Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Dificuldades dos Estrangeiros Entenderem os Japoneses

24 de novembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: , , , | 2 Comentários »

Duas matérias publicadas neste sábado na forma de colunas na Folha de S.Paulo mostram como mesmo os brasileiros bem informados contam com dificuldades para entender os japoneses em alguns dos seus comportamentos, no que é básico para todos os seres humanos, a preservação da espécie e a alimentação. O primeiro elaborado por Alexandre Vidal Porto, escritor e diplomata, que leva o título “A economia do sexo” tratando do assunto entre os japoneses, e o segundo de Álvaro Pereira Junior, com o título ¨Churrasco de aorta”, quando procurou um lugar para se alimentar nos meandros de Osaka.

No primeiro, o colunista se confessa que nunca compreendeu como um casal japonês chega do primeiro contato à intimidade física e cita outros meios de comunicação como o The Guardian e a BBC que teriam dificuldades semelhantes com relação ao sexo no Japão. Eles, que são ingleses, informam que cerca de 45% das mulheres e 25% dos homens japoneses da idade entre 16 a 24 anos se declaram desinteressados em sexo, o que não parece refletir a realidade, mas a formalidade. O autor constata que a indústria de pornográfica japonesa movimenta bilhões de dólares, e a arte erótica no país é conhecida desde o século XIV. Para ele, o sexo dos japoneses parece momentâneo, não se relacionando com um relacionamento amoroso mais profundo, o que parece extremamente injusto, ainda que sua interpretação possa ser diferente.

shibuya

O colunista informa que 70% das mulheres japonesas deixam seus empregos para ter filhos. Para os homens, casar e ter filhos representa a obrigação de cuidar da família, sendo que o vazio emocional é preenchido por hobbies. Haveria uma redução da população, estimando-se que em 2060 o Japão perderia um terço de sua população. Na Inglaterra, segundo o autor, 50% das crianças nascem fora do casamento, o que parece um exagero, enquanto no Japão somente 3%. O problema do crescimento demográfico seria uma preocupação governamental japonesa, mas estaria ocorrendo em grau diferente no Brasil como em todo o mundo, afetando as economias, segundo o autor.

No outro artigo, Álvaro Pereira Junior informa que procurou nos becos de Osaka um lugar para comer, pois a cidade teria fama de ser o maior centro gastronômico do mundo. Teria chegado ao bairro de Namba, no lugar conhecido como Hozen-ji Yokocho, que concentra muitos restaurantes estrelados pelo Michelin, que como em todo o mundo nada significa. Os bons restaurantes japoneses vivem dos seus habituês e não de eventuais turistas que usam estes guias.

Boas culinárias podem ser encontradas em estabelecimentos simples nos becos como os citados. Mas, como em qualquer localidade, é preciso contar com as indicações dos conhecedores que não se orientam pelas aparências. O autor acabou no único lugar que tinha uma indicação em letras romanas, “yakiniku” que ele conhecia. Trata-se de um grelhado de carnes pobres, bastante temperado que serve como acompanhamento para cervejadas, normalmente feito em grupo. Quando sozinhos, os japoneses costumam ocupar um lugar num balcão para conversar com quem está servindo, como nos bares ocidentais. Ele foi encaminhado para uma pequena sala reservada, onde ficou sozinho, onde acabou sendo servido inclusive com muitas partes de carne bovina, inclusive a aorta que virou título. Ele mesmo tinha que grelhar estes petiscos, o que diante da falta de conhecimento, acabava passando do ponto.

Estas duas colunas parecem expressivas das dificuldades dos estrangeiros entenderem os japoneses. Os descontraídos brasileiros interpretam de forma distorcida a formalidade japonesa. É claro que sexo real é um assunto íntimo e reservado, sendo somente discutido de forma mais ampla com ambiguidades nas conversas de bares e com gueixas, sendo que as acompanhantes evitam o nome de hostess para não serem confundidas com prostitutas profissionais.

O número de motéis no Japão é extremamente elevado, desde muitas décadas, mais que em muitas cidades ocidentais, o que indica que os casais praticam o sexo mesmo não casados, mas não com as descontrações de praias tropicais como as brasileiras. Mas o que acontece dentro de um quarto não é motivo para conversas, mesmo entre amigos. A pressão social existente no Japão evita filhos de não casados, ainda que existam principalmente entre os mais abastados, que acabam arranjando casamentos formais para acobertar o adultério. O que parece mencionado pelo autor refere-se aos programas com profissionais, que podem excluir sentimentos amorosos.

A queda do crescimento populacional, se acentuado no Japão, está ocorrendo em todos os países, principalmente desenvolvidos. O que parece mais frequente nos países desenvolvidos do Ocidente é a quantidade de divórcios para novos casamentos, o que ainda é relativamente baixo no Japão. O emprego está fazendo com que mulheres, mesmo no Brasil, tenham filhos mais tarde, e em número mais limitado.

Mas estes dois assuntos não contam com regras rígidas, sempre havendo possibilidade para interpretações diferentes, respeitando-se as opiniões dos colunistas.


2 Comentários para “Dificuldades dos Estrangeiros Entenderem os Japoneses”

  1. Carlos Silva
    1  escreveu às 12:45 em 26 de novembro de 2013:

    Dr. Yokota:

    Excelente artigo. Parabéns!

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 20:46 em 26 de novembro de 2013:

    Caro Carlos Silva,

    Obrigado pelo comentário.

    Paulo Yokota


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