Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Discussões Sobre a China Continuam em Pauta

21 de novembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: , ,

Os que imaginam que o desenvolvimento é um processo fácil devem observar o que está ocorrendo na China que, apesar das suas dificuldades, empenha-se no estabelecimento estratégico de entendimentos com a cúpula da Comunidade Europeia. Ao mesmo tempo em que é criticado por estudiosos como Josef Joffe, autor do livro “The Myth of America’s Decline” (tradução livre, o Mito do Declínio Americano), que estudou também aquele país. O presidente Xi Jinping da China encontrou-se com o presidente Herman Van Rompuy do Conselho Europeu e o presidente Jose Manuel Barroso da Comissão Europeia, na reunião de cúpula do novo governo chinês com a União Europeia, segundo o China Daily. Justin Fox da Harvard Business Review entrevistou Josef Joffe, que analisou os países que poderiam disputar com os Estados Unidos a supremacia da liderança econômica e política mundial, apontando os problemas que a China deve encontrar.

O que o presidente da China espera é que a União Europeia promova novas áreas de cooperação, incluindo a urbanização, a inovação, a aeronáutica e a astronáutica, cuja discussão será comandada pelo primeiro-ministro Li Keqiang, procurando um plano para até 2020. Ainda que existam interesses de ambas as partes, os mecanismos atuais terão que ser aperfeiçoados, pois a Europa criou problemas com os painéis solares da China, e esta retaliou com investigações sobre o dumping com vinhos da Comunidade Europeia. Os chineses solicitam maiores facilidades para que possam fazer investimentos na Europa. Os parceiros procuram quais os papéis que podem desenvolver num longo prazo.

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Herman Van Rompuy, Xi Jinping e Jose Manoel Barroso. Foto: Xinhua

A China tem plena consciência que, para continuar se desenvolvendo com as reformas que pretende fazer, precisa contar também com o intercâmbio com o exterior, e a Comunidade Europeia vem intensificando os entendimentos com os Estados Unidos, procurando estabelecer um tratado de livre comércio no Atlântico Norte. Mas todos os asiáticos procuram contrabalancear com acordos de cooperação com os europeus, não somente a China como o Japão. Os acordos com regiões ou países devem se somar e não impedir que os intercâmbios no mundo fiquem estagnados.

Todos sabem que a China, mesmo com seus problemas, tem um grande potencial com a sua gigantesca população, a que se somam os chineses que se espalharam pelo mundo no seu processo de diáspora, semelhante com o povo judaico. Eles participam da elite empresarial na Europa, nos Estados Unidos, e nos vizinhos países da Ásia, não podendo ser subestimados nas suas influências para ajudarem a China.

Josef Joffe é o editor do semanário alemão Die Zeit e membro docente da Universidade de Stanford, e estudou e visitou a China para preparo do seu livro sobre os Estados Unidos e sua liderança. Ele expressou suas opiniões ao entrevistador da Harvard Business Review que a China seria outro “fast riser” (tradução livre, navalha rápida) como a Alemanha, o Japão e outros tigres asiáticos.

Por mais impressionante que seja o desenvolvimento recente da China, ela cairia na armadilha da renda média, ou seja, por efeito dos rendimentos decrescentes passaria a reduzir o ritmo do seu crescimento, não podendo contestar a hegemonia dos Estados Unidos, notadamente porque não conta com um regime democrático consolidado. Este determinismo é duvidoso.

Segundo ele, havia uma estranha cultura comum em todos os países de três ou quatro princípios semelhantes: excesso de investimentos, que teria como contrapartida o excesso de poupanças; uma agressiva exportação; um subconsumo e uma moeda desvalorizada. No início, teriam taxas de crescimentos superiores a 8%, mas que baixariam depois. Na China, já teria baixado de 12% para 7%.

Como os tamanhos das populações são diferentes, poderia se chegar a uma economia de maior dimensão, mas a renda per capita seria menor. Os Estados Unidos estariam com uma população mais jovem, só perdendo para a Índia, por admitir a imigração, que na realidade passa por algumas restrições. Na China, o envelhecimento de sua população criaria problemas.

Cingapura seria uma exceção por se tratar de um país minúsculo, e seria como comparar Xangai com Palo Alto, Bethesda ou Cambridge. Segundo o entrevistado, nem a democracia nem o autoritarismo seriam bons para o crescimento. Segundo Josef Joffe, os que estão no poder na China continuarão tentando permanecer com o controle, como ocorreu na Revolução Cultural ou em Tiananmen. Para manter o desenvolvimento, teria que admitir a liberdade de expressão e a liberdade para a pesquisa, havendo necessidade de repensar o sistema de partido único. Mas ele evita projeções para o futuro. Mas o entrevistado admite que a China não tenha a característica de um poder revolucionário, mas revisionista. Ele acha que a demografia é a força do futuro e mais que o controle do carvão mineral ou petróleo.

O que se poderia comentar sobre estas observações é que também os Estados Unidos estão profundamente divididos, basicamente entre democratas e republicanos, não havendo um claro consenso sobre nada. A imigração estaria sofrendo restrições e haveria que se considerar a longa história da China, além da diáspora de parte de sua população para todos os lugares relevantes do mundo, com lideranças treinadas internacionalmente. Havendo uma capacidade chinesa de revisões constantes, com o poder transitando de tempos em tempos para grupos diferentes, mas procurando um mínimo de consenso, pode ser que eles cheguem bem acima do esperado, enquanto os Estados Unidos continua reduzindo o seu poder em escala mundial.

Como o próprio entrevistado admitiu, também o regime democrático, talvez por outras razões, apresenta suas dificuldades de manutenção de uma alta taxa de crescimento, notadamente quando os gastos de segurança extravasam os limites do razoável. Na realidade, parece que está havendo um processo de maior descentralização do poder em escala mundial.



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