Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Diferentes Percepções das Distribuições de Renda

8 de setembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , ,

Os seres humanos parecem aspirar ao máximo de igualdade que aparentam contar com percepções diferentes dependendo do nível de renda dos países em que se vive. Carol Graham, que é da Brookings Institute e professora na Universidade de Maryland, publicou um artigo no Project Syndicate sobre a possível quebra do sonho americano, constatando que a distribuição de renda nos Estados Unidos está piorando, principalmente com a recente crise. O mesmo pode-se dizer sobre o Japão, que tinha, segundo muitos analistas, uma boa distribuição de renda, e passa por um longo período de baixo crescimento econômico que tenta superar agora. Nestes países de elevado nível de renda, possivelmente este problema é menos crítico do que naqueles emergentes, que tentam melhorar a sua distribuição, mas ainda conta com renda modesta, como o Brasil e mais dramaticamente a China.

Segundo Carol Graham, entre 1997 a 2007, a participação das famílias que estão no topo da pirâmide, representando somente 1% da população, elevaram 13,5% de sua participação, o que realmente é assustadoramente alto, e poderia estar acabando com o sonho americano, representado pela possibilidade de ascensão social daqueles que se empenham economicamente. Mas, como a despesas de atendimento social são razoáveis, isto não provocou ainda uma reação forte. A mesma tendência parece observar-se no Japão, que também vem piorando sua situação, com o enriquecimento de uma pequena parcela da população, mesmo no quadro de baixo crescimento observado nas últimas décadas.

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Carol Graham

O que se constata é que nos processos de desenvolvimento rápido como o que se verifica na China nas últimas décadas, há uma tendência de piora na distribuição de renda, pois os mais qualificados acabam aproveitando as oportunidades que aparecem, elevando substancialmente suas rendas. É também o que ocorreu no Brasil, onde todos melhoraram, mas alguns melhoraram bem mais que os outros, no período do seu acentuado crescimento.

Indubitavelmente está se registrando uma forte redistribuição de renda no Brasil, diante de uma decisão política que veio beneficiando os salários mínimos, ajudada pela concessão de alguns benefícios sociais aos menos favorecidos. Isto teve o condão de criar uma nova classe média, mas o país ainda conta com uma má distribuição de renda, ainda que eliminado uma parte de sua miséria absoluta. Evidentemente, os que estavam no topo da pirâmide de renda, ou nos segmentos mais abastados, nem sempre ficam satisfeitos, imaginando que esta redistribuição não contribui para o crescimento total da economia.

Evidentemente, a concentração de renda permite uma taxa mais elevada dos investimentos privados, que acabam sendo importantes na elevação da taxa de crescimento da economia. Mas os ajustamentos que são mais de natureza política acabam exigindo que também haja um crescimento na base, que tem uma dimensão maior no total da economia.

Mesmo economias como a chinesa se sentem forçadas a introduzir reformas nas suas políticas econômicas, para não se tornar insustentável do ponto de vista político. O processo não é fácil e acaba encontrando resistências apreciáveis.

Mas tudo indica que a melhoria da comunicação social no mundo globalizado acaba aguçando a consciência geral que distribuições muito desiguais da renda não são sustentáveis por um prazo mais longo. Até nos países que eram relevantes pela brutal disponibilidade de recursos minerais, como o petróleo, acabam necessitando de uma diversificação de sua economia, pois a população acaba aspirando maior participação política, que redunda na melhoria na distribuição da renda.



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