Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

As Relações do Brasil e Estados Unidos no The Economist

22 de setembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , , ,

Lamentavelmente, sempre existem as versões oficiais, os mitos alimentados por variados interesses e as duras realidades difíceis de serem identificadas nas relações entre dois grandes países. O Brasil e os Estados Unidos, os dois maiores das Américas, queiram ou não, convivem razoavelmente, mantendo apreciável nível de comércio, investimento e financiamento, tradicionalmente abaixo do que poderia ser esperado. Têm muitas vezes posições políticas comuns expressas pelos seus governos, outras divergentes, agradando a uns, contrariando outros. O que se pode dizer atualmente é que estas relações entre os dois países não estão confortáveis para ninguém. A revista The Economist dá a sua visão, comentando o adiamento da visita de Estado da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos que estava prevista para o próximo mês de outubro.

As visitas de Estado, que são raras, diferem das de trabalho e outras por serem marcadas por protocolos solenes. Envolvem revistas às tropas formadas, jantares formais, incluem normalmente visitas aos Legislativos e até aos Judiciários, marcando as relações entre dois países, que eventualmente podem estar representados pelos seus chefes de governo nos regimes presidencialistas. Mas são diferentes nos regimes parlamentaristas que contam também com outros chefes de Estado. Quando monárquicos, envolvem os reis ou os imperadores que desempenham este papel, mesmo quando constitucionais. Tais ocasiões costumam ser enriquecidas com as assinaturas de diversos acordos. Costumam ser utilizadas, de comum acordo, para reafirmar a importância dada às relações bilaterais.

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Ainda que nos bastidores todos saibam que existem espionagens efetuadas por instituições especializadas, inclusive de interesses comuns, quando elas são divulgadas acabam provocando constrangimentos. Entre muitos de interesse comum existem os relacionados com o tráfico de drogas, remessa de recursos sonegados e até atividades terroristas, que costumam ser mantidos em sigilo. As possibilidades que estes sistemas sejam desviados para outras atividades, inclusive de interesse comerciais ou políticos, sempre existem, pois não são controlados oficialmente.

Quando se utilizam comunicações que envolvem satélites, seus controles acabam sendo mais operacionais. Os mais informados sabem que sempre existiram espionagens empresariais, sendo comum o uso de sistemas criptografados que também não garantem totalmente os seus sigilos.

Os constrangimentos ficam evidentes quando a imprensa acaba sendo informada por divulgações como as feitas por Edward Snowden, envolvendo a NSA – United States’ National Security Agency, e informando que a presidente Dilma Rousseff e componentes do seu governo, bem como a Petrobras estavam sendo acompanhadas nas suas comunicações, que se esperavam contar com um sigilo assegurado, ainda que com sistemas reconhecidamente frágeis.

Devem-se contrapor estas informações com as invasões dos sistemas do Departamento de Defesa dos Estados Unidos pelos chamados hackers. Eles devem contar com informações estratégicas que envolvem a segurança nacional como internacional de países com grandes arsenais de avançados equipamentos militares, capazes de abalar o mundo senão destruí-lo. Seria um exagero supor que o governo brasileiro tenha uma importância estratégica mundial mais relevante.

O presidente Barack Obama e a presidente Dilma Rousseff discutiram o assunto em mais de uma oportunidade, e concordaram que a visita de Estado seria adiada, pois não existia mais clima para a mesma. No fundo, desconfia-se que não havia substância suficiente em assuntos bilaterais, fazendo com que a sua suspensão só tivesse custos relacionados com os naturais desgastes destes cancelamentos junto à opinião pública.

Existem especulações que fornecimentos norte-americanos de aviões militares estariam prejudicados. As informações disponíveis dão conta que nem sempre eles eram os preferenciais, principalmente diante das restrições passadas a fornecimentos de equipamentos militares para terceiros países, além dos seus elevados custos por diferirem dos que vinham sendo utilizados, como os franceses.

Arrolam-se as dificuldades relacionadas com os leilões de novos lotes de concessões para a exploração da região do pré-sal. Os especialistas no assunto mencionam outras dificuldades para que as grandes operadoras de petróleo mundiais mostrem os seus desinteresses.

Ainda que se possa especular sobre os prejuízos nas posições geopolíticas internacional entre os dois países, parece evidente que estas diferenças já perduram por anos, e uma reversão do quadro dependeria de um trabalho mais profundo por décadas, o que parece não estar acontecendo nas diplomacias dos dois países, que aparentam contar com outras prioridades.



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