Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

China Atual é Comparável ao Japão do Passado?

23 de julho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , ,

Há uma acentuada preocupação com a economia chinesa nos meios financeiros, e o Financial Times vem apresentando variadas análises como a recente publicado no FT Alphaville pela dupla Kate Mackenzie e David Keohane. Eles acreditam que, com a redução do crescimento econômico chinês, é difícil continuar com o mesmo sistema social, político e legal. Socorrem-se de outro artigo publicado por Stephen Green do Standard Chatered que aponta quatro desequilíbrios dinâmicos: como encaram a urbanização, o modelo investimento/financeiro, as relações entre o governo e provedores de serviços, e o papel do governo. Comparam com outros países asiáticos que passaram no passado de emergentes para desenvolvidos, como o Japão. Referem-se ao sistema financeiro comandado, que pode ser discutido.

Evidentemente, o Japão que perdeu na Segunda Guerra Mundial teve que promover diversas reformas com a ajuda dos aliados, deixando que o seu Ministério das Finanças efetuasse um amplo controle financeiro da economia. Segundo as análises, isto teria conduzido a diversas distorções que resultaram na recente longa recessão, em que apareceram algumas soluções temporárias. Um elevado superávit comercial, um déficit orçamentário e uma bolha inflada. Algo parecido estaria ocorrendo na economia chinesa, mas parece que as condições prevalecentes podem ser discutidas, dadas as grandes diferenças existentes entre as duas economias.

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Parece que os analistas relacionados com o sistema financeiro exageram na sua importância, ainda que não possa ser desprezada. O que poderia explicar o crescimento da economia japonesa no pós-guerra foi a assistência dada pelos aliados dentro do Plano Marshall, como ocorreu também na Alemanha e na Itália, também derrotados na Segunda Guerra Mundial. O Japão beneficiou-se também da Guerra da Coreia como fornecedor privilegiado.

O desenvolvimento japonês foi comandado pelas melhorias tecnológicas implementadas pelo setor da indústria pesada, enquanto tanto o setor comercial como bancário eram braços auxiliares. Mesmo com a importância do Ministério das Finanças, o MITI – Ministério de Indústria e Comércio Exterior teve grande importância com as pressões das grandes indústrias pesadas. No entanto, não tinham independência militar, e foram obrigados a aceitar acordos como o de Plaza, que valorizara o seu câmbio de forma a reduzir a sua competitividade internacional, que parece ter influenciado na sua longa estagnação. Evidentemente, o setor financeiro também teve algumas responsabilidades que provocaram a bolha, que, depois de estourada, contribuiu para suas dificuldades.

No caso chinês, tudo indica que o crescimento das últimas décadas decorreu de sua inserção à economia globalizada, com a redução do seu atraso relativo, utilizando seus abundantes recursos humanos e estabelecendo zonas especiais de exportação, e a disseminação dos mecanismos de mercado. Que muito do seu crescimento decorreu de incentivos financeiros concedidos pelo governo não se pode duvidar.

A natureza dos problemas parece apresentar poucas semelhanças, ainda que sempre seja possível identificar algumas. Na China, a economia, mesmo com a utilização do sistema de mercado, veio sofrendo um forte comando centralizado, que apresenta muitos problemas. No Japão, o papel do governo veio sendo de atender as demandas do setor privado, politicamente influente.

Os chineses parecem ter identificado suas dificuldades, tanto que as reformas estavam sendo sugeridas pelo Partido Comunista Chinês, ficando o presidente Xi Jinping e o premiê Li Keqiang encarregados de suas execuções, que não são tarefas fáceis.

Ainda que seus problemas do sistema financeiro e bancário sejam os mais agudos, todos os analistas mais experientes sabem que as mudanças no setor real são mais complexos, demandando medidas que não podem ser alteradas facilmente pelas autoridades.

Mas parece que os problemas apresentam maiores diferenças que semelhanças nas duas economias, ainda que em períodos históricos diferentes.



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