Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Os Problemas Atuais dos Emergentes e do Brasil

4 de fevereiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: , , ,

Duas apresentações magistrais esclarecem de forma simples os problemas de países emergentes, notadamente do Brasil, diante do quadro atual de acentuado nervosismo na economia mundial. Luis Stuhlberger, considerado um dos melhores operadores de fundos, atualmente no Credit Suisse-Hedging Griffo que administra fundos de RS$ 20 bilhões no Brasil, esclarece as responsabilidades pela atual crise numa entrevista concedida à Mariana Carneiro da Folha de S.Paulo. Para ele, não se trata da política do FED – Sistema Federal de Reservas, o Banco Central dos Estados Unidos, nem da redução do crescimento da China, pois quando o dinheiro estava fácil no mundo e o clima favorável, os países emergentes, inclusive o Brasil, não efetuaram as reformas que eram necessárias.

Outro esclarecimento é fornecido pela coluna do professor Delfim Netto no Valor Econômico mostrando Janet Yellen, hoje presidente do FED, mas já membro do Fomc – o Copom dos EUA em 2002, explicando as suas relações com os países emergentes. Os norte-americanos cuidam de sua economia, que, por ser importante no mundo, acaba provocando facilidades e dificuldades no resto do mundo. Mas caberia aos emergentes cuidarem de suas economias, o que nem sempre fazem quando o clima é favorável, para sofrerem quando as dificuldades se acumulam.

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Prédio do do FED em Washington e do Great Hall of People em Beijing

Os países emergentes e o Brasil, quando contavam com a economia mundial em crescimento, não efetuaram as reformas indispensáveis. O Brasil, por exemplo, foi beneficiado pelos preços elevados de suas commodities agrícolas como dos minérios, imaginando que o seu setor exportador era eficiente, mesmo com a valorização sucessiva de sua moeda. No entanto, as importações dos produtos industriais vinham crescendo de forma desordenada, enquanto a expansão do mercado interno não podia contar com produtos manufaturados produzidos no Brasil. Isto veio ocorrendo desde o Plano Real que enfatizou a estabilidade monetária, sem que estimulasse o setor industrial que já contava com uma estrutura sofisticada considerada o nível de renda do país.

Agora, reclama-se da falta de competitividade, culpando-se o custo Brasil, as elevadas tributações e juros, infraestrutura deficiente e todas as demais mazelas que foram ampliadas com a falta de investimentos que preservassem as inovações que proporcionam aumento da produtividade. A exceção foi o setor agropecuário que veio sustentando a economia brasileira.

Quando os norte-americanos provocaram a chamada easing monetary policy inundando o mundo de dólares e créditos, desvalorizando sua moeda, os países emergentes não foram capazes de tomar medidas compensatórias, acabando por sofrer valorizações nos seus câmbios, que agravaram as situações como as brasileiras.

Uma possibilidade era controlar o ingresso exagerado de recursos externos que vinham aproveitar os juros relativamente elevados dos países emergentes como o Brasil. Mas há que se compreender que esta regulamentação é difícil, com todo o sistema financeiro mundial rejeitando qualquer restrição desta natureza.

Agora, quando os investidores estrangeiros perseguem a manutenção de elevadas rentabilidades em moedas estrangeiras nas suas aplicações como no Brasil, como no passado, quando a bolsa registra recentemente uma lamentável performance, com o governo provocando prejuízos no setor petroleiro, energia elétrica, além de o próprio mercado ter um comportamento de manada aceitando projetos privados que só existiam no papel, de duvidosas viabilidades econômicas. Com os atuais prejuízos, é difícil que estes fluxos voltem a ser retomados, salvo com a melhoria de comunicação com as autoridades, além da transparência dos dados e estabilidade das regras das parcerias público-privadas.

Isto que acontece no Brasil com variações locais acontecem também em outros países emergentes, ainda que muitos já tenham regras mais liberais definidas. No entanto, há que se considerarem também as evoluções políticas que estão se processando, num mundo onde a solidariedade está se reduzindo, com cada um cuidando de si.

Os novos “queridinhos” que aparecem no mundo emergente precisam ser considerados com cautela, mostrando que, além das condições e regras econômicas, também conquistaram a consolidação política que se torna estável na medida em que os benefícios do desenvolvimento estejam beneficiando suas massas de eleitores, que aspiram por condições melhores de vida.



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