Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Minha Cidade de São Paulo de 460 Anos

19 de janeiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: , , ,

Sou paulista e paulistano com muito orgulho, nascido nesta metrópole amada e odiada, antes da Segunda Guerra Mundial na hoje mal aproveitada Maternidade de São Paulo no bairro de Cerqueira César, perto da Avenida Paulista. Nesta assustadora e encantadora cidade, passei a maior parte de minha vida. Minha infância está ligada ao bairro da Liberdade até o atual Centrão, como a Praça da Sé e a Praça João Mendes. Na adolescência, estendeu-se à área do Pátio do Colégio, onde nasceu a cidade, da região do Mercado Municipal até a Praça da República. Os que conhecem São Paulo historicamente desde do tempo em que era uma simples cidade relatam que antes da imigração seus contornos mal iam até o Vale do Anhangabaú, o que está fartamente documentado. Tínhamos um conhecido que tinha um sítio junto ao riacho que vinha do atual MASP – Museu de Arte de São Paulo para seguir pelo Anhangabaú, hoje canalizado.

Nos tempos da Semana Modernista de 1922, sua parte nobre já se estendia pelos Campos Elíseos, Avenida Angélica, mal chegando a Avenida Paulista. Nas cartas de Massaki Udihara, o único oficial Nikkei da FEB – Força Expedicionária Brasileira, da Itália para sua noiva Maria, relatam seus passeios de antes da Guerra por São Paulo de então, como pela Rua Direita e o Mercado Municipal. No suplemento Ilustríssima da Folha de S.Paulo publica-se um roteiro da cidade com Paulo Bonfim, com citações desde o Parque da Luz no Bom Retiro, passando pela Barra Funda, Santa Cecília, Santa Efigênia, chegando-se ao Bexiga e ao Cambuci.

O que mais impressiona nesta metrópole é esta dinâmica mobilidade do seu Centro, que passou do núcleo inicial para a Paulista, estende hoje pela Faria Lima. Conta hoje com muitos centros, pois não há como contar somente com um, quando no passado Santa Amaro, Pinheiros, Penha e muitos outros eram outras cidades independentes. Não se consegue acompanhar o que acontece nas suas periferias todas do leste, oeste, norte e sul, que têm suas características próprias crescendo mais do que os seus diversos centros. A ascensão social da nova classe média é marcante nesta periferia.

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Sempre haverá os saudosistas que lembrarão que se podia circular pela Praça da Sé, Rua Direita sem nenhum risco. Lembro-me, como jovem bancário, de que eu ia a pé com uma maleta com muito numerário, de próximo do Largo São Francisco até a Tesouraria do Banco do Brasil, em frente ao Edifício Martinelli, passando por toda a área bancária sequer com um segurança.

São Paulo tinha bondes que vinham com seus estribos lotados, e quando havia greves, a cavalaria assustava até as simples crianças que mesmo nos primeiros anos do primário percorriam grandes distâncias de suas residências para as escolas, sem um acompanhante. Eu tinha uns parentes que tinham um sítio no Morumbi, e pegávamos um bonde chamado “camarão” para ir até o Brooklin, onde seguíamos de carroça pela atual Avenida que leva o nome do bairro.

São Paulo ficou com marcas do seu Quarto Centenário, como o Parque Ibirapuera, que serviu como oportunidade para reduzir a divisão dentro da comunidade Nikkei, que estava dividida entre os que acreditavam que o Japão não tinha perdido a Guerra e os que aceleravam a sua integração na sociedade maior.

São Paulo, popular foi cantado por Paulo Vanzolini, como a esquina da São João com Ipiranga, e Adoniran Barbosa, muitas vezes com licenças poéticas sobre os seus personagens como localidades. Os passeios dominicais usavam o trem da Cantareira para chegar ao Horto Florestal, passando por Tucuruvi, mas ficava longe de Jaçanã.

São Paulo recebeu e continua recebendo imigrantes de outras partes do Brasil como de todo o mundo. É ainda uma cidade em consolidação, que vem desde a contribuição dos indígenas que receberam de José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, como de João Ramalho, como de outros povos. Sua marca mais forte é esta sua miscigenação étnica e cultural, que proporciona a base da sua criatividade e dinamismo.

Quando a Universidade de São Paulo criava o seu campus, muitas de suas unidades ainda estavam espalhadas pela cidade. A região do Butantã aparentava ser muito longe, com dificuldades para o deslocamento para lá. Hoje, os limites da metrópole vão bem mais longe, muito além do campus que acabou ficando quase no seu centro.

Enfrenta suas crises de crescimento bem como aspirações pela ampliação de sua participação democrática. Muitas vezes, mais do que pode, com as limitações dos recursos com que conta, de forma pouco ordenada sem uma visão desejável de longo prazo, com um plano diretor sério.

Mas procura ser pragmático, com sua capacidade de improvisação, ainda que muito mais pudesse ser feito, com um mínimo de eficiência e redução dos seus desperdícios. Mesmo os que frequentam grandes metrópoles pelo mundo, admitem a sua ampla diversidade com elevada capacidade hospitaleira do povo brasileiro.

Depois de 460 anos de vida, parece que já é hora de definir a sua essência como metrópole, consolidando uma cultura própria com o que tem de melhor, não permitindo que eventuais problemas venham a arranhar sua longa e bela história.

Sua importância econômica já foi diluída, hoje têm fortes marcas culturais e centro de geração de novos conhecimentos e serviços, com uma forte aspiração de parte importante de sua população pelos instrumentos que permitem a ascensão social da população brasileira.



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