade coreana, tratando do complexo relacionamento com o Norte, a política e a mídia naquele país colocada em situação extrema, os trabalhadores que são como soldados que se destacam pelo empenho até hoje dos demais asiáticos, o que é mais importante que os negócios para os coreanos, o que entende como um casal coreano perfeito e a mania do aprendizado da língua inglesa que se expressa no desejo de estudar nos Estados Unidos.

Na quarta parte do livro, o autor faz um apanhado do que os coreanos fazem quando não estão trabalhando, suas formas de morarem, as estações do ano nos seus jantares, as suas diversões, a intensidade de seus trabalhos e diversões. Comparando com outros países vizinhos, pode-se afirmar que tudo é mais intenso na Coreia, até em exagero.

Na quinta parte, o autor procura diferenciar o que eles consideram dos coreanos, dos estrangeiros e outros, o que acontece com a Coreia multicultural, como eles se consideram a bola da vez, que não se consideram alienígenas, referindo-se também num item sobre o papel das mulheres na Coreia.

O livro termina por resumir o que pode se desprender do que foi exposto, que certamente é um sucesso a ser comemorado, mas reconhece as elevadas pressões sobre as quais vivem os coreanos, como mostrado lamentavelmente pelas suas estatísticas de suicídios.

O livro mostra o quanto é necessário para compreender um povo, e mesmo que algumas generalizações sejam permitidas, existem diferenças entre os indivíduos que reagem de forma diferente aos problemas que são colocados. O mínimo que este livro provoca é uma profunda reflexão, para analisar problemas que podem ser comuns com outros povos, mas apresentam algumas características diferenciadas, que determinam seus sucessos como suas dificuldades.


2 Comentários para “O País Impossível Chamado Coreia do Sul”

  1. Juliana Cruz
    1  escreveu às 11:05 em 23 de março de 2015:

    Sabe dizer, se este livro já se encontra disponível na versão em português?

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 02:20 em 25 de março de 2015:

    Cara Juliana Cruz,

    Lamentavelmente não.

    Paulo Yokota


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