Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

A Dura Realidade Para os Japoneses Com os Chineses

22 de janeiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política | Tags: , , , | 4 Comentários »

Apesar das esperanças despertadas pela Abeconomics, é preciso constatar a dura realidade que os profundos problemas japoneses não podem ser resolvidos somente por medidas monetárias e creditícias. As restrições objetivas continuam existindo, havendo dúvidas internas que exigem resultados persistentes, ao mesmo tempo em que a economia mundial ajude a manter o Japão competitivo, sem criar novos problemas como os com seus vizinhos, que em nada ajudam na solução dos seus graves problemas. A revista The Economist elabora algumas alternativas sobre as disputas das ilhas com a China e o que poderia ocorrer nos casos extremos, como a ocupação das mesmas por tropas chinesas. Qual seria a reação possível dos japoneses, sem o respaldo dos Estados Unidos?

Uma coisa é evitar barcos pesqueiros ou outras pequenas embarcações nas proximidades das ilhas inabitadas Senkaku / Daioyu. Outra é enfrentar um desembarque de tropas chinesas nestas ilhas que pode ser feita pelo ar ou com submarinos. Os norte-americanos não pretendem entrar em conflitos militares com os chineses e tudo indica que os japoneses não contam com os recursos necessários para desalojarem os chineses, numa hipótese desta natureza. Há dúvidas sobre a capacidade das Forças de Autodefesa do Japão sem que isto vire um incidente militar de maior gravidade, segundo a revista The Economist.

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Ilhas Senkaku e Santuário Yasukuni

A sombra da Segunda Guerra Mundial alimenta a desconfiança dos vizinhos dos japoneses sobre a possibilidade deles abandonarem o pacifismo que ficou consagrado na Constituição do Japão. Ainda que tenham que cuidar de forma independente dos seus interesses, sem dependerem dos norte-americanos, qualquer alteração na situação presente acaba alimentando hipóteses desta natureza, em nada facilitando as relações tensas que existem no Extremo Oriente.

Todos sabem que os japoneses estão procurando explicar suas posições relacionadas às visitas das autoridades ao templo Yasukuni, onde também estão enterrados os restos mortais dos criminosos de guerra, além de outros considerados heróis pelos japoneses. Inclusive para seus aliados como os norte-americanos, e parece que também os europeus não parecem satisfeitos com os aumentos das tensões, quando o mundo tenta a sua recuperação econômica.

A revista The Economist acaba fazendo um paralelo com a possibilidade da Angela Merkel pagar respeito a um monumento que exaltariam as figuras do Terceiro Reich, que é uma comparação quase chocante.

Sempre existiram manifestações nacionalistas no Japão, mas agora as autoridades que estão no governo também parecem alimentar seus desejos de afirmações mais fortes neste sentido, procurando aglutinar a opinião pública, que acaba tendo opiniões dividas.

Os norte-americanos, segundo o artigo do The Economist, possuem 16 bases militares no Japão e oferecem o guarda-chuva com armamentos nucleares, que acabam sendo motivos de atritos com a população local, como acontece agora em Okinawa, cujas eleições locais resultaram na escolha de políticos hostis às intenções de Tóquio.

Todo este quadro não facilita o governo de Shinzo Abe, que imaginou que o TPP – TransPacific Partnership fosse um dos mecanismos para consolidar a sua recuperação econômica. Como se orgulho japonês também fosse possível de melhor aglutinar os interesses da economia japonesa. Mas parece que as confusões estão aumentando, em nada facilitando a recuperação da economia japonesa, que contribuiria com as incipientes melhoras nos Estados Unidos e outras partes do mundo.


4 Comentários para “A Dura Realidade Para os Japoneses Com os Chineses”

  1. Yoshiya Kusamura
    1  escreveu às 01:04 em 23 de janeiro de 2014:

    Totalmente contrário. Disputa em torno das ilhas Senkaku veio à calhar para reacender o nacionalismo japonês. O governo conquista créditos no cenário político para cada provocação da China. O atual sucesso da Abeconomics deve-se muito aos atritos com a China e a Corea. O PCC está entrando no jogo de Tóquio feito um idiota. E lembrando, a China não tem menor chance num eventual conflito, mesmo com a ausência dos EUA num apoio estratégico. A incompetência dos militares chineses é bem conhecido na região. Como uma Marinha que só consegue dar 100 horas de treinamento anual para seus pilotos de caça pode querer alguma coisa contra a JSDF que muitos especialistas consideram como a segunda melhor do mundo?

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 17:06 em 23 de janeiro de 2014:

    Caro Yoshiya Kusamura,

    Pelo visto V. tem uma opinião dogmática, pois não corresponde a muitos comentários encontrados na imprensa japonesa, inclusive o Nikkei, tanto que as autoridades japonesas procuram explicar o que todos sabem no exterior. O Abeconomics não é um sucesso, a não ser de curto prazo, tanto que reformas são indispensáveis como Shinzo Abe expressa em Davos. Sem o respaldo internacional, nenhum país isoladamente tem condições para sair da atual situação que exige a ativação de sua economia, no mundo globalizado. Muitos se perguntam se os Estados Unidos e a Coreia do Sul estão apoiando mais a China que o Japão, que não pode ser descartado, apesar de sua extrema direita. Também na Europa tendências extremadas como comparados com o Tea Party estão surgindo, em nada ajudando na recuperação mundial e dificultando a migração internacional. O Japão enfrenta uma difícil situação de redução de sua população e com o envelhecimento dela. Necessita contar com recurso humanos adicionais, está recebendo muitos imigrantes de outros países asiáticos, e mesmo assim não consegue reverter a situação demográfica.

    Paulo Yokota

  3. Akira Kikuta
    3  escreveu às 05:02 em 24 de janeiro de 2014:

    Eu acompanhei desde do inicio em 2010 a escala de tensões sobre as ilhas entre a China e Japão.

    Em primeiro lugar quem começou a colocar suas manguinhas de fora foram os chineses, na época o Primeiro Ministro japones era o Naoto Kan e ele defendia ideais como uma aproximação do Japão com a Coreia do Sul e China e um distanciamento do EUA.

    Após a crise financeira de 2008 o PDJ estreitou seus laços com a China criando uma dependência perigosa onde o adversários (China e Coreia do Sul) não perderam tempo em virar a balança para o seu lados. o governo do PDJ foi uns dos piores da historia do Japão.

    Hoje os dois exigem que o Japão peça desculpas, e aceite as reivindicações deles para poder reatar os laços diplomáticos.

    Situação criada pelo governo anterior e bem aproveitada pelos rivais, o Abe esta apenas esta tentando reverter o quadro como sempre foi antigamente ou seja relações de igual para igual, não abrindo as pernas como no governo anterior, que prometeu somente absurdos e não cumpriu nem 30% do que prometeu.

    Um exemplo o PDJ aumentou os valores de bolsas esmolas, o que aconteceu?

    Hoje o governo esta com o problema de mais de 2 milhões de japoneses vivendo com auxilio financeiro governamental, a esmola era tão boa que compensa viver com auxilio dela do que trabalhar.

    O governo anterior estava agindo de forma parecida com a do Brasil em relação ao Paraguai, Bolívia, Equador, ou seja, aceita e engole tudo o que eles pedem, e eles se acostumaram em montar encima. Rever este quadro vai ser muito complicado.

    Os japoneses poderiam resolver muitos de seus problemas demográficos com um política de imigração, mas a população japonesa é contra a estrangeiros principalmente por causa do aumento de criminalidade.

    O Japão está recebendo muitos imigrantes de outros países asiáticos mas eles são tratados como estrangeiros, não existe uma integração verdadeira com a sociedade japonesa por isto dificilmente alguma coisa ira mudar.

    No artigo se critica o TPP mas ele nem foi aprovado ainda e seus resultados começaram a ser vistos talvez somente na próxima década. Na verdade o imposto único tinha que subir a 20% no Japão para colocar as finanças em dia.

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 16:05 em 25 de janeiro de 2014:

    Caro Akira Kikuta,

    Obrigado pelos seus comentários. Acredito que os problemas com os chineses e coreanos remontam o início do século XX, quando os japoneses promoveram guerras com eles, ainda que tenham herdado parte importante da sua cultura daqueles países.
    A experiência com o DPJ parece não ter sido boa, mas decorreu de um longo domínio do PLD que não contou mais com o suporte dos eleitores japoneses. Não acredito que seja adequado que países vizinhos sejam considerados adversários no atual mundo globalizado, onde todos dependemos dos outros também.
    A tendência é a formação de blocos regionais em todo o mundo, não fazendo mais sentido que nenhum país tenda a viver isolado.
    Ainda que existam dificuldades na integração de imigrantes, países cuja população passaram a decrescer e conta com um número elevado de idosos necessitam efetuar esforços neste sentido, se não desejam enfrentar dificuldades adicionais.
    Acredito que Shinzo Abe está tentando algumas alternativas, mas a Abeconomics ainda está na sua primeira flecha, necessitando de reformas e da TPP para se recuperar.

    Paulo Yokota


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