Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Discussão Sobre os Biculturais no Japão

31 de julho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: ,

Num longo e interessante artigo elaborado por Louise George Kittaka e publicado no The Japan Times, discute-se o problema de jovens criados na cultura estrangeira e japonesa simultaneamente. Segundo a autora, os japoneses sabem o que são e o mesmo acontece com os estrangeiros, mas os filhos de estrangeiros nascidos no Japão enfrentam dificuldades por serem diferentes, que acabam sendo tratados de forma diferenciada. Hoje, na TV japonesa como nos seus comerciais apresentam muitos que são chamados “half”, e a autora elabora sobre o assunto, usando um personagem com o nome fictício de Hiroki, um estudante universitário trabalhando part time numa cadeia de gyudon (um pote de arroz com carne).

Ele é filho de mãe norte-americana e pai japonês e adotou oficialmente um nome duplo, tanto japonês como oriental que usa para tudo, mas seus problemas começaram no emprego e na conta bancária, pois escreveu John em katakana (alfabeto silabático), o que já chamou a sua atenção no recrutamento para o emprego. Confirmado que ele era japonês, foi-lhe solicitado um documento chamado juminhyo, ou seja, o certificado de residência. Depois foi observado que ele aparecia como do sexo feminino no documento, mas ele era transexual, mas no documento de registro de família, o koseki, só poderia se admitir esta situação depois da cirurgia reconstrutiva total.

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Ilustração de Adam Pasion publicado no Japan Times

O assunto despertou a ira dos seus pais que procuraram se entender com a empresa sobre a discriminação, mas seus funcionários também alegavam exigências legais. Como uma empresa que contrata japoneses e estrangeiros não se pretendia a discriminação, mas o caso era algo especial.

Algo semelhante acontece com outros que possuem pais de duas nacionalidades, apresentam o seu cartão de visita com o nome em katakana, mostrando que é um half, mesmo que venha trabalhando no Japão por dezenas de anos, sendo prejudicado em alguns casos.

Há casos em que só dão os nomes em japonês, que como o sobrenome também em japonês, podem ser escritos em kanji (ideogramas). Existem países, como na Alemanha, onde se solicita que se use um nome que permita a identificação do sexo. Mas, também existem dificuldades em outros países, como no Brasil, onde os nomes terminados em “o” são masculinos, quando no japonês as terminações em “ko” costumam ser femininos. Tive como minha primeira professora, uma pioneira que terminou o curso superior na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, antes da Segunda Guerra Mundial, que se chamava Yoneko, mas o seu nome foi mudado para Yoneka.

Hoje muitos jovens japoneses tingem a cor do cabelo, mas ainda existem escolas que não os permitem. Os casamentos de pais de duas nacionalidades estão aumentando, chegando a um em cada 20, obrigando o Japão a rever a sua orientação em muitos casos.

Na realidade, existem alguns japoneses com dupla nacionalidade, o que é menos comum que na Europa. Eu, que me chamo Paulo, também tenho ambas as nacionalidades, mas para facilitar este entendimento acrescentei o nome que tenho no registro japonês, em ambos os passaportes.

Estes problemas acabam sendo mais graves quando os descendentes de japoneses que hoje moram no Japão, tendo a face como os locais, mas não entendem o idioma local, muito menos estão capacitados a ler os muitos ideogramas. Muitas vezes acabam sendo considerados analfabetos, havendo casos em que os japoneses acham que estão sendo motivos de gozação, pois não existem japoneses analfabetos. Pedir a orientação para um japonês sobre uma localização, pode em alguns casos gerar uma agressiva resposta: V. não sabe ler? Por via das dúvidas, é melhor começar a pergunta informando que é um estrangeiro.

Tudo isto vem demonstrando quanto é difícil conviver com diferentes culturas mesmo no atual mundo globalizado.



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